Vozes na Cabeça

Durante um pequeno seminário de “Ciências” na sétima série, o meu grupo ficou encarregado de falar sobre o Sistema Nervoso. Para isso, elaboramos uma espécie de boneco feito com garrafas pets e fios de eletricidade que de alguma forma representariam o que nós queríamos. O boneco ficou extremamente estranho e nós o apelidamos de “Esquizofrênico”. 

No entanto, o detalhe que me faz me lembrar dessa história é outro. No meu grupo estava um cara, que só estudou no colégio naquele ano e que tinha um nome duplo meio canastrão moderno, acho que Victor David. Ele era daqueles meninos que faziam sucessos com as meninas e o pouco que me lembro dele é que ele era absolutamente detestável. Não sei por que eu estava nesse grupo, mas isso só me faz ter ainda menos orgulho desse período da minha vida. Pois, esse cidadão não era capaz de falar esquizofrênico e apresentou o boneco como “Esquilo frênico”. Aliás, ele repetiu o termo várias vezes e ainda perguntava “como é que diz, esquilo frênico?” e não haviam correções suficientes para mudar seu comportamento.

Pois bem, vamos falar de esquizofrenia. É uma palavra até certo ponto popular e nós a usamos para nos referir a qualquer publicitário de suspensórios, cidadãos com pochetes ou que passam o dia inteiro afiando uma faca para cortar um peixe que nunca será pescado. Pessoas que utilizam incorretamente o termo “literalmente” devem até se referir a um cidadão de chapéu florescente como “literalmente esquizofrênico”. Bobagem. Cidadãos literalmente esquizofrênicos escutam vozes, tem alucinações, falam palavras inteligíveis e podem passar o dia inteiro olhando para uma parede.

Dentre todos esses sintomas, o fato de escutar vozes dentro da cabeça é sem dúvida o mais interessante e o mais associado a loucura. Quando essas vozes começam? Qual é o seu timbre? O que elas dizem? Muitas perguntas que não necessariamente serão respondidas neste texto.

Fui encontrar o professor colombiano Alfredo Humoyhuessos atrás de algumas informações sobre o assunto. De imediato, rejeitei qualquer bebida oferecida por ele e ele me citou alguns casos estranhos.

O sueco Sven Bjornsson foi diagnosticado com esquizofrenia em 1967 quando relatou que escutava uma voz falando em espanhol no seu ouvido 24 horas por dia e ele sequer sabia falar espanhol. Sven também dizia enxergar uma mulher de 1,48 m que fazia um omelete péssimo. Depois, descobriram que era a sogra dele e Bjornsson faria de tudo para se livrar dela.

Em 1943 o colombiano Marco Varicella passou a escutar a voz do cantor Chacrinha na sua cabeça, narrando os jogos do campeonato colombiano no ritmo da música Believe da Cher. O fato de Cher não ser sequer nascida na época deixou este caso ainda mais misterioso. Varicella não resistiu e tentou cometer suicídio três meses depois disso, se jogando do alto de uma ponte em Bogotá. A ponte não era muito alta e ele só morreu porque não sabia nadar.

No começo de 2011 o município de Oliveira do Hospital entrou em pânico quando o adolescente Rolando Coimbra passou a gritar no meio da rua dizendo que uma voz demoníaca estava dentro da sua cabeça. O caso só foi solucionado quando a bateria do seu iPod acabou. Seus fones de ouvido eram tão confortáveis que ele havia se esquecido desse fato. E seus cabelos eram tão espessos que os médicos não chegaram a encontrar seus ouvidos.

O americano Robert Hayes assassinou 48 pessoas no município de Kentucky em 1876. Diante do júri, alegou que vozes o mandaram fazer isso. Os jurados acreditaram que era um bom argumento e como os 48 assassinados eram irlandeses, Hayes foi absolvido. Antes do encerramento da sessão, o réu pediu a palavra e disse que na verdade ele não existia e era apenas uma ilusão coletiva. Todo o público presente acabou sendo internado em um manicômio.

Este post também é uma ilusão.

¹Interessante como no começo de nossas vidas escolares, as matérias tem nomes tão genéricos. “Estudos Sociais” é outra que poderia ser incluída nessa categoria. Aliás, o uso do termo “seminário” é uma incorporação de vocabulário posterior. Na época creio que tenha sido impossível que tivéssemos falado nestes termos.

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