Está em todos os veículos de notícias sérios, pelo menos naqueles que seriamente se interessam pelo insólito. Uma startup sediada em Munique, na Alemanha, perdeu a cápsula espacial que transportava 166 urnas funerárias carregadas com cinzas de pessoas cremadas. A cápsula foi perdida no momento em que ela estava reentrando na atmosfera.
Desta forma, as cinzas dos 166 falecidos agora repousam na vastidão do Oceano Pacífico, conforme nota quase humorística escrita pelo CEO de uma das empresas envolvidas no processo.
A notícia ainda traz mais detalhes fascinantes, como o fato de que a cápsula também transportava material vegetal e sementes de cannabis, como parte de um projeto científico que pretendia ver a viabilidade de plantar maconha no planeta Marte. Sim, os maconheiros não tem limites e ao que tudo indica a Guerra às Drogas em breve será um novo episódio de Star Wars.
Mas, o mais surpreendente, sem dúvida, é o fato de que urnas funerárias carregando cinzas são enviadas para o espaço. E depois são trazidas de volta para serem devolvidas às famílias enlutadas. É o detalhe do retorno para casa que verdadeiramente me pegou.
Enviar as cinzas de um parente querido para o espaço custa entre R$ 20 mil e R$ 275 mil. Existem algumas opções de trajeto, desde uma que fica por poucos instantes em um ambiente de gravidade zero até outras que dão duas voltas ao redor do Planeta Terra, chegando ao limite de pousar na lua e repetir os importantes passos de Neil Armstrong.
Antes é claro, de voltarem para casa.
Pensando bem, enviar as cinzas de alguém para o espaço pode até ser um ato bonito. Tem quem queira ser cremado e despejado no Posto 6 de Ipanema, quem queira ser soprado do alto de uma grande montanha ou quem queira que suas cinzas sejam jogadas nas raízes de uma árvore cipreste. Querer ser enviado para o espaço é um desejo interessante.
Ser enviado para a poeira cósmica, onde suas cinzas se dissolverão no infinito, quem sabe um dia serão engolidas por um buraco negro. Tal qual marinheiros que são sepultados no mar, pessoas que gostaram muito do espaço poderiam ser sepultadas por lá. Astrônomos, apaixonadas pelas estrelas ou astronautas. Acho inclusive que deveríamos pensar nessa alternativa para o Astronauta Marcos Pontes o quanto antes.
Mas voltar com as cinzas para a terra não faz sentido nenhum. Qual é a razão de mandar restos cadavéricos queimados para o espaço e depois trazer de volta para sua casa no Alabama? O vovô não vai ficar feliz, pelo simples fato de que ele morreu e essa experiência não dirá nada para ele. Caso haja algum tipo de existência após a morte, ele poderia até dizer "me deixem em paz".
Será possível olhar com orgulho para este grande cinzeiro humano e dizer "já foi para o espaço?". Que orgulho podemos ter de restos cadavéricos que pousaram na lua? Não há exatamente um mérito para isso, há apenas o mérito financeiro de toda sandice que o dinheiro pode bancar.
Só quem pode se orgulhar disso é a gloriosa The Exploration Company, que achou um grande nicho para explorar a insanidade alheia.
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