Sintomas do fim do mundo (2)

A Explosão de Bueiros

Semana passada ocorreu um evento estranho, até certo ponto exótico, apesar de trágico. Um bueiro explodiu na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Bueiros são elementos ocultos do nosso cotidiano. Eles ficam lá, no chão. Por vezes pisamos sobre eles e sua presença é mais notada na sua ausência. Quando lá falta a tampa de um bueiro, percebemos o buraco no chão e reclamos por tampas, que os façam desaparecer novamente. Bueiros nos dão a estranha sensação de estarmos andando sobre um chão oco.

Mas, bueiros não foram feitos para explodir. Aliás, para que servem os bueiros? Para dar acesso a rede de esgoto, provavelmente. Para servir de rota de fuga para as tartarugas ninjas, talvez. Poucas pessoas até hoje devem ter entrado em um bueiro por livre e espontânea vontade. Mas seja lá pelo o que for, para explodir é que eles não foram feitos.

E a explosão de Copacabana não foi uma explosão qualquer. A tampa do bueiro, não era dessas, do tamanho de uma pizza. Era uma tampa gigante. Devia pesar uma tonelada. Pois, ela foi arremessada longe pela explosão. Caiu sobre um carro, ferindo os seus quatro ocupantes, que poderiam ter morrido.

Essa notícia além de ser insólita, tinha um quê de inédita. Que evento assustador, um bueiro a explodir. Mas, este espetáculo pirotécnico não estava estreando. No ano passado, uma tampa de bueiro já havia explodido e ferido gravemente dois turistas na capital fluminense. E uma pesquisa no Google mostra que as primeiras notícias sobre o assunto datam de 2006. Existem vídeos de explosão feitos em 2008.

Os responsáveis pela manutenção dos bueiros dizem que nada podem fazer. E, em 2009 eles já não podiam fazer nada. Há anos que bueiros explodem sem que nada possa ser feito pelas autoridades. Até parece que bueiros são como vulcões, imprevisíveis, explosivos, voluntariosos. Seja lá qual for a sua função, bueiros não surgiram com a vocação de ser um fenômeno natural.

Mais um dado de alerta. Segundo as já mencionadas autoridades, existem aproximadamente 600 bueiros que podem explodir a qualquer momento na cidade do Rio de Janeiro. E como já foi dito, nada pode ser feito. Resta aos responsáveis, apenas esperarem inertes que uma tampa os atinja. Como se fosse a piada do português que olha a casca de banana e pensa “oras pá, lá vou eu escorregaire de novo”.

Como é possível ter paz numa cidade dessas? Seus habitantes devem viver esperando o momento em que serão arremessados longe, atingidos duramente por uma tampa gigante de bueiro? Depois da guerra contra o tráfico, chegou a guerra contra os bueiros, imprevisíveis bueiros.

Este é mais um sinal de que o mundo está acabando. Depois de bueiros explodindo, o próximo passo é a chuva de gafanhotos. Deve estar na bíblia.

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