Situações limite em confraternizações de fim de ano

Os modernos condomínios construídos nas principais cidades do Brasil trabalham com a ideia de oferecer todo o lazer necessário para a subsistência do cidadão. Mesmo os conjuntos habitacionais mais populares oferecem uma área de convivência e conforme o valor vai subindo os espaços ganham piscinas, quadras esportivas, salão de festas, quadra de tênis, academia de ginástica, espaço gourmet, brinquedoteca, campo de golfe e sala simuladora de gravidade zero.

Vamos nos concentrar, no entanto, nos salões de festa, quiosques e outros espaços que proporcionam a convivência de pessoas em torno de um prato de comida. Condomínios mais simples tem apenas um salão de festas, enquanto os mais abastados oferecem uma profusão destes espaços, com nomes variados. Temos o Salão de Festas 1, o Salão 2, Quiosque 1, 2 e 3, Espaço Gourmet, Churrasqueira, Churrasqueira Gourmet, Varanda Suspensa e por aí vai.

Muitos destes espaços acabam por ficar subutilizados ao longo do ano, uma vez que ninguém tem tanta disposição de organizar festas repetidamente até novembro. Mas, quando chegamos no mês de dezembro tudo se transforma. As festas de fim de ano proporcionam uma enorme corrida em busca de espaços disponíveis para reunir os colegas de trabalho, as famosas festas da firma. O fato de o nível de desemprego ser o menor em 11 anos contribui para isso. É muita gente precisando confraternizar, muita gente levando cerveja ruim e quente para beber a cerveja gelada dos colegas, muito amigo oculto sendo organizado com muita gente avisando que não tem tanta afinidade assim com a pessoa cujo nome, malditamente, estava escrito no papel que foi parar de forma aleatória em sua mão.

Algumas festas são mais simples, para grupos de menos de 10 pessoas que se toleram diariamente em um pequeno espaço de trabalho. No entanto, muitas pessoas trabalham em grandes empresas - pequenos negócios. São festas para mais de 40 pessoas, às vezes mais de 50 pessoas, 100 pessoas, uma micareta fora de época reunindo setores tão diversos, que acabam não se interconectando diariamente.

E aí há o desconhecimento.

O cidadão responsável pela TI que muitas vezes trabalha escondido em sua pequena sala, sendo eventualmente chamado para reiniciar impressoras emperradas e corrigir diversos problemas que, acredito, nem ele sabe como ele fez para resolver, enfim, este cidadão vai estar na festa. Onde também estará o pessoal do RH, enfim, os mais diversos setores corporativos reunidos em um lugar. E creia, o cidadão da TI, se bobear, não conhece quase ninguém que vai estar na festa, mas ele precisa ir, sabe como é, recusar um convite para ir em uma festa de confraternização da firma é quase como negar Cristo. Três vezes.

Caso você tenha chegado até aqui deve estar se perguntando: tudo bem, mas qual é a relação disso tudo com os espaços gourmets e demais áreas de convivência festivas condominiais citadas no início do texto? É justamente isso o que eu explico agora.

Há condomínios que distribuem suas áreas gourmets ao longo de todo espaço disponível. Há um em cada andar térreo de cada uma das torres construídas. Um em cada canto do espaço. Mas, muitos outros criam uma espécie de vila da convivência, distribuindo salas, quiosques, salões e etcs um ao lado do outro. Você chega lá e tem cinco salões separados por poucos metros.

Justamente nessa época de fim de ano é comum encontrar todos esses salões ocupados. Ao ir em uma festa em um desses salões é preciso descobrir qual é a sua festa. E isso pode ser muito difícil quando você conhece pouca gente do seu trabalho.

Ninguém vai admitir, mas muita gente está indo em festa errada nesse fim de ano. Você chega lá no condomínio, encontra a área de salões, dá uma olhada e encontra um rosto conhecido. A pessoa te reconhece também. Vocês se cumprimentam e a pessoa pede que você fique à vontade. Você se senta e pega uma cerveja. Começa a olhar e vê que não conhece mais ninguém. Não tem certeza nem se conhece a pessoa que te cumprimentou. Hoje em dia, com a proliferação de procedimentos estéticos, todo mundo está ficando com um rosto meio parecido. Na verdade esse cara costuma fazer a academia no mesmo horário que você e é por isso que vocês se reconheceram.


O que fazer nesse momento? Simplesmente levantar e ir embora procurar a sua festa? Fingir que vai ao banheiro pode ser uma solução. Mas há sempre o medo de ser desmascarado. Pior ainda se você descobrir que o cara da academia também está na festa errada, ele simplesmente encontrou um colega de faculdade nessa confraternização e acabou ficando também porque, enfim, a vida é um grande processo de acomodação.

Logo, podemos ver uma festa de confraternização formada inteiramente por pessoas que não se conhecem, mas que acabaram aleatoriamente ali por fruto das forças do destino. Totais desconhecidos bebendo uma cerveja fornecida por alguém que não sabemos quem é, enquanto estão ausentes nas festas em que deveriam marcar presença.

Bem, talvez não seja tão diferente de uma festa da firma assim.

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