O drama de Gabriel Medina eclipsa os Jogos Olímpicos

Vivemos uma situação tão atípica que os Jogos Olímpicos de 2020 começarão amanhã, em pleno 2021, sendo que as disputas já começaram ontem. Quando o relógio marcar 20h em Tóquio, 08h em Brasília e 14h em Adis Abeba, a capital japonesa verá uma cerimônia de abertura olímpica xoxa e esvaziada, devido à pandemia do novo coronavírus. Serão jogos extremamente controversos, adiados, sem público e com um possível cancelamento sempre à espreita. Serão jogos em parte melancólicos, como melancólica tem sido a nossa vida desde o dia em que um cara comeu um morcego contaminado e esse vírus resolveu que se multiplicar em corpos humanos era uma ótima solução de mercado.

No entanto, todo o sofrimento da humanidade estará por um instante eclipsado perante àquele que é o grande drama das Olímpiadas: a solidão de Gabriel Medina. Foi amplamente divulgado nas mídias sociais todo o imbróglio envolvendo o surfista, sua namorada Yasmin Brunet e o Comitê Olímpico Brasileiro. Devido às restrições provocadas pela pandemia, que entre outras coisas impede a entrada de turistas no Japão, o número de acompanhantes dos atletas foi extremamente limitado e reduzido apenas à profissionais técnicos.



Acontece que Medina queria levar Yasmin, alegando que ela era sua companhia e o fazia se sentir bem para competir. No entanto o maior predicado da moça é ser filha da Luiza Brunet e o COB não se mostrou muito sensível a essa causa. De nada adiantou Medina afirmar que sem a filha de Luiza Brunet ao seu lado, ele não estaria 100%. Uma espécie de confissão involuntária de que o surfe, mais do que um esporte, é uma atividade de lazer, o que aumenta ainda mais o estranhamento quanto a sua presença nas Olimpíadas, ainda mais na forma como ele será disputado, com ondas artificiais.

Pois bem, o COI não credenciou Yasmin, deixando a razão e o bom senso falarem mais alto em relação à pura emoção. Como consequência, o menino Medina precisou viajar sozinho para o Japão, em classe econômica, e além de tudo carregou os seus próprios equipamentos. Condenada a ficar no Brasil, Yasmin foi vítima de um golpe de um motoboy e perdeu mais de sete mil reais – golpe do qual ela não seria vítima, caso estivesse a essa altura hospedada em um hotel de luxo em Ginza.

O Brasil não consegue pensar em outra coisa. Creio que os atletas brasileiros possam ser prejudicados. Carregando a bandeira brasileira na cerimônia de abertura, o levantador Bruninho talvez não consiga se concentrar na tarefa e deixe o pavilhão nacional cair no chão porque sua cabeça estará pensando apenas na solidão de Medina, que é seu parça, com quem já tirou inúmeras fotos sem camisa e com quem certamente faz parte de um grupo de WhatsApp chamado diretoria. Durante os jogos, ao olhar para a beira da quadra não verá o rosto de seu pai, nem mesmo do atual técnico Renan, mas sim os tristes olhos de Gabriel Medina.

O mundo não conseguirá prestar atenção aos saltos de Simone Biles na ginástica, porque todos estarão preocupados com os saltos do coração de Medina. O que é a piscina onde Caeleb Dressel vai mergulhar, diante do rio de lágrimas que escorrerá dos olhos do surfistas? Não há corredor que consiga percorrer o tamanho da saudade que ele sentirá.

Solitário na noite japonesa, Medina não poderá nem se consolar com um sushi com cream cheese, tão popular no seu habitat natural da Barra da Tijuca, porque tão intervenção culinária e considerada crime na terra do sol nascente. Esperamos apenas que a famosa velocidade da internet japonesa proporcione momentos enternecedores para o pobre rapaz.

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