Retrospectiva 2023

Há algum tempo eu escrevo essas retrospectivas sem buscar qualquer tipo de rigor jornalístico. Sem qualquer tipo de pesquisa avançada, sem olhar outras retrospectivas já publicadas para lembrar quem morreu, quem fez o quê. Os memes de 2023. Nada disso importa. Haverá um dia em que tudo isso será uma poeira da memória, varrida para cantos obscuros dos nossos cérebros diante da enxurrada de nova informação que consumimos diariamente.


Haverá, e isso pode ser lido com felicidade, um dia em que não nos importaremos com Luisa Sonza. Que o modelo de viralização da agência Mynd estará suplantado, que os algoritmos das redes sociais não irão espalhar informações sobre ela e dessa forma não iremos mais saber de seus romances frustrados, dos chifres, dos flagras produzidos. Sim, esse dia chegará amigos. Um dia em que ela estará sendo lembrada em alguma plataforma (LEMBRA DELA?) relatando os problemas da época. A má notícia é que, isso é para ser lido com tristeza, haverá outra pessoa no lugar dela e outro Chico Moedas traindo, em um metaverso da loucura da Choquei.

Pois bem, essa retrospectiva pretende ser uma carta de lembranças de 2023. Para que no futuro seja possível se lembrar sobre o que realmente importou no ano que passou. E o que não podemos esquecer é que 2023 é o ano em que as mudanças climáticas bateram em nossas portas, entraram em nossas casas, se sentaram em nossos sofás, pediram uma água e antes que você pudesse entender o que estava acontecendo, olhou para a porta e viu que elas trouxeram malas. Porque elas vieram para ficar.

Nunca houve um ano tão quente como 2023. Um ano absurdamente quente. O ano mais quente da história. Mas, provavelmente, o mais frio da próxima década. A tendência é só piorar, de forma que um dia tenhamos saudade da brisa fresca do ano que terminou.

Todas aquelas imagens de pinguins presos em blocos de gelo que se desprendem do grande círculo polar ártico, todos aqueles alertas sobre geleiras que derretem no monte Kilimanjaro, tudo isso que parecia tão distante - afinal, quem se importa com pinguins? Quem se importa com esse montanha na Tanzânia? Realmente existe esse país, Tanzânia? - agora está nas nossas portas, nas nossas roupas, nas nossas camas.

Dia após dia os relógios bateram recordes no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Palmas, em Cuiabá e até em Curitiba parece que fez calor. A seca se fez mais drástica do que nunca e produtores rurais percebem que apenas uma das sementes que eles plantaram deu frutos. A bolha de calor impede a passagem de nuvens, que se acumulam no Rio Grande do Sul e fazem o Rio Guaíba transbordar. Começa agora a temporada de chuvas, com recordes absurdos de águas caindo em poucas horas, com deslizamentos, enchentes e tudo mais.

A sensação é de que o jogo acabou. O fim da aventura humana na Terra, cantando pelo Rádio Taxi nos anos 80 e até hoje estranhamente popular em micaretas, onde a canção apocalíptica é cantada com muita alegria, enfim, esse fim está cada vez mais próximo. E nós seremos as tristes testemunhas desse adeus ao nosso planeta.

Porque no fim das contas é isso que importa. Nossos ídolos estão morrendo de velhice - eventualmente de overdose, para não decpcionar o Cazuza. A política, a economia, o futebol, tudo isso passa, tudo passará. As mudanças climáticas não.

Os anos, no fim das contas, são todos iguais. Os dias 31 de dezembro são todos iguais. Acordamos e nos lembramos da corrida de São Silvestre, que a essa altura já foi vencida por um queniano. Os jornais começam a divulgar que já é 2024 na Austrália, com a tradicional foto da queima de fogos na Ópera de Sidney. Depois o ano novo chega no Japão, na China, na Europa (nunca é ano novo na periferia do mundo) então os fogos queimam em Copacabana e depois disso ninguém se importa que já é 2024 na Times Square, ou em Los Angeles (ninguém nunca viu uma festa de ano novo em Los Angeles), porque nunca nos importamos com quem chega em 2024 depois da gente.

Essa talvez seja uma vantagem competitiva dos australianos. Essas horas que eles ganham anualmente sem se importar com quem vem atrás deles. Mas, divago.

Preparem seus ventiladores: 2024 está chegando.

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