O falecimento de Antônio Augusto Moraes Liberato, o famoso Gugu da Galera, é uma oportunidade única para celebrar o legado ímpar deste comunicador diferenciado e suas inúmeras loucuras, capazes de subverter a ordem pública da televisão brasileira.
Banheira do Gugu
Se há algo pelo qual nosso querido Gugu será eternamente lembrado, este algo é a Banheira do Gugu. Um dos quadros mais populares da história da televisão brasileira, capaz de unir celebridades e subcelebridades em uma gincana sem muito sentido e repleta de nudez, em plena tarde de domingo. Geralmente as atrações convidadas do programa – um grupo de pagode, por exemplo – participavam desta competição, ao lado de figuras femininas que habitavam o Domingo Legal, como Nana Gouvea e Luiza Ambiel. Todos entravam em uma banheira, apenas com seus trajes de banho, com um único objetivo: pegar mais sabonetes que seu concorrente. Enquanto o homem tentava pegar os sabonetes, a mulher tentava impedir a consumação do ato. Depois os papéis se invertiam. Um alucinado Gugu ficava do lado de fora contando os sabonetes de maneira maníaca, enquanto tínhamos a oportunidade de ver Alexandre Pires, Tiririca e Beto Jamaica de sunga, além de alguns dos primeiros relances de peitos da nossa vida. A contagem tinha tanta precisão quanto uma eleição da Bolívia e não se sabe o que é que o vencedor ganhava.
Gatas molhadas
Apesar de o seu Domingo Legal poder ser considerado a obra-prima da carreira de Liberato, essa não era sua única incumbência no Sistema Brasileiro de Televisão. Nas noites de sábado ele apresentava o Sabadão Sertanejo, atração que reunia o status quo da música sertaneja brasileira dublando seus grandes sucessos. As imagens dos cantores eram alternadas com closes de Gugu segurando a capa do último disco do artista e de mulheres de camiseta branca tomando banho de chuveiro. Qual era o sentido? Ninguém sabe.
A ereção de Van Damme
Nos seus anos de sucesso, que compreendem o período que vai do surgimento do grupo musical Mamonas Assassinas até a virada do século, Antônio Augusto recebia grandes atrações nacionais e internacionais no palco do Domingo Legal. Shakira e Ricky Martin estão entres os nomes que passaram por lá. Certa vez, o convidado especial foi Jean Claude Van Damme, ele, o grande astro do cinema de porradaria dos anos 90, o grande dragão branco, o rei do kickboxing, dono das maiores bilheterias de Hollywood no ano de 1996. Sabe-se lá o que fez o belga participar do quadro, mas seu posterior vício em cocaína deve ajudar a explicar. Fato é que ele estava lá, compartilhando o mesmo espaço de Gretchen, muito antes de ela virar a rainha dos memes da internet mundial. Por algum motivo os dois dançaram juntos e o rebolado de Gretchen provocou uma ereção em Van Damme, que tentou disfarçar, riu constrangido, chegou a se abaixar, mas qualquer tentativa de despiste foi frustrada por Gugu, que riu loucamente do fato e chegou a se abaixar para poder ver na altura dos olhos o pênis ereto de Jean Claude Van Damme. Em que outro programa um astro do cinema teve uma ereção ao vivo e foi motivo de chacota do apresentador? Eu desconheço.
Crianças prodígio
Gugu sempre deu espaço para muitas pessoas em suas atrações, entre elas as crianças. Jordy, o mito francês, desfilou toda a sua precoce exploração paterna nos palcos domingolegaisianos. Mas, houve também um mini Gugu, uma criança que, por ser loira, seria supostamente parecida com Augusto Liberato e por isso dividia o palco com mulheres seminuas e toda essa loucura.
Táxi do Gugu
Nem Scorsese seria capaz de falar mal desse quadro. Gugu Liberato se travestia dos mais variados tipos – colocava bigodes, barbas, chegou a ficar negro, japonês e parecido com Albert Enstein, para então entrar em um táxi e dar carona para uma pessoa aleatória da cidade de São Paulo. Durante o trajeto do passageiro, algum evento sobrenatural ocorria dentro do automóvel, o que era motivo de muitas gargalhadas da plateia e de todos os telespectadores brasileiros – exceção feita ao passageiro, que corria seria risco de se defecar nas calças ou ter um problema cardíaco.
Telegrama Legal
Alguém mandava um telegrama para a produção do Gugu passando dados detalhados sobre a vida de ilustres anônimos e essa pessoa então era vítima de uma pegadinha. Com o tempo, a manipulação passou a ocorrer com pessoas famosas e diversas pessoas passaram por essa humilhação pública. Esse não era o único espaço para os anônimos do programa. Em uma das suas mais famosas gincanas, Gugu ia até a casa de pessoas comuns e obrigava-as a encontrar utensílios domésticos dentro de um determinado espaço de tempo, para que assim elas tivessem acesso as mais amplas benesses disponíveis. Acho que tinha alguma ligação com o caminhão do Baú, mas não tenho mais certeza.
