Meu Like, Minha Vida


Ganhará a eleição presidencial que ocorre dentro de 50 dias o candidato que melhor entender e atender os anseios da população. De nada adianta prometer gerar emprego, reativar a indústria, tirar o nome do SPC, exterminar vagabundos, liberar as dorgas, criar estátuas para o juiz Sérgio Moro em todas as praças do Brasil, dar independência ao Banco Central, promover o Estado Mínimo, o livre-comércio ou combater a Nova Ordem Mundial: o maior medo do homem contemporâneo é ficar no vácuo nas redes sociais.

Chega de ficar feliz com um retuíte. Chega dessa vontade de apagar postagem no Facebook que não teve pelo menos 10 curtidas na primeira hora. Chega de ter que viajar para lugares maravilhosos para tirar fotos fantásticas e fingir uma felicidade forçada apenas para ter cem likes no Instagram. Chega dessa ansiedade inútil provocada pela sensação de que ninguém presta atenção no que você fala por aí. Chega! O que o povo não aguenta mais é se humilhar em troca de aceitação social. O candidato que tiver uma proposta razoável para resolver esse problema larga com vantagem na corrida eleitoral.

E eu, que não sou candidato, tenho uma solução para isso: um novo programa social de distribuição de curtidas nas redes sociais. O nome dele seria “Meu Like, Minha Vida”, ou talvez “Vácuo Zero”, ou ainda “Bolsa Curtida”. Uma equipe de funcionários contratados pelo Estado seria responsável por curtir toda e qualquer publicação feita nas redes sociais pelos cidadãos brasileiros. Seria uma espécie de Renda Mínima do Eduardo Suplicy, só que nesse caso uma base de “interação mínima”, para garantir que ninguém fique no vácuo nas redes sociais.

Claro que o projeto ainda terá que ser discutido em audiências públicas, mas penso em algo como: pelo menos dois retuítes e duas curtidas por Tweet; pelo menos 15 curtidas e um comentário no Facebook; pelo menos 20 likes no Instagram. De acordo com o acúmulo de material, outros benefícios podem ser conquistados, por exemplo: a cada cinco textões no Facebook viria um compartilhamento e um comentário de “disse tudo”. Depois de certa quantidade de posts com os filhos ou com a esposa, o cidadão ganharia um comentário elogiosos sobre a beleza de sua família. Tenho certeza que esse projeto garantirá a felicidade de todos.

Para os críticos de mais um programa social, para os Novistas e MBListas contra o inchaço da máquina pública, darei aqui a resposta que já foi repetida por Marina Silva, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Eymael e todos aqueles que sabem que há exageros, mas que não dá para mudar muita coisa: falamos aqui do Estado Necessário. Um Estado que supre as necessidades do cidadão, no caso, a necessidade por carinho virtual.

Colocar o programa em prática é fácil. Todos os candidatos já têm suas guerrilhas de robôs, responsáveis por manipular a opinião pública. O Estado contrataria os administradores desses robôs e os colocaria para garantir a interação mínima necessária ao bem estar individual. Tiraríamos essas pessoas da ilegalidade e garantiríamos emprego durante o ano todo, aquecendo a economia. Tudo isso fazendo um serviço importante para a sociedade.

Adendo: Esse programa, é claro, é para ajudar os mais necessitados. Não falamos aqui de dar likes para a Pugliesses, Felipes Netos e similares. Falamos de ajudar o brasileiro humilde, que por vezes tira uma foto bonita no Instagram e é completamente ignorado pela ditadura da selfie sorridente.

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