As previsões para 2019


Pai Jorginho de Ogum estava radiante. Suas previsões para o ano de 2018 foram espetaculares. O pai-de-santo que por vezes é acusado de charlatanismo por seus detratores mal-amados, acertou que a França seria campeã da Copa do Mundo, que Bolsonaro seria eleito presidente e que haveria uma grande tensão nuclear que não chegaria às vias de fato. Um verdadeiro fenômeno.

Ao contrário dos anos anteriores, no 1º de Janeiro deste ano Jorginho de Ogum não estava largado em um sofá comendo restos de pernil e se afundando em cachaça de má-qualidade. De camisa social desabotoada, devido a sua cada vez mais protuberante barriga, Jorginho entornava uma taça de espumante, com o dedo mindinho levantado. Me recebeu cheio de sorrisos e repetindo em voz alta “esse ano foi muito bom, esse ano foi excelente”.

Depois das protocolares piadas repetidas anualmente (“Já sei o que você veio fazer aqui” – “convenhamos que essa não é uma adivinhação tão difícil”), partimos logo para sua sala de previsões, não sem antes tropeçar sobre o corpo de Marcão, que dormia no chão fantasiado de Batman.

O homônimo do herdeiro do trono real sentou em sua cadeira, que rangeu diante do seu sobrepeso pungente, fechou os olhos e começou a brincar com elásticos entre os dedos. Botou as mãos sobre os olhos, bufou, e disse que estava pronto. Me perguntou quais eram os questionamentos para o ano de 2019. Respondi que essa pergunta eu e que faria. Afinal, o que é que as pessoas querem saber? Tenho a impressão de que nada mais interessa a ninguém, ou que, foram criadas bolhas tão restritas de convivência, que não existe um único assunto que seja de grande interesse público, os interesses são difusos. Para determinados grupos, o novo iPhone é de interesse, outras pessoas mal sabem o que é um Smartphone. Política, Futebol, todos os assuntos estão restritos a grandes pequenos grupos que não se comunicam entre si.

Ficamos diante de um impasse, e então resolvemos consultar os assuntos mais buscados no Google em 2018. Alguns eram restritos ao ano passado e não se aplicam. Mas no que é possível, vamos lá:

Big Brother
“O programa terá regras cada vez mais confusas e muito descontrole emocional dos participantes. Alguém será linchado na grande mídia por se envolver em alguma polêmica. No fim do ano ninguém se lembrará quem foi o vencedor”.

Jair Bolsonaro
“Fará exatamente o que se espera dele, para o bem e para o mal. Vai ser uma tragédia anunciada, mas quem gosta vai continuar gostando, independente do que aconteça com a justificativa de que acabou a mamadeira de piroca”.

Greve dos caminhoneiros
“Foi tenso, mas não vai acontecer de novo. Não neste ano. Espero”.

Como fazer crepioca
“Basta bater bem o ovo, clara e gema, com duas colheres de farinha de tapioca. Depois coloca na frigideira, ou no recipiente de sua preferência”.

Por que ou Porque?
“Use o por que, separado, no meio das frases, quando for explicar um motivo. Use o porque, junto, quando for responder uma pergunta”.

Pabllo Vitar
“Vai continuar indo longe demais, sendo vítima de campanhas difamatórias. No entanto, não sei se elas vão pegar agora, uma vez que obrigatoriamente ela deixará de ser uma figura oculta do governo”.

Neymar
“Fará muitos gols, se envolverá em polêmicas baratas por simulações de faltas, será campeão francês, mas ninguém realmente se importa com o campeonato francês. Nem ele. Terá uma grande desilusão amorosa”.

Comentários