Fenômenos Esportivos Inversos

O esporte sobrevive da perpetuação de suas lendas, periodicamente revividas em reportagens do Esporte Espetacular. Nadia Comaneci e a primeira nota 10 da ginástica. Os recordes do atletismo e da natação. Façanhas sobre-humanas que entraram para a história.  O que pouca gente lembra são dos gloriosos fracassos. Dos atletas que tiveram desempenhos tão ruins em suas modalidades, que conseguiram façanhas que dificilmente serão igualadas. O CH3 se lembra agora de algumas delas.



O primeiro 0 da ginástica
Dois anos após Nadia Comaneci encantar o mundo com sua apresentação nos Jogos Olímpicos de Montreal, o ginasta búlgaro Mikhail Penev conseguiu fazer o extremo oposto nos Jogos Mundiais de Vladivostok. Com uma apresentação simplesmente lamentável nas argolas, ele convenceu os jurados de que absolutamente nada era aproveitável em seus movimentos e conseguiu uma incrível nota 0. A primeira e única da ginástica.

De acordo com relatos do jornalista japonês Hiroshi Gokei, Penev escorregou duas vezes das argolas, se embolou durante um movimento e por um instante uma equipe de resgate chegou a ser acionada imaginando que ele morreria sufocado. Por fim, em sua cambalhota final, Penev acabou se chocando contra a base das argolas, derrubando o aparelho e provocando a interrupção da competição até que uma equipe de técnicos em montagem de aparelhos de ginástica se deslocasse de Moscou em direção ao ginásio. "O público assistiu aquele espetáculo absolutamente horrorizado e no final não houve vaias ou aplausos. Apenas um silêncio sepulcral diante daquela apresentação pavorosa", relembra Gokei.

Afogado na piscina
A natação vive a eterna dicotomia entre Michael Phelps, o maior atleta de todos os tempos, e Eric Moussambani, o nadador equato-guineense que quase se afogou nas piscinas dos Jogos Olímpicos de Sidnei, em 2000. Poucos se lembram, no entanto, do fenomenal canadense Justin Landreau, o primeiro atleta que realmente se afogou em uma piscina.

Em depoimento prestado por meio de um médium à revista Sports Idols, Landreau se lembrou dos momentos que antecederam sua hecatombe aquática no Campeonato Mundial de Piscina Curtas de Barranquilla. "Aquele era o momento pelo qual esperei a minha vida inteira, disputar um campeonato mundial sempre foi meu sonho. Eu estava na primeira bateria das classificatórias dos 400 metros rasos e sabia que podia conseguir um bom resultado. Realizei todo meu ritual de concentração e foi então que o incrível ocorreu. Na hora em que eu subi no bloco eu senti uma vibração diferente e percebi que estava lá. Eu não era mais um homem, eu era a água. Eu estava integrado à água. Eu pensava como a água pensaria, agia como a água agiria. Me senti eterno e infinito. Quando o tiro foi disparado, eu caí na água, simplesmente afundei e não consegui sair de lá".

Alguns juízes chegaram a demonstrar desespero com o corpo de Landreau preso no fundo da piscina, mas o diretor-geral da competição disse que não poderia interromper a bateria, sob o risco de penalizar os outros atletas. Quase quatro minutos se passaram com o corpo de Landreau submerso. Os próprios atletas ficaram em dúvida se poderiam resgatá-lo e seu cadáver só foi retirado quando todos haviam saído da piscina. O diretor-geral da prova lamentou o atraso e descartou fazer uma higienização do ambiente, sob risco de atrapalhar os próximos atletas. Com todos visivelmente perturbados, o público de Barranquilla assistiu uma série de vitórias dos alemães orientais, que não se importavam muito com os sentimentos alheios.

Desclassificado por falta de velocidade
O campeonato centro-americano de atletismo de Tegucigalpa em 1985 viu uma proeza do atleta salvadorenho Carlos Gutiérrez. Ele foi desclassificado por falta de velocidade na prova dos 800 metros. Após 45 minutos de prova, ele ainda não havia completado os primeiros 400 metros. As outras competições do dia precisaram ser adiadas e um grupo de crianças impacientes invadiu a pista. Um bebê chegou a ultrapassar Gutiérrez, que seguia em seu grande esforço para completar a distância. O juiz da prova não viu outra alternativa que não fosse a exclusão do atleta.

