O Desmotivador



A motivação plena e ostensiva é um dos pilares que sustentam a sociedade atual. Há algumas décadas os chamados livros de autoajuda estão entre os mais vendidos do mercado editorial e há alguns anos fomos infestados por um surto de coaching, profissionais que ganham a vida elaborando técnicas para manter todos extremamente motivados, focados e determinados em um futuro brilhante que depende apenas da sua superação e força de vontade.

Todos os dias ao entrar nas redes sociais, somos inflamados por mensagens corporativas motivacionais, postagens da revista Forbes nos estimulando a ficar do lado de cá da linha que separa os vitoriosos dos fracassados, uma overdose de motivação cujo objetivo final é produzir cada vez mais em busca de um sucesso difuso e parcamente mensurável.

Essa motivação implacável acaba por apagar uma figura oculta da nossa sociedade que exerce uma função essencial para a nossa convivência: o desmotivador. Pode parecer um contrassenso que essa figura exista, enquanto todos tentam nos lembrar constantemente da importância de que os patrões motivem seus funcionários, de que os pais motivem seus filhos e vice-versa, em uma tentativa de criar uma espiral em moto-contínuo de motivação. Nosso cérebro já está programado para aceitar os benefícios do estímulo permanente.

No entanto, o desmotivador é o responsável silencioso por salvar o mundo de uma série de problemas. O desmotivador é aquele cidadão cuja função passa longe de propagar reforços positivos. A ele cabe a tarefa de falar que é muito provável que as coisas não vão dar certo. Lembrar que, para cada Messi, existe cinco Nixon, revelação do Flamengo que hoje é reserva em um time de meio de tabela do futebol maltês. Que a maioria dos sonhos não dá em nada e que correr atrás deles, muitas vezes, é apenas uma infrutífera perda de tempo.

Cabe ao desmotivador a tarefa inglória de avisar que alguma coisa não vai dar certo. Muitos governos não teriam provocado o caos e a ruína de nações, se um bom desmotivador estivesse presente, avisando ao pretenso governante que ele não tinha a menor capacidade de liderar uma equipe governamental e que deveria se dedicar, quanto muito, ao dominó. Imagine se em 1990 um desmotivador tivesse desincentivado Jair Bolsonaro a concorrer ao cargo de vereador e insistisse que ele se aprofundasse na sinuca.

Muitas vezes o desmotivador pode fracassar em seu objetivo final e servir como grande motivador. Acontece quando ele, de tanto falar que uma pessoa é incapaz de cumprir uma tarefa, acaba por criar uma motivação extra e a pessoa passa a viver com o único objetivo de concretizar seus sonhos para poder esfregar na cara do desmotivador que ela era, sim, capaz.

São casos raros, muito raros, mas nada que abale um bom desmotivador. Ele poderá questionar a pessoa se valeu a pena, se realmente valeu a pena se esforçar tanto por essa tarefa, se isso saciou sua alma inquieta, se agora ela pode dormir tranquila por cumprir um objetivo com o qual ninguém se importa muito. É a estratégia do contragolpe desmotivacional.

Na grande maioria das vezes, é claro que o desmotivador estará certo. E poderá, satisfeito, jogar na cara das pessoas que ele avisou desde o começo que aquilo não ia dar em nada. Não há prazer maior na vida.

Grandes empresas devem estar abertas a contratação dessas pessoas. Devem se esforçar em ter alguém em seus quadros que seja capaz de desmotivar todos os funcionários, lembrar a eles que nada na vida faz muito sentido e que, não importa o quanto eles se esforcem, dificilmente irá valer a pena, porque todos nós iremos morrer e todo esse esforço será enterrado ou cremado junto com nossos corpos desfalecidos.

Uma boa segunda-feira para todos.

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