"Festa da democracia" é um termo muito utilizado cada vez que milhares de pessoas se dirigem até zonas eleitorais para escolherem seus representantes políticos. Nos Estados Unidos, a dita maior democracia do mundo, não poderia ser diferente. Só que, nesse caso, é uma festa bem estranha e, sim Renato Russo, com muita gente esquisita.
Digamos que é uma festa com regras difíceis de serem compreendidas. Cada ambiente tem suas próprias especificidades. Na churrasqueira só se pode beber cerveja em lata e na beira da piscina só cerveja em garrafa. Você leva uma carne para assar, mas os donos da casa podem decidir servir lasanha.
Nos últimos dias você já deve ter acompanhado várias tentativas de explicar como funciona o complexo Sistema Eleitoral Estadunidense. Ouviu falar sobre os Swing States, delegados, dos mais remotos condados do Wisconsin e, enfim, nesse texto o CH3 vai tentar explicar como essa loucura funciona.
Se vocês soubessem como Gabriel Pensador fica quando vê uma bandeira dessa |
O País
Os Estados Unidos são a maior potência econômica e militar do planeta. País que exerce forte domínio político sobre vários outros, com longo histórico intervencionista. Exercem um poder cultural espalhando a música que ouvimos, os filmes que assistimos e vários outros itens que queremos consumir. Um país cheio de dinheiro, mas também cheio de desigualdades.
A pátria do consumo desenfreado praticamente inventou a figura do presidente da República. Aficionados por armas e tiroteios em massa, assim como por frango frito, rosquinhas, pasta de amendoim, filmes com Vin Diesel e estatísticas esportivas loucas que só eles entendem.
Sistema Político
Desde meados do século retrasado, há apenas dois partidos nos Estados Unidos: os republicanos e os democratas. Um é de direita, o outro é um pouco mais de direita. Ao longo dos tempos eles se revezam na presidência. Tido como mais à esquerda hoje, os democratas foram os principais defensores da escravidão e do segracionismo no Sul. Há um presidente eleito, assim como deputados e senadores.
Os candidatos
Kamala Harris, atual vice-presidente é a candidata do partido democrata. Cientista política, ex-procuradora da Califórnia e senadora, ela assumiu a candidatura após o atual presidente Joe Biden demonstrar que está com sérios problemas cognitivos.
Já pelo lado republicano, o candidato será Donald Trump. Ex-presidente, empresário e apresentador de TV que sofre de problemas de autoestima referentes ao tamanho do seu pênis.
Sistema Eleitoral
Em praticamente todos os países do mundo os candidatos que recebem mais votos são eleitos. Ou então, os partidos que recebem mais votos ocupam essas posições. Na terra que inventou um sistema métrico absolutamente confuso, as eleições não poderiam ser tão simples assim.
Cada um dos cinquenta estados estadunidenses tem um número de delegados baseado em sua população. A Califórnia, que é o maior de todos, tem 54, enquanto os menores têm três. No total são 538. Quem vence no Estado recebe todos os delegados estaduais, independentemente da vantagem obtida. Ou seja, se um candidato vencer em vários estados com todos os votos, mas perder em outros por apenas um voto, enfim, esse candidato pode perder.
Apenas neste século dois candidatos foram eleitos tendo menos votos que o seu adversário, sendo que um deles, George W. Bush, no ano 2000 venceu por apenas cinco delegados de vantagem, mesmo com 500 mil votos a menos no total, porque na Flórida Bush venceu por 537 votos de vantagem.
Swing States
Se você está letrado nos versos da putaria, já entendeu o que isso significa. São Estados que sempre trocam de parceiros, uma hora estão nos braços de um democrata, em outros sentam no colo de um republicano. Isso não significa que sejam os mesmos estados sempre. A Flórida, sinônimo de Swing State em anos passados, agora já está em um relacionamento sério com os conservadores. Já os estados no entorno dos Grandes Lagos, que eram bastiões democratas, agora estão em um relacionamento aberto.
Levando em conta que o resultado da eleição já é conhecido em uns 40 estados americanos - há aqueles estados rurais, com pessoas bebendo Budweiser na frente da garagem segurando uma espingarda que já definiram que vão votar em Trump, enquanto as zonas mais urbanas votam em Kamala - no fim das contas os Swing States é que definem a eleição. Ou seja, os candidatos só precisam fazer campanha mesmo em sete estados para tentar ganhar.
E se ocorrer um empate?
Bem, como vocês devem ter percebido, a eleição é definida por 538 delegados. Esse número, dividido por dois, dá exatamente 269. Ou seja, há a possibilidade de um empate. E ela não é tão difícil assim.
Se no dia quatro de novembro Kamala Harris vencer os estados de Wisconsin, Michigan e Pennsylvania, e Donald Trump vencer no Arizona, Nevada, Carolina do Norte e Geórgia, além do segundo distrito eleitoral do Nebraska, ocorreria justamente esse empate de 269 votos.
Pode parecer algo improvável, mas para isso acontecer - diante das pesquisas atuais, bastaria Harris vencer na Pennsylvania - a liderança muda toda hora, e Trump virar no tal segundo distrito eleitoral de Nebraska - o que é a coisa mais difícil de acontecer.
Acontecendo o empate, seria feita uma votação pela câmara dos deputados de lá, com cada Estado dando direito a um voto. Um problema que poderia ser evitado, caso os gênios que inventaram esse sistema de Colégio Eleitoral tivessem pensando em um número ímpar de votantes. Mas ninguém pensou nisso, apesar de pensar em muita coisa.
O processo de votação
A votação está marcada para o dia 4 de novembro. No entanto, é possível enviar o voto por correio. Dá para votar de maneira antecipada. É preciso se registrar antes para poder votar - o voto não é obrigatório. Cada estado pode criar regras para que a pessoa possa votar. Geralmente eles fazem de tudo para negros e latinos terem dificuldade no processo e desistam. Tem Estado que o voto é em papel de escrever, em outros é em papel de fazer furinho. Em outros é feito por papéis de cores diferentes. Pode haver urna eletrônica, mas também pode ser que seja preciso acertar com um dardo a foto do seu candidato posicionada a 70 metros de distância.
Joe Biden já votou pelo correio. Ninguém sabe se é porque ele confundiu as datas. |
Apuração
Cada Estado faz do jeito que quer. A apuração é manual e por vezes pode demorar algumas semanas. Se o resultado for muito apertado, o fato é que só vamos saber quem venceu na Geórgia e na Carolina do Norte quando estivermos chegando em dezembro. Os votos por correio por vezes demoram demais para chegar. É uma várzea danada.
Após a leitura desse texto, esperamos que você já esteja suficientemente entendido no assunto, pelo menos o bastante para poder cagar regra em debate merda nas redes sociais, na mesa do bar, ou na fila do café do trabalho.
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