Olá amigo eleitor. Você não me conhece, mas você pode ser meu pai. Minha mãe, dona Francisca, alegrou muito a boemia cuiabana, era uma estrela da noite e tinha uma clientela fixa na nossa pequena casa no bairro do Baú. Infelizmente, os tempos eram outros e com menos conscientização sobre aspectos da procriação humana, eu e meus oito irmãos crescemos sem saber quem eram os nossos pais. Por isso eu venho aqui pedir o seu voto, para mostrar que os filhos da puta tem sim vez na política nacional. Vote de pai para filho, que eu vou te defender como se você fosse da minha família.
E aí meu caro eleitor, você se lembra de mim? Sim, sou eu, o Luizão do Bolero. Já animei muita noite no Lua Morena, Barraca do Dudu, cantando grandes sucessos nacionais e internacionais. Você se lembra heim? Besaaaaaame, beeesaaame mucho... como se fuera esta noche, lá ultima veeeeez.... agora você se lembrou heim? Aposto até que sentiu aquela vontade de dar uma golada gostosa naquele uísque caubói. Vote na voz que já embalou muitos beijos em primeiros encontros, para que eu possa ter meu primeiro encontro com a câmara municipal. Luizão do Bolero, 19230, esse é de confiança.
Boa noite meu caro eleitor, sim, sou eu, o professor Marcelo, você se lembra de mim? Não? O Marcelo, produtor cultural, roteirista, pesquisador acadêmico. Também fui vendedor de shopping, lembra? Não? Tudo bem, sou eu o Marcenight da boca gulosa. Foi um período difícil da minha vida, mas era o que eu tinha que fazer para sustentar a minha mãe idosa e com Alzheimer. Infelizmente um vídeo meu da tal boca gulosa viralizou nos primórdios da internet e até hoje eu sou perseguido por este fato. É triste demais isso. Nada mais importa desde então. Não importa que eu fiz mestrado estudando a relação dos povos indígenas com a música contemporânea das rádios AM e FM, que eu tenha ajudado a produzir festivais populares de música, que tenha sido roteirista de peças experimentais de teatro, que tenha uma carreira sólida na academia. Todo mundo só olha para mim e fala "ô boca gulosa". Eu nem faço mais isso! Peço seu voto porque talvez essa seja a minha última chance de mudar minha realidade, aprovando uma lei que proteja o direito das pessoas de serem esquecidas na internet. Me ajude, por favor, eu não aguento mais.
Estimado eleitor, se você me conhece, provavelmente é porque está me devendo dinheiro. Evandrinho Agiota, agora sou seu candidato a vereador e vim aqui COBRAR o seu voto, assim como o dos seus familiares. E vocês sabem que eu sou bom de cobrança. Então, se você já veio me pedir aquela ajuda para comprar uma geladeira nova, quitar uma parcela atrasada do carro, impedir que a luz fosse cortada, enfim, eu venho aqui lhe pedir o seu voto, ou melhor COBRAR o seu voto. Porque vocês sabem que eu sei onde vocês moram, assim como sei onde seus familiares moram também. Então, se você não quiserem aí saber como é ter as duas pernas quebradas ao mesmo tempo com golpes de barras de ferro, não queiram aí receber uma sacudida gostosa em suas vidas, acho melhor você votar em mim. É uma troca justa, eu perdoo sua dívida e você me coloca na Câmara Municipal, onde eu vou poder COBRAR de maneira muito melhor, diversas autoridades públicas do nosso município. Evandrinho Agiota 17171.
Boa noite meu caro eleitor. Vote em Marcenight da Boca Gulosa para vereador. Na vida a gente não pode renegar o nosso passado e é preciso reconhecer os nossos grandes talentos. Por isso peço o seu voto no Marcenight aqui, porque esse, ah, ESSE MAMA.
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