ET e Rodolfo acordando pessoas famosas
Sabe-se lá como esta bizarra dupla ganhou as telinhas brasileiras, mas o fato é que ET e Rodolfo tinham a estranha missão de invadir apartamentos e casas de pessoas mais ou menos famosas e então acordá-las da maneira mais estapafúrdia possível, torcendo para que elas não tivessem armas embaixo de seus travesseiros. Depois de acordada, o constrangimento da pessoa não terminava e ela era obrigada a conversar com ET e Rodolfo.
O Gugu Cantor
As portas do sucesso de Gugu Liberato começaram a se abrir quando ele gravou a música do meu Pintinho Amarelinho. Música infantil com alguma sexualidade implícita e uma coreografia inesquecível – que eu mesmo não me lembro.
O Gugu Empreendedor
O sucesso de Gugu fez com que ele licenciasse uma série de produtos com seu nome, geralmente artigos infantis. Havia um cavalinho Upa Upa, revista em quadrinhos, um mórbido Gugu Equilibrista, um passa e repassa sem torta na cara, mas dois deles merecem atenção especial: a toca do Gugu e o Guru do Gugu. O primeiro era uma barraca que comportava até duas crianças de porte pequeno e servia para que os infantes pudessem acampar no quintal ou na área de serviço do apartamento. Foi uma febre inimaginável. O segundo era um boneco felpudo que, quando apertado em sua barriga, repetia uma das três palavras gravadas em sua memória: sim, não ou talvez. Cabia ao possuidor do Guru do Gugu a tarefa de fazer perguntas para o boneco do tipo “eu vou passar de ano?”, “A Milena Gosta de Mim?”, “A vida faz Sentido” e o ser inanimado daria a resposta definitiva: sim, não, ou talvez. Só um gênio para ter essa ideia.
O precursor das Fake News
Muito antes de elas se popularizarem e se tornarem peça central de qualquer campanha política, Gugu Liberato produziu uma das maiores fake news da história. A produção do seu programa gravou uma entrevista com dois homens que supostamente seriam membros do Primeiro Comando da Capital e eles fizeram revelações bombásticas: ameaçaram de morte apresentadores policiais de canais concorrentes do SBT e o Padre Marcelo Rossi. Depois, soube-se que os homens não eram membros de nada e que as ameaças não existiam. O feedback do caso foi tão negativo que acabou por afundar de vez o já decadente Domingo Legal e em pouco tempo Gugu foi parar na Record.
Reste em Paz.
Banheira do Gugu
Se há algo pelo qual nosso querido Gugu será eternamente lembrado, este algo é a Banheira do Gugu. Um dos quadros mais populares da história da televisão brasileira, capaz de unir celebridades e subcelebridades em uma gincana sem muito sentido e repleta de nudez, em plena tarde de domingo. Geralmente as atrações convidadas do programa – um grupo de pagode, por exemplo – participavam desta competição, ao lado de figuras femininas que habitavam o Domingo Legal, como Nana Gouvea e Luiza Ambiel. Todos entravam em uma banheira, apenas com seus trajes de banho, com um único objetivo: pegar mais sabonetes que seu concorrente. Enquanto o homem tentava pegar os sabonetes, a mulher tentava impedir a consumação do ato. Depois os papéis se invertiam. Um alucinado Gugu ficava do lado de fora contando os sabonetes de maneira maníaca, enquanto tínhamos a oportunidade de ver Alexandre Pires, Tiririca e Beto Jamaica de sunga, além de alguns dos primeiros relances de peitos da nossa vida. A contagem tinha tanta precisão quanto uma eleição da Bolívia e não se sabe o que é que o vencedor ganhava.
Gatas molhadas
Apesar de o seu Domingo Legal poder ser considerado a obra-prima da carreira de Liberato, essa não era sua única incumbência no Sistema Brasileiro de Televisão. Nas noites de sábado ele apresentava o Sabadão Sertanejo, atração que reunia o status quo da música sertaneja brasileira dublando seus grandes sucessos. As imagens dos cantores eram alternadas com closes de Gugu segurando a capa do último disco do artista e de mulheres de camiseta branca tomando banho de chuveiro. Qual era o sentido? Ninguém sabe.
