José Luiz Datena é um cidadão aparentemente normal que nasceu no dia 19 de maio de 1967 na cidade de Ribeirão Preto, localizada no interior de São Paulo e conhecida como a Califórnia Brasileira. Comparação que, sim, não faz o menor sentido uma vez que Ribeirão Preto é uma cidade e a Califórnia é um Estado.
Locutor esportivo por formação, desde 1998 Datena ocupa um espaço fixo na grade diária da televisão brasileira apresentando algum programa policial. Em 2003 ele estreou no programa Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes, eternizando o Comandante Hamilton e explorando de forma exacerbada uma centena de crimes que ocorrem diariamente.
Datena é aparentemente um cidadão apaixonado por sua esposa (Matilde) e sua família. Há muitos anos é especulado como um potencial candidato a algum cargo público na cidade ou no Estado de São Paulo. Foi filiado ao PT, depois ao PP, PRP, DEM, MDB, PSL, União Brasil, PSC, PDT, PSB e finalmente o PSDB. Passou por partidos dos mais diversos espectros políticos, como se estivesse em alguma espécie de bingo partidário.
Em 2024, ele finalmente decidiu se candidatar à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB. Sua candidatura pareceu promissora em alguns momentos, mas ficou sempre patinando abaixo dos dois dígitos nas pesquisas eleitorais.
Até que no dia 15 de setembro de 2024, José Luiz Datena disse não. Como se ele fosse o macaco Cesar.
Durante um debate televisivo promovido pela TV Cultura, Datena acertou uma cadeirada em Pablo Marçal, candidato coach de piroca que flerta com a extrema direita e qualquer ideia que valha um corte para as redes sociais.
A cena já está entre os grandes momentos da história brasileira. Enquanto um surpreso Guilherme Boulos dizia "Não Datena", o apresentador de TV sexagenário pegava uma banqueta e a batia com média violência sobre o corpo do coach. Sabemos hoje que, mesmo de maneira precária, a cadeirada ajudou Marçal a ficar de fora do segundo turno da eleição paulistana. Se amanhã não estaremos vendo o cidadão vestir a faixa de prefeito, é porque em um certo dia intranquilo, um certo Datena lhe enfiou a cadeira.
Pois bem, no futuro talvez iremos reconhecer esse momento histórico como o último ato de resistência contra a proliferação dos coachs. De certa forma, Datena pode ter sido o último a tentar interromper este ato. No ano de 2038 quando um coach quântico assumir a presidência da república e nomear Coachs de Fazenda, Educação e Saúde para cargos estratégicos, nós iremos nos lembrar com saudade de quando a banqueta comeu em um estúdio da TV Cultura.
2024, é claro, não foi só isso. Tivemos trágicas enchentes no Rio Grande do Sul, as esta era uma tragédia anunciada. Shows na praia, conflitos de celebridades e outros comezinhos que em breve serão esquecidos. Tivemos Olimpíadas e, por mais que a rivalidade entre Rebeca e Simone Biles seja especial, provavelmente não é algo inédito.
Donald Trump voltou a vencer a eleição para a presidência dos EUA, mas todos nós já esperávamos isso. E como diria Marx há uns 300 anos: a história sempre se repete como farsa.
O que fica para 2024 é uma cadeirada. Preparem suas cadeiras, porque a luta vai ser longa.
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