Guia da Programa Televisiva Infantil, 2ª Edição

Continuação de uma série, ou, as aflições de um pai de criança.

Vera e o Reino do Arco-Íris


O Reino do Arco-Íris é um lugar de paz, harmonia e tranquilidade, onde todos são praticamente obrigados a experimentar a felicidade em sua plenitude. No entanto, o frágil equilíbrio deste reino está sempre ameaçado por situações sobrenaturais. O local é habitado por um conjunto de entidades fantasmagóricas, máquinas falantes, criaturas místicas – nos faz pensar se o Reino do Arco-Íris é uma metáfora para o purgatório, ou apenas uma viagem no ácido – um gato falante e três crianças – provavelmente órfãs, sendo que uma delas, a supracitada Vera, tem que resolver todos os problemas. (Um vulcão falante está machucado, populares exaltados estão atrapalhando o ritual de coito dos pés-grandes, uma substância gosmenta está fazendo com que os habitantes do reino quiquem sem parar).

Aos oito anos, ela tem que pegar carona em uma nuvem sorridente até a árvore dos desejos, onde ela encontra o Zi (outra criança), uma espécie de mestre sayajin, cuja única função é fazer com que Vera e seu gato falante respirem e pensem sobre os problemas e ver a árvore conceder seus desejos. Mais do que sentimentos, os desejos são pequenos seres mágicos, que realizam atividades paranormais e repetem seus nomes aleatoriamente. Esse desenho é uma espécie de Pokémon para meninas.

Para completar a semelhança com os animes, falta um arco narrativo mais dramático em que, sei lá, o gato Bartoby seja possuído por Lúcicer e Vera precise sacrificá-lo com a ajuda dos desejos, ou que talvez os fantasmas invadam a árvore dos desejos e Zi precise oferecer seu corpo em holocausto para trazer a paz ao Reino do Arco-Íris. No fim das contas, a sensação é a de que falta um adulto para botar ordem nesse lugar.

Patrulha Canina

Desenho bolado exclusivamente para vender produtos caros para crianças. O roteiro é praticamente um fetiche infantil: filhotes de cachorros que usam mochila, uniforme, dirigem carros cheios de equipamento e vivem em uma correria desenfreada para resolver pequenos problemas que se abatem sobre a Baía da Aventura.

Os seis filhotes repetem seus bordões, sendo comandados pelo tutor Ryder, que no caso, é uma criança de 10 anos. Sim, é um pouco inacreditável que uma criança e seis filhotes de cachorro tenham que resolver todos os problemas da cidade, mas isso decorre da absoluta falta de consciência civil da sociedade local, aliada a falta de um Ministério Público mais atuante.

A Baía da Aventura é governada pela prefeita Goodway, uma simpática senhora que tudo o que faz é carregar uma galinha de estimação na sua bolsa e chamar a Patrulha Canina para salvar o pequeno animal idiota. Ao longo dos episódios ela dá inequívocas demonstrações de advocacia administrativa, improbidade e fere alguns princípios básicos da administração pública, sendo o maior exemplo disso a estátua da sua galinha de estimação, que ela mandou erguer em frente ao prédio da prefeitura.

Seu grande rival é o prefeito Humdinger, da vizinha Baixo da Névoa. Um cidadão abilolado e aficionado por gatos, que comete uma série de crimes e não sofre nenhuma consequência por isso. Roubo de joias, sequestro de turistas, danos ao patrimônio público e privado, nada disso leva o cidadão a cadeia. Pior, ao que tudo indica ele foi eleito democraticamente, o que é preocupante uma vez que esse cidadão não consegue ser mais inteligente do que uma criança de 10 anos e seis filhotes de cachorro.

Vez por outra a Patrulha Canina é chamada para salvar o próprio prefeito, que está com a vida em risco por conta de algum crime que ele cometeu. Mas nada acontece. De certa forma, a Patrulha Canina guarda algum paralelo com a obra dos Irmãos Coen.

Jacarelvis

Em nossa vã inocência, tendemos a pensar que a imensa maioria dos produtos comercializados ao grande público surgiram de uma enorme pesquisa de mercado, que avaliou as tendências de consumo e identificou as lacunas que poderiam ser exploradas. Mas, como explicar um jacaré de topete (que se parece mais com o Johnny Cash, mas Jacacash seria um péssimo nome) que tudo o que faz é tocar instrumentos musicais e falar blém blém? Criado após o uso de psicoativos, Jacarelvis tem uma série de amigos mal desenhados, encena uns teatrinhos péssimos e muitas vezes inteligíveis e canta algumas músicas ruins, muito ruins. Mesmo assim, ele consegue ser incrivelmente simpático e faz sucesso com as crianças, que geralmente não têm muita noção do ridículo.

Elias, o Barco
Olha só que caras idiotas

Triste, simplesmente triste. É um barco falante com uma cara meio idiota que se envolve em aventurais ainda mais idiotas com outros barcos falantes e incrivelmente idiotas.

O Show da Luna

História de uma menina chamada Luna, que tem um irmão chamado Júpiter (céus) e um bicho, talvez um esquilo, chamado Cláudio. Luna passa os episódios a encher o saco de todo mundo com perguntas que muitas vezes são respondidas apenas no Ensino Médio. “Tudo o que é pergunta, puta que o pariu, a Luna faz” diz o tema da canção, em uma livre adaptação feita por mim. Após descobrir empiricamente assuntos tão complexos como o empuxo, o movimento de translação dos planetas, Luna, seu irmão e o roedor estranho realizam uma apresentação teatral com uma canção, que supostamente deveria ser para ensinar as crianças a memorizarem o complexo assunto, mas, no entanto, as canções são insuportáveis, se assemelhando à fase mais hermética de Arnaldo Antunes em parceria com Carlinhos Brown. 

Flash, o Aventureiro
Saiba onde foram parar os ex-figurantes da TV Colosso
Um cachorro de pelúcia que fica voando em uma nave de papelão e invariavelmente sofre um acidente aéreo, ficando perdido em lugares estranhos, aproveitando para fazer observações antropológicas – com o perdão do assassinato do sentido da antropologia aqui. Ele precisa ser ajudado por uma coruja de pelúcia que permanece o tempo inteiro embasbacada em uma espécie de torre de controle e, sei lá como é que esse programa termina, mas o que realmente chama a atenção é que o boneco de pelúcia parecia estar guardado há séculos no armário, todo empoeirado, só deram uma batidinha nele antes de gravar o programa.

Comentários