A Coroação de Charles

Eu não assisti, porque tinha coisa melhor da vida para fazer, mas sei que no último domingo muitas pessoas pararam para assistir na televisão o espetáculo midiático envolvendo a coroação do Rei Charles III, ou simplesmente Carlos, como preferem os portugueses.

Talvez eu devesse ter me esforçado, já que o reinado da mãe do rei, a Elizabeth II, mostrou que coroação é uma coisa que talvez você só veja uma vez na vida, afinal, dona Isabel permaneceu no trono durante 70 anos e alguns meses.

Convenhamos que, mesmo que os avanços da medicina sejam cada vez mais notáveis, é improvável que o monarca Carlos permaneça no poder até 2092, ocasião na qual ele estará com 144 anos. Com alguma sorte, nessa data, o Rei George, essa criança agora simpática, será o rei com 79 anos - e digo sorte, porque talvez as mudanças climáticas já tenham inviabilizado a vida no planeta até essa data.

Bem, o fato é que essa foi a primeira coroação da família real britânica assistida por muitas gerações. Os já citados avanços da medicina e a progressiva pacificação do mundo, com uma quantidade de guerras cada vez menores, tem promovido uma vida cada vez mais longa ao Rei - ou à Rainha, nos privando deste espetáculo midiático.

Mesmo assim eu não vi, apenas acompanhei imagens do Rei Carlos usando um pijaminha amarelo e caminhando sofregamente até a Abadia de Westminster, recebendo uma espada afiada em suas mãos e uma coroa pesada em sua cabeça. A coroação da Rainha Camila, o voo de aeronaves e a comemoração meio nonsense dos súditos.

Era o fim de uma jornada. Rei Charles encontrou um propósito na vida, propósito que sempre o esperou: reinar.

Aquela criança feia, que virou um jovem feio e se transformou em um adulto feio e consequentemente um velho feio, mostrando que aquela fábula da lagarta e da borboleta nem sempre faz muito sentido. Charles passou 70 anos esperando pelo seu dia, foi o primeiro aspirante ao trono britânico a viver em plena era da cultura de massa, das estrelas pop e mesmo tendo um carisma negativo, conseguiu entregar muita diversão.

Charles se casou com uma plebeia, linda plebeia e teve dois filhos. Mas depois a traiu com uma mulher divorciada. E também foi traído, já que ao que se sabe, é provável que Diana tenha tido casos com o jardineiro, com o instrutor de hipismo, com o segurança e qualquer homem capaz de promover um mínimo de felicidade para uma mulher presa em um casamento forjado e infeliz. Tiveram um divórcio extremamente midiático, transformado em série de TV.

Um dos filhos de Charles resolveu abandonar a realeza para se transformar em subcelebridade polêmica (muito mais divertido). Jornais sensacionalistas já publicaram supostas fotos onde um suposto príncipe que supostamente seria Charles estaria supostamente beijando um suposto homem, o que poderia levar as pessoas a suporem que Carlos seria um suposto gay. Nada foi supostamente confirmado.



Mas tudo isso, jamais tirou do novo rei a sua completa, não sei, me faltam palavras. Não chega a ser irrelevância, mas Charles não nos desperta amor, nem ódio. Mesmo tendo colocado chifres na princesa do povo e que tragicamente morreu em um acidente de carro perseguida por paparazzis, mesmo tendo se casado com a amante, você não consegue odiar esse cara. Nem consegue amar. Charles é o grande rei da insignificância, porque no fim das contas a monarquia não faz sentido algum.

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