O Museu de Cera Rolândia

Na última quarta-feira o mundo se chocou com as imagens de uma turba de terroristas fundamentalistas pró-Trump tentando invadir o Capitólio, a sede do Parlamento estadunidense. As cenas de um cidadão extremamente afetado com o corpo pintado nas cores norte-americanas e utilizando chapéu com chifres acabaram por eclipsar e amargurar um pouco aquela que era, até então, a grande alegria brasileira do ano, talvez do último ano, talvez de toda história: as imagens do museu de cera de Rolândia no Paraná, esse patrimônio imaterial do povo brasileiro situado na capital nacional do trocadilho.

O vídeo veio à tona graças à perspicácia de Matheus Rodrigues. Até então um obscuro advogado com perfil no Twitter,  ele conseguiu ter mais de 90 mil interações com a divulgação do trecho de uma reportagem originalmente publicada em 2015 pelo jornal Folha de Londrina. Matheus já voltou a irrelevância nossa de todo dia na rede social.

A reportagem mostra uma série de aberrações esculpidas em cera, finalizadas pela observação do autor das obras de que cada pessoa tem seus detalhes que as diferenciam das demais. O artista em questão se chama Arlindo Armacollo, tem 77 anos, já foi bancário e dono de imobiliária, duas das profissões mais chatas do mundo, até se encontrar na arte de esculpir cera sobre manequins de lojas. Bem, o CH3 abre espaço nessa página para avaliar as obras de artes do maior artista brasileiro do século XXI.

Martin Luther King


Ativista do movimento negro, um humanista em essência, Martin Luther King teve todo o seu sonho reduzido a uma cópia malfeita de um personagem interpretado pelo também falecido Gugu Liberato em seu lendário quadro "Táxi do Gugu". Seu semblante não transmite nenhuma solenidade e no fundo parece que ele se chama Eurípedes e está muito cansado após um dia duro de trabalho.

Ayrton Senna


Eterno ídolo e responsável por àquelas saudosas manhãs de domingoⓇ, santo não-oficial do povo brasileiro, Ayrton Senna ficou muito mais parecido com alguma versão deprimida do cantor Chitãozinho. Muitas pessoas compararam este Ayrton Senna às representações de homens neandertais e é claramente explicável, visto que não há um único traço físico nesse boneco que relembre o corredor de Fórmula 1.

Albert Einstein


O próprio Einstein diria que tudo é relativo. O lado esquerdo do seu rosto está claramente amassado e seu pescoço parece fincado dentro da caixa torácica, mas diante de todas as obras expostas no Museu de Cera de Rolândia, esta é uma das melhores. Muito provavelmente porque lembra as fotos de baixa resolução disponíveis do físico alemão.

Chico Xavier


A foto que serviu de inspiração a esta obra está disponível na internet e uma comparação generosa nos faz acreditar que a situação não está tão ruim assim, tirando o fato de que parece que o médium brasileiro sofreu um AVC.

Mahatma Gandhi


Nosso glorioso artista plástico mirou no líder pacifista indiano, mas acabou acertando no Ministro do Negacionismo Osmar Terra. Olha só essa boquinha de cloroquina.

Hebe Camargo


Esteticamente, esta é uma das peças mais bonitas do acervo do Museu de Cera de Rolândia. Pena que não lembre em nada a homenageada Hebe Camargo, que ainda acabou com o rosto tendo a mesma circunferência do pescoço.

Elvis Presley


Aqui talvez seja o momento de fazermos uma análise de que talvez o problema não seja o artista plástico Arlindo Armacollo, mas que nós é que somos o problema. Nós é que insistimos em querer que os bonecos de cera se pareçam com os homenageados. Qual é o problema dessa peça tirante o fato de não lembrar nem um pouco Elvis Presley? De que se um sujeito assim aparecesse para um festival de covers do Elvis Presley ele seria vaiado? Talvez Arlindo Armacollo não conheça Elvis Presley e tenha composto esta sinfonia de cera apenas pelos relatos do que ele ouviu e imaginou ser Elvis e ele tem todo o direito de fazer isso.

