Bom Dia Especial

Dentro da vida de um homem, poucos aspectos são mais relevantes do que certificar todos os interessados (normalmente nem tão interessados assim) de que sua vida sexual está plenamente ativa. Ao longo de toda sua existência, o homem irá em diversas oportunidades garantir que é capaz de manter uma ereção com rigidez consistente durante tempo suficiente para penetrar uma mulher e ejacular.

Tudo começa logo que os primeiros pelos pubianos começam a aparecer e em pouco tempo todos os colegas de classe já perderam a virgindade. O adolescente, de alguma maneira, se vê solitário em um mundo onde todos os outros já usarem seus pênis grandes e volumosos para perpetrar atos libidinosos voluntariamente aceitos pelas mulheres, que geralmente tiveram dificuldade para aguentar tal tamanho e volume.

Talvez seja algum elo natural que nos ligue a todas as outras espécies animais do planeta. Os documentários do Discovery, Animal Planet e similares vivem mostrando imagens de pássaros, que cometem os mais diversos atos de exibicionismos, com suas longas caudas cheias de plumas coloridas, tudo para garantir o direito de atrair a atenção de sua parceira fêmea. Gorilas que atuam em shows de virilidade e realizam danças excêntricas, eventualmente assassinando concorrentes para garantir a copula.

Como o homicídio não é aceito nem pela sociedade, muito menos pelo código penal (as plumas coloridas não são aceitas apenas pela sociedade), resta ao homem sair por aí desfilando em carros caros, com som alto, roupas caras e um tanto excêntricas, e insistir em um discurso que emule uma constante epopeia sexual.

Relatos de sexo dentro da piscina, do lado de fora da piscina, na cobertura plástica da piscina, na cobertura de um apartamento, em qualquer apartamento, no capô de um carro, no banco de trás de um carro, em um carro em movimento, andando de bicicleta, andando de avião, na poltrona não reclinável do avião, no banheiro do avião, no banheiro da balada (alô Rei do Camarote), no banheiro da rodoviária, na sede da Polícia Rodoviária Federal, na Universidade Federal, testemunhado pelo japonês da federal, em uma via pública, na rua, na chuva, na fazenda ou em uma casinha de sapê, tanto faz. O homem é um ser que transpira testosterona e espermatozoides e que jamais, em hipótese nenhuma, irá negar fogo. Seu pênis é o verdadeiro espetáculo da fonte luminosa, jorrando líquidos até alturas inimagináveis e provocando delírio e frenesi aos espectadores.

As coisas talvez fiquem um pouco mais complicadas à medida em que a idade vai chegando e a morte se aproximando, sendo aqui a morte uma metáfora para a impotência sexual. (Na maior parte do tempo, o homem sempre negou a existência da brochada. Hoje em dia, virou de bom tom comentar que já se broxou uma ou duas vezes, que foi um momento difícil, mas que depois você deu a volta por cima. Ajuda a humanizar o personagem).

Mas é justamente na dificuldade que o homem cresce (não necessariamente seu pênis). Todo e qualquer movimento sexual vira motivo de propagação e divulgação ostensiva. Todo e qualquer ato sexual, por mais rara que seja sua ocorrência, merece ser propagandeado em todos os meios possíveis. É preciso avisar que hoje tem, que hoje teve, que qualquer dia vai ter. Publicar no Diário Oficial da Justiça.

A morte peniana é mais temida que a morte de todo o resto do corpo, sendo que o corpo realmente assume um papel de resto diante do pênis. Um medo tão palpável que o homem está sempre procurando um grande representante, um grande mártir da virilidade, alguém que seja extremamente convincente quanto a capacidade de manter seu pênis em operação.

Quantas pessoas não admiravam Roberto Justus, que mesmo cantando pessimamente clássicos dos anos 50 e 60, conseguia manter o vigor suficiente para usufruir sexualmente do corpo de Ticiane Pinheiro ou Adriane Galisteu. Quantos prefeitos e governantes espelhados pelo Brasil e pelo mundo não são apenas homens de aparência flácida e que utilizam roupão de seda, mas que namoram mulheres extremamente mais jovens. Em suas fantasias mais inocentes, tantos homens de aparência flácida e que não utilizam roupão de seda por falta de recursos financeiros, imaginam que esses poderosos mantêm essas lindas e jovens mulheres apenas pela força de seus pênis, sem nenhuma questão financeira envolvendo. E esse pênis forte, esse pênis vigoroso e poderoso, esse pênis merece um voto de confiança para governar o país e levar o Brasil de volta ao caminho do crescimento (peniano).

A eleição de Jair Bolsonaro, homem de meia idade de aparência flácida e por vezes moribunda, casado com uma mulher 27 anos mais jovens, é o ápice desse movimento. O presidente tem uma necessidade profunda de alardear seu vigor sexual. Em várias oportunidades o presidente afirma publicamente que é imorrível, incomível e imbrochável, sendo que a parte em que ele garante que seu pênis tem 100% de garantia contra defeitos de irrigação sanguínea, geralmente é a parte mais aplaudida, aquela que leva o público ao delírio, público esse geralmente formado por homens de meia idade e aparência flácida, que contagiados por esse discurso passam a sentir uma vibração diferente em seus sacos escrotais. (Geralmente dentro desse público há algumas das mulheres desses homens, que talvez estejam na esperança que a vibração peniana do presidente possa garantir algum retorno sexual aos seus respectivos, por mais que a própria primeira-dama garanta que essa vibração toda não se repete em casa).

Michel Temer, o antecessor do tinhoso no poder, talvez fosse tão respeitado pelo mercado por ser casado com uma mulher 40 anos mais nova. O mercado respeita muito um pênis há tanto tempo na ativa. Em seus encontros com investidores, não duvido que Temer tivesse o costume de narrar seus coitos utilizando-se da mesóclise. Uma combinação realmente irresistível.

Bolsonaro nesse caso, é um tiozão de churrasco que chegou ao poder e não teria termos tão técnicos para descrever sua imensa atividade sexual. Ele deve preferir dizer que trocou o óleo, afogou o ganso, molhou o ganso ou qualquer outra metáfora já musicada pelo inesquecível Gabriel, o pensador. Recentemente, ele fez questão de iniciar um discurso oficial garantindo que já havia dado um bom dia especial para sua esposa e que, por isso, não repetiria o ato em público. Entre outras coisas, porque é bem provável que o ato tenha durado o tempo necessário para pronunciar as palavras bom dia. (Leva em torno de um segundo. Como foi um bom dia especial, talvez tenha sido o tempo de falar um booooom diaaaaaaaaaa!!! com três exclamações).

Claro que toda essa saga irá terminar no asilo, onde velhinhos relatarão ereções provocadas por cuidadoras, ou mesmo na lápide do cemitério. "Aqui jaz um pênis duro". Talvez o sonho de todo homem seja morrer igual o lendário punheteiro de Pompeia, imaginando que seu pênis é o próprio Vesúvio.

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