CH13

Estávamos todos reunidos, estávamos eu, o Vinícius, o Cão Leproso, o Pai Jorginho, enfim, quando falo todos eu quero dizer todos mesmo. Jogávamos conversa fora quando a Polícia Federal adentrou o aparelho, digo, o estabelecimento gritando que era para todo mundo botar a mão pra cima, não se mexer nem falar nada que eles eram a Polícia Federal. Estavam acompanhados daquele ministro do guarda-chuva, que começou a fazer uma série de acusações.

Ele disse que estávamos fazendo uma visível balbúrdia e que ele não ia tolerar isso aí. Tentamos, por nossa vez argumentar que estávamos apenas comemorando os 13 anos de fundação do nosso blog, o Blog CH3. Comecei a apresentar as pessoas – aquele ali é pai-de-santo, o outro ali é pedreiro, aquele ali é um cachorro sem braços, esse daqui ele é..., caramba, como que eu ia dizer que havia um cartunista entre nós. Antes que eu terminasse o raciocínio, um policial de coque samurai me perguntou o que eu era e tive que engolir em seco e falar que era jornalista.

Esquerdopatas, inimigos do povo, começaram a gritar todos em uníssono. Pude perceber que pessoas com tochas pegando fogo começaram a chegar no lugar em que estávamos. Precisamos insistir que não era nada demais, que estávamos apenas comemorando o aniversário do nosso blog.

Outro policial, este com barba lenhador, ligou para um cidadão chamado Olavo e pediu informações sobre o nosso blog, sendo logo informado que nós não estávamos alinhados ao discurso anti-globalista, moralista em defesa da família conservadora. A estrutura de uma enorme fogueira começou a ser montada por um cidadão com uma camiseta escrito “Eu Odeio Javaporco”.

“Se é o aniversário de um blog, porque vocês estão cheios de números 13 espalhados por aqui, o número do comunismo, do petismo, do satanismo!” bradou o ministro. Oras, é porque é o aniversário de 13 anos do blog, ano passado no de 12 anos estávamos cheios de números 12 – Ciro Gomes ele rebateu – e pensei que isso não tinha ajudado muito, mas afirmei que, caso não fossemos extintos, em 4 anos estaríamos comemorando 17 anos e cheios de balões infláveis com números 17.

“Então porque é que os números 13 estão pintados de branco dentro de estrelas vermelhas”, me perguntou o inquisidor. Aí complicou, pensei. Como é que eu vou explicar que é só o senso de humor, que somos um blog de humor e que essa daí é apenas uma piada, parte desse nosso humor peculiar que não é muito compreendido pelas massas, mas como eu poderia fazer isso sem fazer com que parecesse que eu queria afirmar que o cara era burro.

“E como você explica essas faixas com os dizeres ‘Lula Livre’, ‘Dilmãe’, fora os bonecos de Olinda de figuras centrais do nazipetismo nos últimos 30 anos?”. Pensei que aí ficava difícil de defender mesmo, mas, caramba era só uma piada, não imaginei que estaríamos chamando os olhares das instituições do Brasil para esta pequena e inofensiva celebração.

A fogueira já estava acessa e um grupo de pessoas com camisas da seleção brasileira já preparava a forca, no que eu imaginei que fosse uma maneira pouco eficiente de promover uma chacina. Bem, mas foi nesse momento que o cara do javaporco percebeu que Alfredo Chagas utilizava um boné do MST. Porra, agora o pau vai comer, eu pensei.

Bem, o ministro então começou a fazer um longo discurso. Desabotoou sua camisa – e eu pensei que isso estava indo longe demais – e mostrou uma cicatriz no ombro. “Tá vendo isso aqui? Eu conquistei isso caçando comunistas como vocês”.

Foi aí que, vejam vocês, Hanz, o Pansexual, que estava desacordado depois de introduzir no ânus um chumaço de algodão embebido em vodca, foi aí que o Hanz despertou e vendo aquela cena do ministro exibindo o ombro, ele não se controlou. Partiu para cima do ministro que, vejam vocês, não refutou o ataque e os dois começaram a se atracar ali na nossa frente e o pessoal da fogueira, talvez um pouco enojado com a situação, resolveu ir embora e todas aquelas pessoas que se amontoavam em torno da fogueira provocaram um congestionamento humano na volta para casa e os policiais federais conversaram em seus walkie-talkies de maneira frenética, passando uma série de códigos inteligíveis que acabaram por desmobilizar os agentes e de repente estávamos novamente sozinhos com nossa festa um pouco bagunçada e aquela cena dantesca no canto do salão.

“E agora”, pensamos? Coube a Alfredo Humoyhuessos, com seu senso de humor ainda mais particular, resolver a situação. Colocou uma grade em volta do ministro e Hanz com as palavras “Cadeia do Amor”. Já tínhamos uma enorme fogueira acessa e, desta forma, pela primeira vez em tantos anos, celebramos o aniversário do CH3 com uma festa junina. Como é que nunca tínhamos pensado nisso nos 12 junhos passados?

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