Retrospectiva 2020

O ano era 2015 e o mês era outubro. Em um palco na Serra Gaúcha, um grupo de três irmãos sobe ao palco para tocar pela primeira vez. Ainda nos recuperávamos do 7x1 quando, ali, no Festival da Música de Canela, um pequeno grupo de pessoas pode testemunhar o nascimento do Grupo Melim. Desde então, nada mais deu certo no mundo.
Após se recuperar da Covid, Alok faz uma live cantando uma música de Roberto Carlos. Isso é 2020


Bem, vocês devem se lembrar vagamente. Os Maias prometerem e não cumpriram que o mundo iria terminar em 2012. O Corinthians ganhou uma Libertadores e de repente à população estava nas ruas para protestar contra tudo o que estava aí. Realizamos uma Copa do Mundo e perdemos de 7x1. Dilma e Aécio proporcionaram a nova Guerra Fria nas redes sociais e começou uma enorme bola de neve, com crise econômico e política. A situação já era confusa, mas ali, em outubro de 2015 tudo ficou fora de controle.

Aquele fim de ano foi marcado por senadores chegando às vias de fato, Eduardo Cunha abriu um processo de impeachment e no ano seguinte a presidente foi impedida. Michel Temer assumiu, o Brexit ocorreu, Donald Trump foi eleito e consolidou a ascensão da extrema direita, rompimentos de barragem aconteceram (A barragem de Mariana se rompeu menos de 15 dias depois do surgimento do Melim. Coincidência? Não acho), aviões caíram, entregaram o Oscar pro filme errado, Bolsonaro foi eleito e desde então estamos nadando em um labirinto de merda sem saída.

Parece claro hoje, que os deuses não permitiriam que o surgimento do Grupo Melim passasse impune. E que, talvez, só consigamos sair dessa no dia em que o grupo terminar, oferecendo o seu fim como uma espécie de sacrifício divino.

Chegamos a 2020 e vivemos talvez o auge do caos. O ano começou com a promessa de uma terceira guerra mundial, graças a uma desinteligência entre Irã e Estados Unidos. Difícil era imaginar que a grande decepção é que essa guerra não ocorreu. A Austrália pegou fogo, pessoas morreram contaminados por uma cerveja, o Kobe Bryant morreu em um acidente de helicóptero.

Mas, tudo isso era uma enorme distração. Assistíamos o fato, no fundo, sabendo que o grande problema estava por vir. Um novo vírus havia sido descoberto na China no fim de 2019 e sua propagação mundial parecia uma questão de tempo. Ele chegou na Europa, nos Estados Unidos e, na segunda-feira de Carnaval, chegou no Brasil. Desde então, não houve mais vida. Como vocês sabem, estamos chegando ao fim do ano nos aproximando da marca de 2 milhões de mortos no mundo, quase 200 mil no Brasil.
Certamente o cara do cacete de agulha deve fazer parte do movimento anti-vacina



Não é que não aconteceu nada. Aconteceu muita coisa até. O Pantanal pegou fogo como nunca antes. Descobriram que uma deputada mandou matar seu marido e eles tinham dezenas de filhos adotados e faziam sexo com eles. Morreu gente de tudo quanto é tipo se fossemos fazer um obituário de 2020 ele ficaria maior do que uma lista telefônica. Isso sem contar os fatos políticos, que nos torturaram diariamente enquanto nosso genocida legitimamente eleito por nossa população genocida torturava os fatos em busca do salvamento de sua família criminosa.

Ficamos em home office, pensamos que as ruas vazias pelo isolamento eram o apocalipse, apenas para descobrir que o verdadeiro apocalipse eram as aglomerações com todas as medidas sanitárias obedecidas. Lives de cantores sertanejos, Caetano Veloso, Átila Iamarino, Oxímetros, Romero Britto, estátuas, estupro culposo, assassinatos de crianças pretas. O que importa?

No fim, 2020 é aquele ano em que todo mundo morreu um pouco por dentro e é difícil ter alguma expectativa para o futuro. A esperança é pela cura pela vacina, mas não para o Brasil. Não há brasileiro que em 2020 não tenha sonhado em já estar no fundo do poço, porque isso significaria um fim. Mas a verdade é que não há poço. Estamos, isso sim, flutuando no espaço, com nossos corpos vagando pelo vácuo por toda eternidade, eternamente fudidos e só nos resta esperar que um buraco negro possa nos tragar para interromper essa viagem sem sentido.


O grande temor, no fundo, é que daqui a alguns anos nos lembremos com alguma graça e saudade de 2020, quando o confrontarmos a 2021. O pior é que as chances de isso acontecer são enormes.

Adeus 2020 e tenha piedade 2021.

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