Não é de hoje que carros são grandes vitrines para propagandas políticas. É muito provável que o primeiro adesivo tenha sido inventado justamente para poder ser pregado em um FORD-T anunciando a candidatura de William Howard Taft à Presidência dos Estados Unidos da América.
Aqui no Brasil, nos últimos anos, podemos observar uma profusão de adesivos patrióticos, utilizados pelo cidadão comum para expressar por meio de sua singela Ford Ranger suas preocupações com os rumos da nação e apoio ao atual presidente. Vamos a uma análise sobre alguns dos mais frequentes.
(Para evitar a propagação desse tipo de material, não iremos usar imagens do adesivo. Busque pela memória os adesivos correspondentes)
Foto canastrona, fundo com a bandeira e frase de impacto
Sobre um fundo com a bandeira nacional ou as cores da bandeira, o presidente sorri imaginando um defunto ejaculando enquanto faz o V de Viado ou arminha com a mão, ou apenas olha para cima para disfarçar um peido, feliz porque ninguém percebeu sua flatulência. A imagem é acompanhada por um slogam de cunho motivacional como “vamos continuar com tudo” ou então abertamente fascista “Deus, Família e Propriedade”.
Trata-se da base mais fiel do presidente, aqueles que o enxergam como um amante à moda antiga, um homem simples e representante do povo. Fascistas de bem, que vão na Igreja e choram na comunhão, sempre pedem a benção divina antes de desejar o fuzilamento de outrem.
Iríamos utilizar uma montagem com a foto do presidente sorrindo e os dizeres "Bolsonaro, meu cu é teu", mas o nosso departamento jurídico nos aconselhou que era melhor não fazer isso. |
Voto partidário
Foto em que o presidente aparece surpreendentemente tranquilo, provavelmente em um momento no qual ele estava sob efeito de remédios antipsicóticos. O verde e amarelo são substituídos pelo branco e azul, cores secundárias da nossa bandeira, mas que no caso são as cores do seu partido. É o único adesivo que mostra o número eleitoral do candidato, mostrando uma preocupação com o processo democrático, com o fato de que é necessário gravar a sequência numérica para contabilizar votos ao presidente.
Lunático que gosta de fingir normalidade, que gosta de normalizar o absurdo, típico mau caráter enrustido, que se finge de boa pessoa para ter pensamentos odiosos em silêncio. Você chegaria a convidá-lo para almoçar na sua casa até descobrir esse adesivo.
Rosto
Foto antiga do presidente com sua cara de cão amedrontado reduzida a um alto contraste em branco e preto sobre um fundo verde e amarelo. Parece aquelas fotos antigas de guerrilheiros, uma tentativa de se apropriar de clássicas fotos de Che Guevara ou Marighella.
Este é o adesivo utilizado pelas pessoas que idealizam uma figura messiânica no Jair Messias, que sonham com ele redimindo a pátria, entrando a noite na casa das famílias brasileiras e penetrando todas as mulheres para que todas elas tenham dentro de seus úteros uma sementinha de esperança, no caso um embrião bolsonarista. Esse é o adesivo de quem iria em uma manifestação dar fé pública sobre a capacidade do presidente manter ereções consistentes e suficientes para concretizar um ato sexual. Esse é o adesivo do cidadão que está pronto para pegar em armas e defender as notícias que recebe pelo WhatsApp.
Psicodelia Nacional
O nome de Bolsonaro é grafado com uma fonte estranha sobre um fundo estilizado da bandeira nacional, sem nenhuma proporção com a original. Mais do que uma ideia, falamos aqui de um sentimento. Um sentimento confuso, como todo o bolsonarismo, fruto da falta de um investimento consistente em educação e saúde mental.
Supremo é o Povo
Uma espécie de chilique eternizado e grudado no vidro traseiro de um Toyota. Esse é o adesivo favorito das pessoas que, nos momentos de raiva, gostam de introduzir dois dedos no ânus na expectativa de que dessa forma eles consigam rasgar o seu períneo, em uma automutilação patriótica.
Nossa Bandeira Jamais Será Vermelha
Delirante, os propagadores dessa mensagem vivem em uma espécie de Adeus Lenin ao contrário, em que o cidadão acorda todos os dias mas se recusa a receber notícias sobre a dissolução da União Soviética e a Queda do Muro de Berlim. Para esse cidadão, tudo é fake news e nada o impediu de passar os últimos 30 anos se protegendo da ameaça comunista, contra os sabotadores que estão de prontidão para inserir uma foice e um martelo sobre o nosso Cruzeiro do Sul. Esse adesivo é geralmente usado por pessoas obcecadas com o Foro de São Paulo e que choraram quando souberam que o corpo de Olavo de Carvalho começaria seu processo de decomposição.
Bandeira no capô
O carro deixa de ser uma vitrine e passa a ser uma extensão do seu corpo, todo ele um conjunto bravamente nacionalista, disposto a deixar a bandeira presa noite e dia, acumulando poeira, desbotando, ficando completamente suja e imprestável em uma ótima metáfora do país que esse cidadão gostaria de viver. Freudianamente falando, o carro é uma projeção do próprio pênis do condutor, um órgão rápido e rígido, empunhando as cores nacionais enquanto penetra nas principais avenidas congestionadas desse país.
Bandeirinha afixada na janela
Patriotismo preguiçoso, uma vez que é mais fácil comprar um kit pronto e instalar na janela, aliás, dois kits de bandeirinhas, um em cada porta traseira, do que se dar ao trabalho de esticar a bandeira do Brasil por sobre o capô do carro. Um patriota vibrante que admira o vento chacoalhando as duas hastes, como se fosse uma criança babando diante de uma biruta de aeroporto.
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