Princesa Diana


Aqui o negócio começa a ficar realmente complicado, com essa representação de Lady Di que talvez só faça sentindo se imaginarmos que ela estava utilizando metanfetamina. E que o artista também estava utilizando metanfetamina. E que talvez nós também estejamos utilizando metanfetamina.

Santos Dumont


Você conheceu Santos Dumont pessoalmente? Então quem é você para dizer que esse cidadão com essa cabeça minúscula não se parece com o pioneiro da aviação?

Marilyn Monroe


O abismo da droga Rogerinho. Triste. Apenas isso. Que pescoço é esse? Porque Marilyn Monroe está com a mandíbula travada? Será que ele confundiu com Marilyn Manson? Porque todos os bonecos da exposição parecem estar sob o efeito de fortes narcóticos ou que são cadáveres?

John Kennedy


Dizem que Marilyn Monroe e John Kennedy foram amantes. Um filho entre os dois bonecos do artista plástico Arlindo Armacollo certamente seria o anticristo. Este John Kennedy não guarda nenhuma conexão com a realidade e, talvez, pudesse ser um boneco de Olinda do Gerson Camarotti. Ou, melhor ainda, um decadente Sylvester Stallone interpretando o Governador da Califórnia em um blockbuster dos anos 90.

Nelson Mandela


Platão já falava sobre o mundo das ideias e talvez seja o caso desta representação de Nelson Mandela. Para mim, parece que pegaram o Will Ferrel, maquiaram ele de preto e colocaram para interpretar um remake de Um Morto Muito Louco.

Zilda Arns


Uma mistura de Kurt Cobain e He-Man em um corpo de nadadora alemã oriental dos anos 70.

Charles Chaplin


Quando se fala em síndrome do impostor, talvez seja sobre essa imagem que se fale. Parece que de alguma forma uma pessoa está tentando seriamente se passar por Charles Chaplin em um semáforo de uma grande capital em troca de algumas moedas. Comentário aleatório: que orelha é essa senhor.

Mazzaropi


Lembra um pouco Mazzaropi? Lembra. Mas talvez se o Mazzaropi fosse filho do Charles Bronson na época do Western Spaghetti.

Papa João Paulo II


Certamente esta é a magnus opus de Arlindo Armacollo. Faria bonito no Madame Tussauds? Não. Mas faz bonito no Museu de Cera de Rolândia, que é o que realmente importa.

Papa Francisco


O mesmo não pode ser dito sobre o Papa Francisco, essa figura aterrorizante, como se uma barata extraterrestre tivesse roubado sua pele e andasse por aí dirigindo um furgão em busca do cinturão de Órion pendurado no pescoço de um gato.

Madre Teresa


É um pouco estranho, mas Madre Teresa já era bem estranha no fim da sua vida. Seria uma boa alegoria de carnaval.

Chaves


Se o Chaves fosse Chuck, o boneco assassino, provavelmente ele teria esse aspecto. Isso explica a cabeça do Quico pendurada na parede que parece que, realmente, a cabeça de Carlos Villagrán foi arrancada de seu corpo e pendurada na parede, como se fosse um alce. Ao centro da imagem vemos a mente que tornou tudo isso possível, ele, o inestimável Arlindo Armacollo. (Ao fundo mais um boneco que lembra o ministro Osmar Terra, só que vestido de alemão)

Shrek


Por fim, temos essa imagem do Shrek. Por ela, podemos ver que carai Fioma o Shereq num tá bem não.

Fica aqui a nossa saudação ao Arlindo Armacollo. O mundo já está cheio de museus com obras bonitas, mas está carente de representações feias da realidade. Rolândia certamente está inserida dentro da grande rota cultural mundial a partir deste ano.

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