Debate Filosófico: Luto

Neste mundo atual em que conhecemos cada vez mais pessoas, somos constantemente tomados pela impressão de que cada vez mais gente está morrendo. Atores, cantores, políticos, muita gente conhecida morreu e um número ainda maior de desconhecidos, pobres miseráveis anônimos conhecidos apenas por uma fração ínfima e insignificante da população encerrou sua jornada terrestre.

No entanto, ao mesmo tempo em que conhecemos mais pessoas e sabemos mais sobre seus falecimentos, cada vez mais nos importamos menos com elas. Mesmo assim, a morte exerce uma espécie de pressão social pela consternação. Diante da morte de qualquer pessoa minimamente relevante, todos nós somos obrigados a demonstrar tristeza e de alguma forma relacionar o falecido a alguma pequena façanha de nossas existências. Devemos de alguma forma manifestar o nosso luto, seja com respeitoso silêncio, lágrima, com gritos histéricos pedindo para ser enterrado junto com o defunto.

Junto com as manifestações de pesar vêm também eles, os fiscais de luto alheio que começam a monitorar as lamentações acerca de uma morte conhecida. Quem tem o direito de ficar triste? Qual é o nível de tristeza que alguém pode demonstrar diante de uma morte? Qual é a relevância do seu pesar e a honestidade do seu lamento? Quais são os limites do humor?

Foi justamente para discutir essas e muitas outras questões, que o CH3 voltou a receber desenhistas, nutricionistas, arqueólogos, psicólogos, coveiros, padeiros, fazendeiros, milicianos, piscianos e bacharéis de química para mais um de nossos Debates Filosóficos.

O Auditório do CH3 estava lotado de pessoas vestindo preto e de fãs de Lana Del Rey, que jogaram o endereço errado de um show no Waze. A mesa de honra seria composta por Walter Mercado, Walter Casagrande, Mãe Diná, Joãozinho Trinta, Josef Stalin, Vladimir Putin, Vladimir Brichta, Lázaro Ramos e o cantor Biafra. De última hora, o ministro Gilmar Mendes concedeu uma liminar excluindo Walter Mercado da mesa, uma vez que não havia provas de que ele realmente estava vivo. Revoltado, Mercado se sentou na plateia, entre Fábio Porchat e Hebe Camargo.

A abertura do debate ficou sob a responsabilidade de Vinícius Gressana, que veio especialmente de Curitiba para o evento. Vinícius roubou a cena com suas intervenções loquazes, seu humor ácido e alguns surtos psicóticos. Ele leu uma velha xerox de uma aula de psicologia da comunicação sobre o luto e, após essa breve introdução, mandou todo mundo tomar no cu e foi embora.

Rodrigo Constantino pediu a palavra e disse que essa é uma questão muito pessoal e o que luto pode ser respeitado sempre que uma pessoa querida morre, mas que não há um padrão. “Na América eu posso me masturbar em público quando minha mãe morrer e fazer uma piada se eu assim quiser, porque lá nos somos livres”. A palestra precisou ser interrompida porque muitas pessoas começaram a vomitar pensando na figura de Constantino se masturbando. Ele seguiu falando que há apenas uma situação na qual o luto não deve ser respeitado. “Quando petistas ou apoiadores do PT morrem, o luto não deve ser observado, deve ser boicotado e comemorado. Quem lamentar a morte de um petista deve morrer. Quem lamentar essa morte também e por aí vai”, disse, antes de arrancar a rouba e ser recebido em um trenzinho da alegria pelos apresentadores do Manhattan Connection.

Mãe Diná questionou se essa ideia não levaria a um longo processo de mortes que exterminaria o povo brasileiro, no que foi respondida em um abafado uníssono do trenzinho da alegria de que este era justamente o objetivo, que morresse todo mundo até que apenas eles sobrassem, assim eles estariam sempre certos.

Pai Jorginho de Ogum surgiu com sua roupa manchada de sangue seco e fez um pequena contextualização. Disse que sempre que uma pessoa morre a internet se divide entre as pessoas que lamentam a morte e as que fazem piada sobre o assunto e logo surgem os guardiões do luto, rebatidos pelos defensores da liberdade de expressão e em poucos minutos alguém afirmará que o nazismo é de esquerda.

Eis então que Danilo Gentilli levantou as mãos e a descoberta de sua presença fez soar um alarme no recinto. Felizmente, ele foi rapidamente neutralizado e seu corpo agonizante foi arremessado aos porcos famintos que Jorginho de Ogum cria no porão do auditório.

A discussão não caminhava para lugar nenhum, quando Sergio Moro invadiu o estabelecimento afirmando ter provas de que comunistas estavam naquele recinto. Stálin e Lenin ficaram surpresos com a afirmação, mas ficaram ainda mais chocados quando foram informados que eles já estavam mortos e deveriam deixar o recinto, junto com Mae Diná, Joãozinho 30, Hebe Camargo e Walter Mercado. Mercado esperneou dizendo que ainda estava vivo, mas foi também neutralizado. Antes que fosse arremessado aos porcos, ele foi salvo por Paulo Guedes.

A esta altura, o trenzinho da alegria já contava com muitos participantes do MBL e, para dispersar os presentes, o pedreiro Marcão acionou o alarme de incêndio. Não obtendo sucesso, ele realmente incendiou o auditório, o que fez com que os membros do trenzinho fossem carbonizados com um sorriso no rosto.

A direção do CH3 se reuniu após o encontro fracassado e discutiu o que havia dado de errado nesse debate filosófico. Chegamos a conclusão de que o assunto não ajudou, uma vez que é uma questão que não envolve muitos pontos de vista  e que a lista de convidados foi ruim. A judicialização da presença na mesa de honra também atrapalhou. Vamos rever todos os nossos debates para destacar os pontos fortes e o que pode ser melhorado, para voltar a organizar eventos de sucesso, em um novo local, já que nosso auditório se encontra em chamas.

Comentários