Os memes antigos representam uma espécie de paradoxo temporal: eles surgiram antes que os memes fossem conhecidos como memes. Eram apenas vídeos idiotas e engraçados, compartilhados infinitamente em longos processos de transferência de dados pelo MSN. De certa forma, são como palavras que surgiram antes da invenção da palavra palavra. Já eram palavras, mas não eram conhecidas ainda enquanto palavras porque a palavra não existia enquanto palavra.
Pois bem, muitos destes memes pré-memes envelheceram mal e nos tempos atuais podem provocar culpa pelo riso outrora despejados em sua baixa resolução. E é exatamente isso que o CH3 quer: fazer com que você sinta todo o peso moral da dor na consciência por ter se divertido com isso em tempos tão remotos que em breve serão retratados em uma novela de época da Globo.
Velhinho que comeu e não pagou
Qual é a graça desse vídeo que expõe as condições sub-humanas as quais uma prostituta se sujeita para poder pagar os boletos que insistem em chegar na sua casa? Sim, putas também têm casas. Uma mulher pobre, sem estudo, que não sabe nem pronunciar a palavra que garante o seu sustento. A culpa é dela? Ou é da sociedade machista em que vivemos, que relega as mulheres pretas e pobre aos porões da humanidade. E este senhor de idade, que também não teve acesso a educação e atua como se a mulher fosse um objeto sexual? O cúmulo: rimos deste pobre miserável que acha que não deve pagar o valor ínfimo que a pobre mulher cobrou por um programa pelo fato de ele não ter conseguido ejacular, o que também pode ser fruto da falta de acesso aos modernos medicamentos provocadores de ereção.
Jeremias bebo da moto
Até quando nós, do alto de nossa condição burguesa, continuaremos a rir dos moradores de periferia que sofrem com o alcoolismo? Jeremias certamente é um homem que teve todos os seus direitos negados, uma vida negada que teve o álcool como único refúgio de afirmação. Sim, não podemos negar que ele comete um grave equívoco ao tentar dirigir bêbado, colocando em risco a vida de muitas pessoas. Mas, o que ele tem a perder? Uma vida miserável? Além do mais, nosso riso reflete o preconceito com o sotaque nordestino que foge do padrão midiático de dicção imposto por anos de telenovelas pasteurizadas.
Lasier Martins
Aqui estamos todos nós, rindo deste pobre senhor que toma um choque de uvas enquanto trabalhava. Vamos nos esquecer de que a cada ano mais de 25 mil pessoas morrem no Brasil, vítimas de acidentes de trabalho? Falta de segurança no trabalho não é piada, é um problema nacional ao qual nossas autoridades não se atentaram o suficiente. A única coisa que devemos fazer é exigir mais segurança dos responsáveis, para que os trabalhadores não tenham suas vidas ceifadas em condições completamente insalubres. Além disso, a reação da apresentadora ao final mostra também o drama da aceitação dos mais velhos no mercado de trabalho e como os mais jovens não se importam com eles.
Valentona
A velha espetacularização da violência, principalmente quando envolve duas mulheres, ainda mais pobres, ainda mais sem escolaridade. Elas brigam em público para a alegria dos machos que acreditam que o espancamento mútuo é um prelúdio do sexo lésbico, esse fetiche secular que não contribui em nada para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Ruth Lemos
Uma pobre trabalhadora é jogada aos leões da selva midiática e não consegue desempenhar seu papel de maneira aceitável. Rimos de uma mulher que não se encaixa nos padrões estabelecidos pela sociedade. Talvez ela tenha uma deficiência, talvez ela tenha ficado nervosa. É engraçado rir das falhas das outras pessoas? Certamente não é. Ruth lemos teve sua vida destroçada e toda sua capacidade profissional colocada em dúvida por um momento de fraqueza ao qual todos nós estamos sujeitos.
Ainda poderíamos falar do bullying que provocou o desastrado escape existência do Star War Kid. O drama vivido pelos estagiários no caso do Homem Celular. E nem precisamos falar do absurdo que é a bicha muda e tantos outros memes dos quais rimos até hoje, todos eles dignos de problematização o que poderia dar início a elaboração de um post eterno e infinito que também seria alvo de problematizações em uma espiral dissertativa que terminaria apenas no dia em que toda a humanidade se dizimasse pelos mais variados motivos.
