Dar Um Susto



“Dar um susto” é um termo que está na moda. Ficou bem exposto no lendário Caso Bruno, em que o menor de idade disse que foi contactado pelo goleiro para dar um susto em Eliza Samudio. Como resultado, ela foi espancada, esquartejada e teve seus restos mortais jogados aos cachorros.

Houve também o caso do Morro da Providência, em que jovens da favela, por um suposto desacato a autoridade, foram dados a uma facção rival para que “tomassem um susto”. E então, eles foram espancados até a morte, seus cadáveres metralhados e os corpos jogados numa caçamba de lixo.

Dar um susto sempre foi uma brincadeira meio chata e com motivações idiotas. Sempre abalava amizades e podia causar brigas. Ninguém morria, com exceção dos eventuais casos em que o assustado sofria de algum problema cardíaco. Mas a concepção de dar um susto mudou nesse mundo moderno. O susto moleque e imaturo ficou de lado. Estamos na era do susto profissional (pessoas recebem para isso) e doloso, ou seja, com a intenção de matar.

No meu tempo, se eu fosse contratado para dar um susto em Eliza Samudio, eu provavelmente me esconderia no fim de um corredor, tentaria arrumar uma máscara do Pânico e na hora em que ela passasse, eu pularia em sua frente e daria um grito. Talvez fosse até o estúpido grito de “Buu!”. Talvez eu pensasse em acordá-la com um grito. Fazer barulhos estranhos em sua janela de noite, quem sabe. Se eu fosse mais cruel, poderia fingir que era um assassino, apontar uma arma em sua cabeça e na hora de apertar o gatilho eu diria “Há! Pegadinha do Mallandro!”. O próprio Sérgio Mallandro já fez isso algumas vezes. Se eu fosse japonês, pensaria nisso.

Mas não. O mundo hoje é diferente. Aquela brincadeira boba de “Ih, Alá, a Carol tá chegando, vamos dar um susto nela!”, não dá mais. Nada de se esconder atrás da porta e gritar na hora que ela entrar na sala. Hoje, na hora em que ela entrasse na sala, os amigos começariam a chutá-la violentamente, espancar-lhe-iam até a morte e depois pensariam em um fim bem sórdido para o seu corpo. Jogar tudo num Juicer Walita para fazer suco e depois dar descarga no líquido. Jogar o corpo sobre o telhado do vizinho. Um bom susto moderno tem que ter um bom fim.

Vamos fazer uma campanha para que o susto volte a ser apenas uma brincadeira sem graça. Qual vai ser o próximo passo da bandidagem? Transformar o trote em roleta russa?

Comentários

(Ainnnn, medo desse post.)
Minha mãe puxava a minha orelha quando eu assustava ela. Eu era o tipo de criança que adorava dar sustos. O máximo da minha deliquência infantil.
Gressana disse…
E ainda há que diga que os jovens de hoje estão ficando frouxos.
Eduardo Doria disse…
"Susto" hj em dia é ate aula de sexo anal.
Unknown disse…
Há! Não achei graça nenhuma desse vídeo...