Banksy

A comoção tomou conta do Reino Unido. O príncipe Charles, o eterno herdeiro do trono real, foi diagnosticado com uma doença rara e mortal, sendo decretados os seus últimos dias de vida. Camilla Parker Bowles se transformou na viúva oficial da nação. Os filhos de Charles passaram a só usar preto. A interminável rainha Elizabeth usou uma série de botons que alguns poucos especialistas compreenderam como um sinal de seu luto antecipado.

Se estivéssemos em outros tempos, é provável que Charles se recolhesse em um castelo distante com muros fortificados, passando os últimos dias de sua vida ao lado das pessoas que ele amava, caso essas pessoas realmente existissem. A verdade dura é que ele poderia ficar sozinho em sua cama, sendo cuidado por enfermeiras mediamente remuneradas.

Mas, vivemos em tempos conectados. Diante da morte, Charles procurou um coaching que reorganizou os processos de sua vida. Dessa forma, essa figura de orelhas grandes e visual sempre aparentemente abatido, se metamorfoseou em um digital influencer pré-mortem. Charles, ou Carlos, como dizem os portugueses, pulou de paraquedas, fez rafting nas Cataratas do Niágara, entregou cestas básicas na Mauritânia, deu o pontapé inicial da final da FA Cup e se transformou no primeiro monarca Youtuber.

Seus stories se tornaram os mais assistidos do mundo, com os bastidores do Palácio de Buckingham e os protocolos da vida de um aspirante ao trono real. “Quer viver isso tudo? Tem que nascer no lugar certo, kkkkkk, vlw, flw”, teria dito em livre tradução.

E foi justamente em um desses vídeos de duração limitada na internet que Charles se virou para as câmeras e disse: “Eu sou Banksy” e morreu.

A enfermeira ainda tentou sacolejar Charles e perguntar “Banksy, vossa alteza está dizendo que é a verdadeira identidade do artista de rua anônimo e inominável, o mistério contemporâneo mais bem guardado, a interminável fonte de questionamentos?”. Mas, Charles estava morto.

Esta poderia ser apenas mais uma paródia da panificadora história de Didi Mocó, mas estamos aqui falando de Carlos, o Príncipe de Gales, o falecido ex-herdeiro do trono britânico. E ele não queria apenas comer pão no céu, ele havia afirmando que era Banksy. B-A-N-K-S-Y. O homem que desenhou grafites irônicos, icônicos e iconoclastas em muros sagrados de Israel e outros lugares públicos famosos e aparentemente inacessíveis para intervenções artísticas arrojadas.

Pois, este homem não era um rapper decadente, um artista holandês, um quadrinista se livrando do vício em masturbação, ou um coletivo minimalistas que quer implantar uma doutrina socialista nas escolas brasileiras. Este homem era o príncipe Charles. Um poço de falta de carisma, o eterno aspirante a coisa nenhuma, a Chayote Popsicle. O homem que vendeu um quadro por milhões de libras, apenas para destruí-lo diante dos olhares incrédulos dos leiloeiros e gerar milhares de visualizações nas redes sociais, este homem era Charles Philip Arthur George.

A notícia foi tratada com incredulidade nas redes sociais, que são, afinal, quem nos tempos atuais moldam essa entidade conhecida como opinião pública, entidade que sente a constante necessidade de ser moldada. Lógico que Banksy não seria a porra do Príncipe Charles. Esse orelhudo azedo não seria o gênio que todos nós admirávamos tanto. Outros argumentavam que seria completamente banksyano revelar sua verdadeira identidade antes de morrer. Se a história fosse verdadeira, seria genial. Aliás, teríamos que reconhecer que Princípe Bansky era a personalidade viva mais interessante do mundo. Sim, entre os 7 bilhões de seres humanos que respiravam o ar deste planeta (mesmo que alguns por meio de aparelhos artificiais), Charles, o grafiteiro de Gales, era o mais genial de todos.

A sorte é que o mundo tem uma série de investigadores voluntários, muito deles desalentados pela revolução tecnológica. Logo começaram a cruzar os dados sobre a agenda pública do Príncipe Charles e as notícias sobre as aparições de rabiscos do Banksy e o resultado, é claro, foi surpreendente.

Sim, Charles esteve em Israel na véspera de todos os dias em que um desenho de Banksy apareceu no muro de separação da Palestina. Alguém já havia notado essa curiosidade anos antes, mas ninguém levou a sério a possibilidade de que o príncipe fosse o artista. Mas, vejam só, isso ajuda a explicar como os desenhos apareceram por lá. Só um futuro rei, um monarca dinástico poderia ter acesso tão livre e incólume a uma área fortemente vigiada por soldados ferozes e dispostos a promover a truculência em nome da ordem.

Alguém falou que não havia registros de Charles nas diversas cidades inglesas onde os desenhos de Banksy apareceram. Essa pessoa ainda mostrava dados que apontavam que o vocalista do Massive Attack era a aposta mais precisa. Além do governador de São Paulo, João Dória, mas logo foi descoberto que ele só ia às cidades para apagar os desenhos de Banksy, vestido de gari.

A história ganhou ares de lenda urbana, muitas pessoas acreditavam que os Stories de Charles foram editados, outros que ele nunca morreu e apenas fugiu para o pantanal. Mas, havia quem saboreasse o prazer de imaginar Charles, de terno, gravata e stencil decorando muros do mundo inteiro.

O fato é que depois da morte de Charles, nenhum desenho de Banksy voltou a aparecer em qualquer lugar do mundo. Os conspiracionistas de sempre apontavam que talvez fosse essa a estratégia, que o verdadeiro artista aproveitou-se do hype com a história para se aposentar e escapar das garras da lei. Ou que, talvez, tivesse combinado a história com o quase-defunto, que já não estava no auge de sua sanidade mental.

O consenso final parecer ter chegado apenas no momento em que as páginas Carlos, Príncipe de Gales, e Banksy se fundiram na Wikipédia.

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