Como ele parecia não ouvir os apelos para se retirar da competição, ele precisou ser abatido com dardos de tranquilizante. Após esse incidente, Gutiérrez demonstrou uma grande evolução em sua carreira e dois anos depois se transformou no primeiro salvadorenho a correr cem metros em menos de 10 minutos. Ele ainda tentou uma carreira no Salto à distância, mas em 5 anos de tentativas, jamais conseguiu atingir a caixa de areia.

A máquina de Ippon
O judoca georgiano Igor Karabashvilli tem um impressionante recorde em suas participações em Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais. Ele perdeu todas as suas lutas por Ippon em menos de dez segundos. O comentarista Jorginho Barcelos, lembra que Igor lembrava um gato ao contrário, que sempre caia de costas no chão. "Os adversários encostavam nele ele caia de costas no chão e acabava com a luta. Era um negócio incrível".

Nenhuma bola na cesta
A equipe feminina de basquete da Papua-Nova Guiné é, até hoje, a única da história a não acertar nenhuma cesta durante um jogo de basquete em nível internacional. Durante o campeonato sub-17 de 2008 em Manilha, nas Filipinas, as papuásias enfrentaram a Espanha e perderam por 28x0. Após abrirem os vinte e oito pontos de vantagem logo no primeiro quarto, as espanholas passaram a ficar paradas em quadra, enquanto as atletas do país oceânico erravam cestas de todas as distâncias possíveis. A bola batia no aro e retornava, na tabela, ia para fora. O terceiro quarto foi marcante, com Papua-Nova Guiné passando o tempo todo com a bola e arremessando 62 bolas no aro, consecutivamente.

Em certo momento do último quarto, as espanholas passaram a incentivar as adversárias, ensinando inclusive movimentos e fundamentos básicos do esporte, mas nenhuma bola caía na cesta. As espanholas foram ficando cada vez mais desesperadas e, ao final da competição, anunciaram a desistência da competição, por falta de condições psicológicas de continuar jogando basquete após a exibição papuásia. Papua Nova-Guiné acabou campeã do torneio, depois de mais três desistências e outras vitórias apertadas, incluindo a final, um 4x3 contra a Austrália. "Assistí-las jogando era perturbador, era como se elas entrassem na minha mente e me fizessem esquecer como jogar basquete", afirmou a australiana Candy Wilson, maior promessa local, que após o torneio se dedicou a venda de patinetes elétricas. 

Atleta Perdido
O refugo do eterno Baloubet du Rouet na final das Olimpíadas de Sidney, acabou por eclipsar outro feito ocorrido naquela competição. Ainda durante a primeira classificatória o ginete argelino Yassif El Bounayon, montado no cavalo Chateuroux du Bersailê, também refugou. Mais além: seu animal se recusou a pular um obstáculo, partiu na direção contrária, deixou as dependências da Vila Olímpica, cruzou as ruas de Sidney e nunca mais foi visto. Todo dia 26 de setembro, sua família realiza uma vigia nas ruas de Orão, na expectativa de que o atleta reapareça. Na vila onde nasceu, o cavalo é considerado um animal místico e os mais fanáticos acreditam que ele só voltará no dia do juízo final.

O Pior Time do Mundo
O desempenho do Cáceres Esporte Clube no campeonato mato-grossense de 2010 é um desafio a lógica humana. A equipe voltava a competição após ter sido desclassificada por falta de competitividade em 2001. Após a estreia com uma derrota por 2x1 para o Cuiabá, a equipe emendou 9 derrotas consecutivas nos 9 primeiros jogos da competição. No início do returno, voltou a enfrentar o Cuiabá e foi derrotado por 11x1. Na sequência enfrentou o CRAC de Campo Verde e perdeu por 9x1. Veio então o desafio contra o Sorriso, líder da competição e o placar apontou 14x0. Depois outra derrota contra o Operário, por 7x1. Com incríveis 41 gols sofridos nos últimos quatro jogos, o Cáceres EC desistiu de atuar na última rodada contra o rival local, a Cacerense, sendo que ambos já estavam rebaixados.

O Cáceres Esporte Clube encerrou sua campanha com 13 derrotas em 13 jogos, 9 gols marcados e 65 sofridos, média de 5 por jogos. O time terminou a competição sem uniformes, porque uma lavadeira se recusou a devolvê-los, por falta de pagamentos. O Cáceres nunca mais voltou aos campos desde então, mas tem o retorno marcado para este mês, quando disputará a segunda divisão estadual.


O pior é que esse caso é tudo verdade.

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