Entendendo: A Crise na Grécia

Nos últimos dias a Grécia tem permanecido no noticiário internacional como jamais esteve em toda sua história. Também, pudera: os dias de glória do país mediterrâneo foram em tempos muito distantes, tão distantes que não existia a imprensa, tampouco o conceito de noticiário e os fatos eram propagados em formas de fábulas pouco verídicas que envolvem cavalos ocos de madeira, homens escapando de sereias e derrotando cachorros com múltiplas cabeças responsáveis pela guarda do inferno.

Pois bem, se a Grécia está no noticiário agora não é por conta de alguma lenda urbana, ou de algum mestre da filosofia que propôs alguma brilhante ideia para a existência humana, muito menos pela pederastia destes filósofos. O que coloca a Grécia no centro das discussões humanas é a crise econômica que o país enfrenta. O país deve algo em torno de 300 bilhões de euros. É tanto dinheiro, que você precisaria juntar uma porção de integrantes daquela lista que a Forbes divulga com os homens mais ricos do mundo para agregar esse valor.

Como os gregos chegaram a essa situação?
Pense nos grandes gregos da história. Sócrates, Sófocles, Platão, Aristóteles. Muitos deles foram fundamentais para o desenvolvimento das ciências exatas, mas eles passaram para a eternidade sob a alcunha de “filósofos gregos”. Ou seja, eles são povo de humanas. Essa tradição passou para as futuras gerações e o que nós vemos na Grécia é o que acontece por um país administrado por povo de humanas.

Nos últimos dez anos, os gregos gastaram muito mais do que deveriam e foram se endividando. Acontece com todo mundo, que quer fazer aquela reforma em casa e estoura o cartão de crédito. Só que dentro de um orçamento de um país, o rombo é enorme. Junte-se a isso a questão do Euro. Uma moeda unificada pode ser interessante para os turistas e para a ideia de unidade continental, mas pode ser um grande problema para um país com economia mais fraca. Países com economias fracas costumam a ter moedas fracas, para conseguir competir no mercado internacional. Um país com economia fraca e uma moeda forte toma no cu.

Por que a Grécia chama tanto a atenção dos investidores internacionais?
Porque investidores internacionais não tem muito o quê fazer além de especular no mercado para ter algum lucro com a tragédia de outros. Outros países europeus também estão com dívidas enormes, incluindo as tradicionais Grã Bretanha e Itália. Espanha, Irlanda, Portugal e tantos outros também não passam por uma situação tranquila.

A diferença é que a Grécia não tem nenhuma tradição no futebol. Exceção feita aquele esquisito título na Eurocopa de 2004 - a última vez em que a Grécia apareceu na televisão, os gregos muito pouco tem feito pelo esporte bretão. Entre outras coisas, porque apresentam um estilo de futebol pouco atrativo, privilegiando soldados espartanos no trato com a bola e aquele Karagounis, que não joga nada e ainda é o melhor jogador do time, mesmo com 49 anos.

O que a Grécia pode fazer? Há solução para a crise? O que o povo grego acha disso tudo?
Os países europeus propõe uma série de medidas restritivas para os gregos. Encabeçados pela Alemanha, eles querem que a Grécia corte os gastos com sobremesas, faça pesquisa de preços no supermercado antes de fazer as compras e adotem medidas de economia, que vão desde banhos mais rápidos, utilizar a frente e o verso da camisinha, até descer as ladeiras com o carro desligado.

Há uma grande contradição sobre o que o povo grego acha desse acordo. Qual é o limite da humilhação que os gregos podem sofrer com esse acordo? Para algumas pessoas, o simples fato de a Grécia ter que se submeter ao interesse internacional já é um motivo de humilhação, ainda mais pelo fato de que os atuais governantes gregos são da extrema-esquerda. Outros discordam e acham que humilhação seria abrir mão do título europeu de 2004, ou ceder o patrimônio intelectual de Aristóteles para os alemães, ou alguma contrapartida que exigisse que todos os dias os gregos enfiassem espanadores de sujeira no cu e gritassem “Viva o FMI” e postassem vídeos do ato em seus Facebooks.

Bem, o que interessa é que o parlamento grego aprovou o acordo e todas as suas nuances. E imagino que o Facebook na Grécia deve estar insuportável.

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