Artista atualiza clássicos da MPB para linguagem jovem



Recém retornado de um mochilão pela Irlanda, o musicista Cadu Estrada está cheio de novos projetos. Além de participações em curtas-metragens experimentais, Cadu trabalha agora na atualização de clássicos da Música Popular Brasileira, como forma de apresentar este material para as novas gerações.

"Eu sempre fui assim, um garimpeiro, em busca das raridades. Clube de Esquina, Caetano Veloso, Zé Ramalho, esses pequenos tesouros escondidos da época dos nossos avós", conta. "São artistas que lançaram um material maravilhoso, mas que infelizmente não estão conectados com os tempos atuais, então acabam por não conquistar um público jovem".

Ele lamenta, por exemplo, a dificuldade de conseguir elaborar uma dancinha do TikTok para uma música do Lô Borges, uma barreira geracional intransponível. "O Chico Buarque tem algumas músicas que dariam ótimas novelinhas do Kwai, mas são muito longas. Ninguém consegue acompanhar um negócio que dura mais de 4 minutos".

Ainda sobre Chico Buarque, ele continou: "fui escutar Construção e tem 36 verbos na música. TRINTA E SEIS. Como vocês querem que a gente entenda 36 verbos. Tem um lá que é emboatados, algo assim. Isso é verbo? Como viralizar assim?”.

Mas, foi na revolta que Cadu teve a ideia. "A única parte que eu entendi é aquela quando ele diz 'sentou pra descansar'. Porra, que vida agitada de um cara que senta para descansar! Foi aí que eu entendi, preciso atualizar essas músicas para os jovens entenderem o que esses mestres obscuros da nossa música tem a dizer, acho que todos vão ganhar com isso".

Ele cita a própria Construção, que ganhou uma versão com verbos mais tiktok friendly. "Começa assim: 'sentou daquela vez como se fosse a última; sarrou sua mulher como se fosse a única. Olha aí a conversa com os jovens. No final eu concluo 'quicou na contramão atrapalhando o tráfego".

"Rebolar uma tarde em Itapuã, no sol que queima em Itapuã, sarrando no mar de Itapuã, sentar e quicar em Itapuã", canta Cadu relembrando outro clássico. "Veja como eu transformei essa música que é do João Gilberto, acho que em parceria com o Drummond. Essa aqui dá para fazer uma dancinha", disse o artista enquanto dava tapas ao redor de sua cabeça e simulava atos sexuais imaginários.

O artista diz que sua maior dificuldade foi quanto a Caetano Veloso. Sua intenção inicial era fazer uma nova versão de "O Quereres" - "essa tocava em uma novela, acho que o pessoal ia reconhecer e facilitar o entendimento", mas a música era muito complexa. 

"Tem uma parte que o Caetano canta sobre fliper vídeo e ainda rima com decassílabo. Sem contar que é uma letra enorme, incapaz de a gente conseguir assimilar. Por isso escolhi Sem Lenço Nem Documento, que foi abertura do Fantástico".

"Sarrando contra o vento, sem lenço nem documento. Todo mundo consegue imaginar isso. Só fiz outras duas adaptações, trocando Brigitte Bardot por Larissa Manoela e Coca Cola por Cacau Ritualístico, por questões de compliance e aproximação com a nova geração".

Em breve nas melhores plataformas de streaming.

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