Solução de Luca

Bruno de Luca é um verdadeiro fenômeno brasileiro. Há 37 anos o paulistano de sotaque carioca vem irritando todo e qualquer cidadão brasileiro com quem ele mantém contato. Desde o médico responsável pelo seu parto, passando por monges budistas, velhinhas jogando bingo, o recepcionista de hotel que ele chamou de favelado, até o porteiro que interfonou para ele agora de manhã avisando que chegou o almoço, não há quem não sinta uma raiva irracional, uma vontade incontrolável de atirar objetos pela janela toda vez que vê o rostinho rechonchudo de De Luca, seu sorriso aberto de 40 dentes.

Bruninho começou sua carreira no papel de criança chata da novela Fera Ferida, quando tinha apenas 11 anos. Depois disso, ele interpretou Fabinho, um adolescente chato da primeira fase da epopeia de Malhação. Este papel catapultou De Luca para o estrelato nacional e, desde então, nunca mais conseguimos nos livrar dele, que deixou de ser ator para ser apenas um adulto chato, que já foi repórter do Faustão, do Luciano Huck, do Vídeo Show e do Big Brother. Desde 2007, ele comanda um programa de viagens que mostrar os piores lugares de cidades turísticas (o pior lugar do mundo sempre vai ser o local onde Bruno de Luca estiver), fora as diversas participações especiais em quadros da Globo.

Em 2003, por exemplo, Bruno participou de um quadro do Luciano Huck chamado “Subindo a Serra”. A atração reunia um grupo de personalidades em um hotel fazenda de Teresópolis e eles eram filmados enquanto realizavam algumas tarefas insignificantes. BdL dividiu os holofotes com personalidades como Felipe Dylon, Kayky Brito e Dado Dolabella, no que deve ter sido uma seleção de casting do inferno.
Rolê aleatório
Claro que ele já esteve na Dança dos Famosos em 2010, conquistando o honroso quarto lugar – ocasião em que, ao vivo, confessou que queria ficar com sua parceira de dança. Recentemente, ele esteve na 8ª temporada do Super Chefs, quadro do programa da Ana Maria Braga e foi um dos primeiros eliminados. “Já tentou, sempre falhou, não importa. Tente de novo, fracasse de novo, fracasse melhor”. Eis a vida do nosso super-herói que, felizmente, não usa capa porque isso o deixaria ainda mais patético.

Quando não está invadindo nossa televisão, Luquinha se mantém em destaque com notícias insignificantes. A última? Ele era apaixonado pela Sandy e sonhava em namorar ela. Certamente, o único menino brasileiro que pensava nisso. Alguém precisa parar esse punheteiro. Ou não. Talvez seja melhor ele continuar nessa condição, para que não consiga procriar. Aliás, certa vez em um programa do Porchat, ele confessou que atrapalhou muitas gravações de Malhação porque estava sempre se masturbando no banheiro entre uma cena e outra.

É difícil mensurar exatamente o que é que provoca tanto asco na figura deluquiana. Talvez seja seu sotaque forçado, seu sorriso de criança insuportável, sua aparência de criança mimada em um corpo de adulto, seu comportamento estilo “amigão da galera”, sua cara de “você sabe com quem você está falando”, sua incrível falta de talento e carisma associada a sua presença constante na televisão, mesmo com todos esses defeitos. Todos esses fatores provocam essa raiva interna, essa vontade de dar tapas naquela cara rechonchuda.
Essa eterna cara de quem acabou de ganhar um PlayStation do papai Noel, mesmo não tendo se comportado ao longo do ano

O esforço empreendido pelo Grupo Globo de comunicação para manter o emprego desta figura inestimável chega a ser comovente. Ou melhor, eu diria que as Organizações Globo empreendem um esforço para encontrar uma função social, uma razão de ser para uma figura opaca, praticamente uma missão divina desenvolvida pelo conglomerado multimídia.

Porque convenhamos, mostrar para as pessoas os lugares onde elas não devem ir em uma cidade, não chega a ser uma tarefa muito meritória. Aliás, o programa de viagem de Bruno cria um verdadeiro Enigma de² Luca: ele mostra os lugares mais desinteressantes de uma cidade, logo, você já sabe aonde não ir. Por outro lado, se ele esteve naquela local durante a gravação do programa, é grande a chance de que você não o encontre por lá, o que deve servir de estímulo para a visita. No entanto, não podemos descartar a possibilidade de você encontrar pessoas parecidas com B. d. Luca nesses locais – sim, isso é possível, e por isso a melhor chance de você não encontrar o irritante personagem é permanecer trancado dentro de casa, uma vez que Bruno de Luca provavelmente não tem mandados judiciais para invadir residências alheias. Se preferir sair de casa, em todo caso, evite a Barra da Tijuca.

Pois bem, eu pretendo unir o útil ao agradável, ao mesmo tempo em que faço com que a existência desta figura se torne justificável. Já tendo fracassado em diversas atrações que exploram talentos ocultos de contratados da Globo, nosso Brunão já aprendeu diversas coisas. Chegou a hora de ele retornar este conhecimento para a sociedade.

O que eu sugiro é: Bruno de Luca cozinhando para crianças carentes. Bruno de Luca dando oficina de Zumba para adolescentes excepcionais. Vou mais longe e, inspirado em um quadro do programa da Angélica, sugiro que Bruno seja utilizado para patrulhar áreas perigosas do Rio de Janeiro. Ninguém vai traficar drogas perto do nosso herói porque ninguém se atreveria a querer cruzar com tal figura. Indo ainda mais além ,Bruno poderia fazer uma oficina com um cara do Lar Doce Lar e ir construir pontes, abrir estradas e erguer casas em comunidades isoladas da Amazônia. Viraria um programa de TV, é claro, para ser exibido lá por 2050. Bruno de Luca sozinho, com apenas uma câmera, levando o desenvolvimento para os confins da Amazônia durante 30 anos. Ou passando 30 anos no sertão nordestino abrindo poços artesianos e realizando a transposição do Rio São Francisco, completamente sozinho, com apenas uma enxada. Seria um ótimo documentário. Uma mistura de Largados e Pelados com Caldeirão do Huck.

Você, pobre pessoa sem imaginação, pode imaginar que isso talvez seja uma exploração, que talvez eu esteja sugerindo escravizar Bruno de Luca para que ele resolva a ineficiência do serviço público. Eu diria que não é isso. O que eu proponho é uma espécie de indenização por danos morais coletivos, por todas as vezes em que precisamos nos segurar para não quebrar objetos quando vimos ele mandando um “galeirinha iraida” na TV, uma retratação por tantos anos de sofrimento e a certeza de um Brasil melhor.

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