Sintomas do Fim do Mundo (4)


Do pó vieste, ao pó retornaras

Em um tempo distante, na época em que as pessoas ainda falavam latim por convenção, um célebre anônimo pronunciou a frase eterna: “pulvis es et in pulverem reverteris”. Não se sabe de que maneira o cidadão disse isso. Se foi em um jantar de família, numa roda de amigos. Se ele falou isso durante a passagem de som da festa junina. Não se sabe. Infelizmente, naqueles tempos não existiam os modernos recursos de gravação audiovisual.

Naqueles tempos, também não existiam as modernas táticas de reprodução gráfica. Fazer um desenho não era das coisas mais fáceis do mundo. O material não era farto, você não poderia retocar nada no photoshop. Mal existia uma superfície sobre a qual fosse razoável desenvolver uma pintura.

Tanto, que as primeiras pinturas da humanidade consistem naqueles rabiscos feitos nas paredes das cavernas pelos homens considerados da caverna (coincidência assombrosa). Com tintas feitas a base de sangue, folhas e fuligem, eles desenhavam bisões, seres antropomorfos e registravam outras casualidades da estafante vida das cavernas.

A evolução, veio é claro. Diversas técnicas foram desenvolvidas e estudadas, tudo melhorou. Várias escolas artísticas surgiram, em busca da perfeição do retrato, da liberdade de imaginação, exposição de sentimentos. Artistas fizeram sucessos e ganharam dinheiro com as suas obras. Um mercado negro de compra e venda dessas obras surgiu.

Com a evolução da fotografia, o surgimento do computador, as obras mudaram seu foco. Retratar algo com perfeição pode continuar sendo um mérito, mas deixou de ter uma importância vital para a sociedade, porque uma máquina de fotografia fará isso melhor e mais rápido.

Depois de todas essas divagações artísticas, chego no tempo em que nós vivemos. Estamos em 2012. Entro na internet e tudo o que eu encontro são rabiscos tortos que fariam um pintor rupestre comentar “que técnica bem simples, essa que vocês utilizam”.

Nos tempos atuais, a única forma que nós encontramos de exprimir nossa felicidade, nossa tristeza, nossas lembranças, são trolls e similares. A única forma existente para registrar e retratar o mundo em que nós vivemos, os fatos que presenciamos, são esses rabiscos. Montagens toscas feitas no paint são o equivalente ao dedo na fuligem de milhares de anos atrás.

Do pó nos viemos e ao pó, finalmente estamos voltando. É o mundo que está acabando. Você ganhou, Carlos Nascimento.

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