Discurso na ONU


As televisões do país estavam todas sintonizadas para escutar o presidente fazendo seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas. Ele ajeitou o microfone, respirou fundo, lançou um olhar perturbador em direção ao vazio e começou.

“Boa noite a todos os héteros do meu país. Vim aqui nessa organização terrorista para denunciar as séries de falácias que os globalistas tentam espalhar a respeito do meu governo, tá ok? Ficam falando que tem queimada na Amazônia, isso aí é uma grande mentira inventada pela mídia comunista que quer implantar a ideologia de gênero nas escolas e esvaziar a presença de deus na nossa sociedade”.

No silêncio de sua casa na Virgínia, Olavo de Carvalho engolia um Viagra para poder se masturbar durante o discurso. Assim como ele, centenas de seus discípulos se embrenhavam em uma catarse onanista. O presidente prosseguia.

“No tocante a essa qüestão aí que falam da Amazônia, essa qüestão do fogo aí é muito simples. A verdade é que meu pau é muito quente, além de muito grande e apontado para a direita é claro, hehe, e o calor das minhas ereções e elas são muitas tem aumentado a temperatura do planeta e queimado umas plantas aí que não faz diferença nenhuma para quem não é vegano, que são esses onguistas venezuelanos que gostam de planta”.

No Twitter os apoiadores do Bolsonaro confirmavam a hipóstese presidencial. “É verdade, é verdade. O pau do presidente é muito quente mesmo. Eu mesmo já queimei a língua quando coloquei na boca”, disse um comentarista da Jovem Pan. O Antagonista publicou que só uma coisa não era menor do que o pênis presidencial: a coragem do juiz Sergio Moro.

“A única solução para isso aí é que tem que ver isso aí arranjando mais mulher para esfriar o meu pau. Só assim esse problema, que repito, que não existe e é invenção dos comunistas, que isso aí vai mudar tá ok?”.

Pelo menos três ministros de Estado ofereceram suas mulheres para resolver o problema. Um assessor internacional do governo colocou seu próprio ânus a disposição em prol do bem-estar presidencial, principalmente se isso amenizasse as críticas injustas a qual o mandatário é diariamente submetido.

“Me perguntam se eu não gosta da floresta e é claro que eu digo que eu gosto disso aí, tá certo, nossas florestas tem muito nióbio, só tem que tirar os índios que estão lá, colocar eles pra explorar as riquezas deles, tá ok? O que não pode é ficar o Jean Willys lá com os índios sem fazer nada com os quilombolas”.

Luciano Hang foi visto correndo nu e com o corpo pintado em verde e branco pelos corredores das lojas Havan de Brusque.

“Se me perguntam quem é de interesse de destruir as florestas eu é que pergunto quem tem o interesse de me matar? Um ativista comunista tentou me matar no ano passado e ninguém fez nada nisso daí. Eu passei quatro mês fazendo cocô dentro de uma bolsinha, dia-sim-dia-não para poder preservar o meio ambiente, mas isso daí ninguém fala”.

A terra já era praticamente plana, quando o presidente passou a descrever em detalhes precisos e exatos os aspectos gerais da suas fezes nos últimos meses. “No começo quando eu voltei a cagar no vaso eu senti muita dor, tá ok? Quando eu olhei no vaso tinham apenas uma bolotinhas de cor levemente esverdeada e bastante densas, extremamente mal-cheirosas e com uns filetinhos brancos pendendo sobre a água. Demorou muito tempo para que eu voltasse a fazer cocô tradicional, com aspecto mais pastoso e cor de chocolate ao leite, daquele que caí em formato espiral. Infelizmente, logo eu passei por novas cirurgias que voltaram a atormentar o meu trabalho intestinal".

Para a surpresa de não muitos, o presidente seguiu falando durante dez minutos sobre cores, densidades, cheiros, formatos e observações microscópicas sobre fezes. Ele era realmente um especialista no assunto.

O tempo do discurso presidencial estava perto do fim quando ele deu uma leve engasgada. Alguns dos presentes trocaram olhares curiosos e o presidente logo começou a tossir. Uma tosse cada vez mais forte, como se algo estivesse preso dentro dele. Ele tentou tomar um gole de água, mas não conseguiu engolir. Afrouxou o nó da gravata e começou a sair merda da sua boca. Merda como às que ele descreveu em todas as suas especificidades minutos antes. Pessoas assistiram a cena com nojo e espanto. Um segurança fez menção de ajudar o presidente, mas a merda não parava de sair, formando um grande monte fecal no chão. A roupa do presidente logo foi ficando encharcada de bosta, que a essa altura não saia apenas de sua boca, mas de todos os seus poros. Ao terminar seu discurso intranquilo, o presidente se viu metamorfoseado em um grande pedaço de cocô.

A reunião precisou ser interrompida para que as faxineiras arrumassem o lugar. O próximo discurso começaria após o Coffee Break, que não despertou o apetite de ninguém.

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