Comparações e medidas

Você provavelmente tem um amigo que adora fazer comparações. Se bobear ele é até bom nisso. Solta aquelas frases que ficam marcadas na história. Qualquer notícia é suficiente para que ele fale “Fábio Júnior é o Patrick Swayze brasileiro” (uma comparação entre Jorge Tadeu e Sam Wheat os maiores fantasmas comedores da história).

Normalmente as comparações servem para dimensionar as coisas. Transformar dados abstratos em algo palpável. Não é bem o caso da frase sobre os fantasmas. Quem disse isso, o fez apenas com a intenção de aumentar sua aura mitológica de grande comparador.

Domingo durante a transmissão da corrida de Fórmula 1, foi divulgada uma conversa entre Michael Schumacher e seu engenheiro. Diante da possibilidade de chuva, o engenheiro afirmou “deve ser uma chuva de 2 a 3 milímetros”. O piloto então perguntou “tá, e o que isso significa?”. Porque, de fato. O que são dois milímetros de chuva? Para mim, não é nada. Nelson Rodrigues, por exemplo, diria que choveria mais do que no quinto ato do Rigoletto.

Os jornalistas comumente usam as comparações para dimensionar as coisas. Mas, o exemplo do Nelson Rodrigues (ok, ele era um cronista, mas vale como exemplo, independente da profissão), mostra que essas comparações, que teoricamente deveriam transformam algo em abstrato em algo palpável, acabam por abstrair ainda mais o exemplo. Para começar, um pequeno problema é que a Ópera do Rigoletto tinha apenas três atos. E mesmo se o quinto ato existisse (assim como o quarto ato, por conseqüência. Tirante a possibilidade de Giuseppe Verdi fosse integrante de grupos de humor surreal), quem saberia o quanto choveu nele?

No dia a dia do jornalismo as comparações são muito usadas. Algumas das mais freqüentes (sim, esse blog ainda usa trema).
- A estrutura da Torre Eiffel pesa cinco toneladas. O equivalente ao peso de um elefante.
- Se somadas, a altura de todos os jogadores da seleção de basquete dos Estados Unidos é de 46 metros, o equivalente a Estátua da Liberdade.
- A área devastada foi de 40 hectares, o equivalente a 1500 campos de futebol.

Veja bem, dizer que a Torre Eiffel pesa o mesmo que um elefante seria o mesmo que afirmar o contrário. Ninguém nunca pegou um elefante no colo pra saber o quanto ele pesa. As pessoas apenas imaginam que ele pesa pra caramba. Assim como a maior parte da população mundial nunca escalou a estátua da liberdade pra ter noção da altura dela. E ninguém consegue fechar os olhos para imaginar 1500 campos de futebol, um do lado do outro.

Assim sendo, essas tentativas de comparação são falhas e não ajudam muito. Seria tudo mais simplificado se as pessoas utilizassem um método de conversão de medida universal e que é de conhecimento de todos. Basta dizer que tal coisa é “alta pra caralho”. O pra caralho (ou “pra chuchu” se o programa for de família) é mais fácil de ser compreendido.

O Engenheiro diz para Schumacher – “olha, vai chover pra caralho”.
- A estrutura da Torre Eiffel é pesada pra caralho. Um elefante também.
- Se você equilibrar os jogadores dos Estados Unidos, um em cima do outro, fica alto pra caralho.
- A área devastada foi grande pra caralho.

O inverso também funciona.
“o robô, invisível a olho nu, tem um nanômetro de cumprimento. Ou seja, é pequeno pra caralho”.

E assim, todos se entenderiam.

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