A vida nada secreta dos artistas

Recentemente há um tipo de conteúdo que sempre viraliza nas redes sociais, ou nas homepages dos principais sites de notícias do país. Um título chamativo nos leva até um texto besta sobre a vida sexual de pessoas famosas, quase famosas, ou que se autodenominam famosas, apesar de você nunca ter ouvido falar sobre elas.

Essas revelações surgem geralmente em podcasts - podcasts que podem ser apresentados por famosos, quase famosos ou famosos em áreas restritas - e produzem os famosos cortes. São neles que podemos saber as mais loucas peripécias sexuais de um ator, cantor, modelo ou influencer.

Nessa semana, por exemplo, fomos todos expostos a detalhes sexuais da vida sexual da Xuxa e seu marido Junno. Nesse caso nem foi em um podcast, mas em um programa de TV que ficamos sabendo que o referido Junno bate pesado. Também ficamos sabendo que, se o sexo é rápido, Xuxa se masturba depois.

Marquei um X na sua Ereção


Veja que distopia é essa em que nós ficamos sabendo da intensidade dos movimentos pélvicos do marido da Xuxa. Só nos últimos dias nós também soubemos que a Sandy tem uma caixa de vibradores e que poderia dar aula sobre como utilizar os consolos. A Suzana Vieira quer participar de uma suruba. Ou que o Luan Santana se define como um touro na cama e que não há o que seja capaz de deter suas poderosas ereções.

Isso, muito provavelmente, é um sinal do festival de declarações que assola o Brasil. Com a febre desses podcasts - praticamente todo gamer, influencer, ator meio esquecido da Globo, jornalista freelancer tem um. É uma profusão de programas em que é impossível qualquer cidadão acompanhar a frequência. A Xuxa já deve ter ido em 55 podcasts nesse ano e só os mais resolutos fãs seriam capazes de acompanhar essa jornada.

O que sobra é apelar para a polêmica, clickbaits e segredos pouco usuais. Dessa forma ficamos sabendo quem já fez sexo anal, quem já participou de suruba, de ménage, dupla penetração, fez sexo na praia, mamou uma rola na floresta amazônica, transou em um naufrágio, fez roleta russa (não sei se esse termo é aplicável ao sexo, mas fica aqui a critério de vossas imaginações), sentou gostoso, broxou com uma ganhadora do Oscar e etc.

Isso acaba sendo bom para atrair os holofotes para estes personagens, supostamente famosos. Para a Xuxa devia ser bem fácil conseguir mídia em 1993. Mas 30 anos depois, com tantos nomes e tantas arrobas, a ex-rainha dos baixinhos precisa falar sobre quantos joules o pênis de Júnio é capaz de proporcionar. Se quinze anos atrás a Sandy provocaria polêmica filosofando sobre a possibilidade de ser obter prazer anal, hoje ela precisa fazer as pessoas imaginarem a Escolinha do Professor Consolo.

Claro, há o emponderamento feminino e a liberdade feminina de falar de sexo. Mas há 20 anos, a única maneira de se saber sobre a vida sexual de alguém era lendo a seção de entrevistas da Playboy, onde poderíamos ser informados sobre como o boxeador Acelino Popó de Freitas perdeu sua virgindade. (Geralmente todo mundo havia perdido a virgindade aos 13 ou 14 anos, com uma prima, ou com uma vizinha).

Is this what you wanted? Cantava Leonard Cohen em 1974. Is This The World We Created? Se questionava Freddie Mercury. Parece que sim. Na era da multinformação multiplataforma, me parece que a multiputaria é uma tendência que veio para ficar. Só penso que seja uma pena que o cantor Sergei não tenha vivido plenamente a Era do Podcast.

Comentários