Opções para salvar o BBB

Faz pouco mais de vinte dias que o Brasil se livrou definitivamente dos participantes da 22ª edição do Big Brother Brasil. Após duas edições de estrondoso sucesso, reflexo de uma explosiva combinação entre o confinamento, estresse pandêmico e elenco catártico, o programa de 2022 foi um fracasso retumbante.

Há uma série de fatores para isso. Se a edição de 2020 foi extremamente generosa com seus participantes, exceção feita ao ginasta Petrix, a edição de 2021 fez sucesso por se transformar em uma máquina de cancelamento.

Os participantes da 20ª edição deram o salto definitivo para a carreira de subcelebridade e até figuras curiosas, como o psicólogo Vitor Hugo, conseguem se manter na mídia até hoje, participando da Farofa da Gkay. Gabi Martins, uma desconhecida cantora sertaneja, se transformou em uma máquina de notícias e semanalmente temos acesso a informações sobre todas as suas relações sexuais e procedimento estéticos.

Em 2021 tudo foi diferente. Semana após semana o Brasil se unia para acabar com a vida das pessoas mais odiadas do país e imagino que Karol Conká, Projota, Nego Di, entre outros, devam se arrepender amargamente de terem aceitado os convites. Se imaginavam que trilhariam o caminho do inesquecível Babu Santana, acabaram por conhecer as portas do inferno do cancelamento.

Exceção feita aos fenômenos sociais Gil do Vigor, Juliette e o misterioso Arcrebiano, o pós-BBB foi horrível para todos e quem hoje vive esquecido pela mídia deve estar grato por isso.

Diante deste cenário, os participantes entraram na casa extremamente preparados, com personagens ensaiados e dispostos a não criar nenhum tipo de polêmica. Acabou que o programa foi dominado pelo ex-rebelde Arthur Aguiar, por um simples fato: falsas expectativas. Famoso por trair sua mulher enlouquecidamente e por ser um pai meio ausente, todos esperavam que Arthur Aguiar fosse o pior ser humano do planeta, inclusive os outros participantes da casa.



No entanto, Arthur Aguiar mostrou que era apenas um péssimo ser humano e que para exercer essa função, não é preciso roubar criancinhas ou defender o genocídio. Mesmo se mostrando um babaca, autocentrado de perfil abusivo, Aguiar surpreendeu por não ter traído a esposa. Além disso, a participação extramuro de Mayra Aguiar fez com que a população sentisse pena do rapaz, que parecia estar em uma espécie de spa detox.

A audiência acabou dominada pelos fãs do rapaz que se mostraram dispostos a fazer o que fosse preciso para consagrar o famigerado pãozinho. É claro que a vitória de Aguiar, um dia, será um dos tantos símbolos dessa era miserável que o Brasil vive, mas apesar disso, esse texto não está aqui para falar mal do cidadão.

É preciso falar sobre o que deve ser feito para evitar que as próximas edições caiam nesse marasmo sequestrado por camadas fanáticas da sociedade. (Em termos gerais, é preciso discutir como fazer para que o mundo não passe por isso, mas esse é um assunto mais complexo).

É preciso criar estruturas para que os participantes do programa estejam menos preparados, é preciso quebrar os personagens, romper as estratégias pré-estabelecidas. Para isso, temos algumas sugestões.

Mudar completamente o andamento do programa

O paredão falso tem se mostrado uma estratégia inútil, por duas razões: ou coloca apenas pessoas desinteressantes na disputa, ou acaba por revelar o vencedor da competição antecipadamente. A suposta quebra no andamento do programa simplesmente não acontece. 

Seria muito melhor criar outras alternativas como: retorno de ex-participante eliminado, eliminação dupla, eliminação decidida pela casa, líder-kamikaze, em que o líder da semana escolhe alguém para ser eliminado do programa junto com ele próprio (claro que tal aviso só seria feito depois que a pessoa tivesse vencido a liderança).

Seriam possibilidades de criar uma verdadeira instabilidade emocional. Se nada disso funcionar, que se faça uma nova edição do experimento Stanford.

Impedir a criação de personagens

Em um mundo cada vez mais globalizado, onde as informações correm rapidamente é praticamente impossível impedir que uma pessoa se prepare da maneira adequada para participar do Big Brother. Para evitar os personagens pré-fabricados, há apenas duas alternativas.

A primeira é realizar um programa apenas com pessoas que não saibam o que é o Big Brother Brasil. Uma missão realmente difícil, mas talvez seja o caso de ir nas cavernas do Piauí, procurar por aldeias indígenas isoladas ou alguém que ficou muito imerso no seu trabalho em uma plataforma de petróleo no meio do Oceano Atlântico.

O segundo é fazer com que o convite para entrar no programa seja mais abrupto. Ligar para o Tiago Abravanel e perguntar “e aí, quer entrar no próximo BBB? Tipo, começa amanhã” ou “Arruma a mala que em vinte minutos eu tô passando na sua casa pra te levar no Projac”. Certamente traria mais espontaneidade.

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