A ereção de Van Damme
Nos seus anos de sucesso, que compreendem o período que vai do surgimento do grupo musical Mamonas Assassinas até a virada do século, Antônio Augusto recebia grandes atrações nacionais e internacionais no palco do Domingo Legal. Shakira e Ricky Martin estão entres os nomes que passaram por lá. Certa vez, o convidado especial foi Jean Claude Van Damme, ele, o grande astro do cinema de porradaria dos anos 90, o grande dragão branco, o rei do kickboxing, dono das maiores bilheterias de Hollywood no ano de 1996. Sabe-se lá o que fez o belga participar do quadro, mas seu posterior vício em cocaína deve ajudar a explicar. Fato é que ele estava lá, compartilhando o mesmo espaço de Gretchen, muito antes de ela virar a rainha dos memes da internet mundial. Por algum motivo os dois dançaram juntos e o rebolado de Gretchen provocou uma ereção em Van Damme, que tentou disfarçar, riu constrangido, chegou a se abaixar, mas qualquer tentativa de despiste foi frustrada por Gugu, que riu loucamente do fato e chegou a se abaixar para poder ver na altura dos olhos o pênis ereto de Jean Claude Van Damme. Em que outro programa um astro do cinema teve uma ereção ao vivo e foi motivo de chacota do apresentador? Eu desconheço.
Crianças prodígio
Gugu sempre deu espaço para muitas pessoas em suas atrações, entre elas as crianças. Jordy, o mito francês, desfilou toda a sua precoce exploração paterna nos palcos domingolegaisianos. Mas, houve também um mini Gugu, uma criança que, por ser loira, seria supostamente parecida com Augusto Liberato e por isso dividia o palco com mulheres seminuas e toda essa loucura.
Táxi do Gugu
Nem Scorsese seria capaz de falar mal desse quadro. Gugu Liberato se travestia dos mais variados tipos – colocava bigodes, barbas, chegou a ficar negro, japonês e parecido com Albert Enstein, para então entrar em um táxi e dar carona para uma pessoa aleatória da cidade de São Paulo. Durante o trajeto do passageiro, algum evento sobrenatural ocorria dentro do automóvel, o que era motivo de muitas gargalhadas da plateia e de todos os telespectadores brasileiros – exceção feita ao passageiro, que corria seria risco de se defecar nas calças ou ter um problema cardíaco.
Telegrama Legal
Alguém mandava um telegrama para a produção do Gugu passando dados detalhados sobre a vida de ilustres anônimos e essa pessoa então era vítima de uma pegadinha. Com o tempo, a manipulação passou a ocorrer com pessoas famosas e diversas pessoas passaram por essa humilhação pública. Esse não era o único espaço para os anônimos do programa. Em uma das suas mais famosas gincanas, Gugu ia até a casa de pessoas comuns e obrigava-as a encontrar utensílios domésticos dentro de um determinado espaço de tempo, para que assim elas tivessem acesso as mais amplas benesses disponíveis. Acho que tinha alguma ligação com o caminhão do Baú, mas não tenho mais certeza.
ET e Rodolfo acordando pessoas famosas
Sabe-se lá como esta bizarra dupla ganhou as telinhas brasileiras, mas o fato é que ET e Rodolfo tinham a estranha missão de invadir apartamentos e casas de pessoas mais ou menos famosas e então acordá-las da maneira mais estapafúrdia possível, torcendo para que elas não tivessem armas embaixo de seus travesseiros. Depois de acordada, o constrangimento da pessoa não terminava e ela era obrigada a conversar com ET e Rodolfo.
O Gugu Cantor
As portas do sucesso de Gugu Liberato começaram a se abrir quando ele gravou a música do meu Pintinho Amarelinho. Música infantil com alguma sexualidade implícita e uma coreografia inesquecível – que eu mesmo não me lembro.
O Gugu Empreendedor
O sucesso de Gugu fez com que ele licenciasse uma série de produtos com seu nome, geralmente artigos infantis. Havia um cavalinho Upa Upa, revista em quadrinhos, um mórbido Gugu Equilibrista, um passa e repassa sem torta na cara, mas dois deles merecem atenção especial: a toca do Gugu e o Guru do Gugu. O primeiro era uma barraca que comportava até duas crianças de porte pequeno e servia para que os infantes pudessem acampar no quintal ou na área de serviço do apartamento. Foi uma febre inimaginável. O segundo era um boneco felpudo que, quando apertado em sua barriga, repetia uma das três palavras gravadas em sua memória: sim, não ou talvez. Cabia ao possuidor do Guru do Gugu a tarefa de fazer perguntas para o boneco do tipo “eu vou passar de ano?”, “A Milena Gosta de Mim?”, “A vida faz Sentido” e o ser inanimado daria a resposta definitiva: sim, não, ou talvez. Só um gênio para ter essa ideia.
O precursor das Fake News
Muito antes de elas se popularizarem e se tornarem peça central de qualquer campanha política, Gugu Liberato produziu uma das maiores fake news da história. A produção do seu programa gravou uma entrevista com dois homens que supostamente seriam membros do Primeiro Comando da Capital e eles fizeram revelações bombásticas: ameaçaram de morte apresentadores policiais de canais concorrentes do SBT e o Padre Marcelo Rossi. Depois, soube-se que os homens não eram membros de nada e que as ameaças não existiam. O feedback do caso foi tão negativo que acabou por afundar de vez o já decadente Domingo Legal e em pouco tempo Gugu foi parar na Record.
Reste em Paz.
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