Pois bem, muitos destes memes pré-memes envelheceram mal e nos tempos atuais podem provocar culpa pelo riso outrora despejados em sua baixa resolução. E é exatamente isso que o CH3 quer: fazer com que você sinta todo o peso moral da dor na consciência por ter se divertido com isso em tempos tão remotos que em breve serão retratados em uma novela de época da Globo.
Velhinho que comeu e não pagou
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| E esse merchan da Fanta? |
Qual é a graça desse vídeo que expõe as condições sub-humanas as quais uma prostituta se sujeita para poder pagar os boletos que insistem em chegar na sua casa? Sim, putas também têm casas. Uma mulher pobre, sem estudo, que não sabe nem pronunciar a palavra que garante o seu sustento. A culpa é dela? Ou é da sociedade machista em que vivemos, que relega as mulheres pretas e pobre aos porões da humanidade. E este senhor de idade, que também não teve acesso a educação e atua como se a mulher fosse um objeto sexual? O cúmulo: rimos deste pobre miserável que acha que não deve pagar o valor ínfimo que a pobre mulher cobrou por um programa pelo fato de ele não ter conseguido ejacular, o que também pode ser fruto da falta de acesso aos modernos medicamentos provocadores de ereção.
Jeremias bebo da moto
Até quando nós, do alto de nossa condição burguesa, continuaremos a rir dos moradores de periferia que sofrem com o alcoolismo? Jeremias certamente é um homem que teve todos os seus direitos negados, uma vida negada que teve o álcool como único refúgio de afirmação. Sim, não podemos negar que ele comete um grave equívoco ao tentar dirigir bêbado, colocando em risco a vida de muitas pessoas. Mas, o que ele tem a perder? Uma vida miserável? Além do mais, nosso riso reflete o preconceito com o sotaque nordestino que foge do padrão midiático de dicção imposto por anos de telenovelas pasteurizadas.
Lasier Martins
Aqui estamos todos nós, rindo deste pobre senhor que toma um choque de uvas enquanto trabalhava. Vamos nos esquecer de que a cada ano mais de 25 mil pessoas morrem no Brasil, vítimas de acidentes de trabalho? Falta de segurança no trabalho não é piada, é um problema nacional ao qual nossas autoridades não se atentaram o suficiente. A única coisa que devemos fazer é exigir mais segurança dos responsáveis, para que os trabalhadores não tenham suas vidas ceifadas em condições completamente insalubres. Além disso, a reação da apresentadora ao final mostra também o drama da aceitação dos mais velhos no mercado de trabalho e como os mais jovens não se importam com eles.
Valentona
A velha espetacularização da violência, principalmente quando envolve duas mulheres, ainda mais pobres, ainda mais sem escolaridade. Elas brigam em público para a alegria dos machos que acreditam que o espancamento mútuo é um prelúdio do sexo lésbico, esse fetiche secular que não contribui em nada para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Uma pobre trabalhadora é jogada aos leões da selva midiática e não consegue desempenhar seu papel de maneira aceitável. Rimos de uma mulher que não se encaixa nos padrões estabelecidos pela sociedade. Talvez ela tenha uma deficiência, talvez ela tenha ficado nervosa. É engraçado rir das falhas das outras pessoas? Certamente não é. Ruth lemos teve sua vida destroçada e toda sua capacidade profissional colocada em dúvida por um momento de fraqueza ao qual todos nós estamos sujeitos.
Ainda poderíamos falar do bullying que provocou o desastrado escape existência do Star War Kid. O drama vivido pelos estagiários no caso do Homem Celular. E nem precisamos falar do absurdo que é a bicha muda e tantos outros memes dos quais rimos até hoje, todos eles dignos de problematização o que poderia dar início a elaboração de um post eterno e infinito que também seria alvo de problematizações em uma espiral dissertativa que terminaria apenas no dia em que toda a humanidade se dizimasse pelos mais variados motivos.
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