Guia do Oscar 2020

Depois de alguns anos publicando este tradicional texto, cheguei a conclusão de que isso aqui não chega a ser bem um guia, uma vez que um guia deveria ser didático, conduzir o leitor pelo mundo cinematográfico como se ele tivesse déficit cognitivo. O que apresentamos aqui são apenas resenhas satíricas e completamente equivocadas sobre os concorrentes ao prêmio de melhor filme. Mas, pensando bem, talvez esta equivocada utilização da palavra “guia” não deixe de reforçar o sentido satírico e completamente equivocado deste texto. Vamos lá.

1917

Ano após ano se renova a capacidade de Hollywood em produzir filmes relacionados às guerras mundiais. Nesta película doentia, o diretor Sam Mendes gastou horas de storyboard e mesa de edição para fazer com que toda a história pareça ser filmada em um interminável plano-sequência. Seria mais um daqueles casos em que se premia um filme mais pelo trabalho que deu para fazer do que pela qualidade dele.

Parasita

A Coreia do Sul rompe as barreiras idiomáticas colocando este drama social sanitário na briga pela estatueta dourada. Talvez, o que tenha faltado para a consagração final de Parasita seja o fato de que nós nunca ouvimos falar de nenhum dos atores e jamais sequer tenhamos os vistos em qualquer situação e dessa forma não façamos a menor ideia se eles são bons, se eles interpretaram bem os seus papeis ou se foram extremamente caricatos, porque, entre outras coisas, como julgar a capacidade dramática de um coreano?

Ford vs. Ferrari

Um carro pica versus... você já ouviu essa piada 83 vezes, e o CH3 não será responsável pela 84ª. Pretendemos aqui ressaltar a relevância do Choque de Cultura, que, desde o seu advento, tem sido responsável por fomentar a importância cultural dos filmes de carro. Rogerinho do Ingá e sua turma certamente foram os responsáveis por fazer de Ford vs. Ferrari o primeiro filme de racha a concorrer a uma categoria de Oscar que não seja relacionada à efeitos sonoros ou visuais.

Jojo Rabbit

Conto infantil sobre a ratinha Jojo, que precisa esconder judeus no porão da sua casa ao mesmo tempo em que achar Hitler uma figura muito amigável pelo o que ela escuta no rádio.

O Irlandês

Robert de Niro dá a vida a Frank Sheeran, empresário que tenta pela 39ª vez inaugurar um pub irlandês em Cuiabá e fazer o empreendimento vingar. Conhecido como o pintor, por seu hábito de tingir o chope de verde, Sheeran é visto pela sociedade como um mafioso e sofre com as piadas que o comparam ao cantor Ed Sheeran, que Frank despreza. Com seis horas e vinte e oito minutos de duração, o filme deve ser assistido inteiramente de uma vez, sem pausas para ir ao banheiro, beber água ou reclamar no Twitter, sob pena de se ganhar a antipatia eterna do diretor Martin Scorsese.

Era uma vez em Hollywood

Nem é preciso ver o filme para saber que Quentin Tarantino, mais uma vez, reconstruiu um cenário histórico com esmero, recheou o filme de referências cinematográficas obscuras, diálogos espertos que não tem nenhuma importância para história mas são hipnotizantes, tudo isso para promover uma catártica carnificina final, que de certa forma redime o passado e nos deixa em estado eufórico, sentindo o gosto da justiça enquanto deliramos se as coisas não poderiam ter sido assim enquanto o sangue escorre pelo canto da boca.

Coringa

A transformação de um vilão de desenho de criança em um personagem complexo e cheio de meandros psicológicos que justificam a crueldade exacerbada de um cidadão problemático.

Adoráveis Mulheres

Não encontrei ninguém que tenha visto o filme, então não posso opinar.

História de um Casamento

Como um casamento aparentemente feliz termina de forma aparentemente amigável mas logo se transforma em um pesadelo mútuo e coletivo, uma vez que todo o sofrimento e discussão mostrado na tela da TV (é uma produção Netflix) passa a perturbar a vida de casais que antes pareciam estar em um casamento aparentemente feliz até o momento em que viram a história dessa separação aparentemente amigável.

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