Analisando as fotos de urna dos candidatos

Uma breve análise superficial sobre a aparência que os candidatos à presidência da República têm na foto de urna eletrônica.

Álvaro Dias pareceu um galã de meio idade, uma espécie de Julio Iglesias brasileiro, pronto para soltar um “Bésame Mucho, como se fuera esta noche la última vez”. Posso ver essa foto de Álvaro Dias em uma capa da coleção Perfil, em que ele interpreta grandes clássicos do cancioneiro brasileiro como “Tudo Passará” e “Porto Solidão”. Esta foto também poderia ilustrar uma propaganda para o programa de rádio que Álvaro Dias comanda na madrugada, embriagado de Whisky, soltando as mais românticas para os casais que estão juntos fazendo sexo por recreação ou procriação.

A foto de João Amoedo foi retirada diretamente de um daqueles flyers de palestras sobre os desafios do Brasil para os próximos 20 anos, daquelas em que o palestrante vai fazer uma breve provocação, jogar um amontoado de dados na cara do público e terminar com uma frase instigante do tipo, só depende de você para mudar essa situação. O mais curioso, é que provavelmente ele já faz isso.

Bem, se tivemos essa impressão, o que falar do vice do Amoedo, o Professor Christian, que é uma palestrante do TED com anúncio na revista Superinteressante, ambulante? Esse sorriso de quem tem as respostas para os problemas intrigantes?

Jair Bolsonaro olha para a câmera com um ar assustado, um pouco arredio, típico de um cão vira-lata que não sabe se vai receber um pedaço de comida ou uma paulada na cabeça. Também poderia ser a última foto tirada por um daqueles caras que metralhou um cinema sabe, que o Jornal Nacional divulga “fulano de tal tirou esta foto minutos antes do atentado”.

Não sei se vocês já ouviram falar da Síndrome de Capgras, uma estranha doença em que o paciente sempre acredita que está diante de um impostor, seja essa pessoa seu pai, sua mãe ou seu próprio reflexo no espelho. A foto de Guilherme Boulos provoca por um instante essa inquietante sensação, ele está diferente do que aparente ser em suas aparições públicas, mantém um sorriso cafajeste, digno de um ator de chanchada dos anos 70, com um olhar um tanto melancólico, de quem passou as últimas horas chorando e está sob o efeito de remédios controlados.

A foto do Ciro Gomes pode não mostrar, porque está muito fechada em seu rosto, mas podemos certamente perceber que ele está com um braço dobrado por sobre o ombro, segurando um paletó, como se estivesse em uma propaganda das Casas Colombo ou da Aramis ou de qualquer outra camisetaria famosa.

Cabo Daciolo: Uma simulação computadorizada de como estaria hoje uma daquelas crianças desaparecidas. Mas essa simulação fugiu de casa e subiu em um morro. Sua foto de funcionário do mês é pregada em postes nos quais a família pede informações sobre seu paradeiro.

Eymael - o democrata cristão - parece um irmão brasileiro de Donald Trump, impressão que só não podemos confirmar porque sua foto não é colorida e dessa forma não sabemos se ele é alaranjado. Podemos observar que Eymael - o democrata cristão - não envelheceu nada nos últimos anos: ele permanece igualmente idoso desde 1985. No mais, essa foto P&B passa a impressão de estar no memorial de alguma grande empresa, reverenciando o seu fundador falecido em 1977. Aliás, talvez Eymael - o democrata cristão - realmente tenha falecido e ninguém tenha percebido, sua propaganda deste ano terá os mesmos vídeos que ele gravou para a campanha de 1990.

Geraldo Alckimin não olha diretamente para a câmera, parece estar olhando para um ponto difuso e desconexo, que não conseguimos decifrar. Um olhar tímido, que quer parecer calculadamente natural, típica foto de Facebook que as pessoas colocam querendo parecer espontâneas, querendo parecer que elas não ficaram horas tentando acertar este sorriso despreocupado, de quem não está forçando nada, é naturalmente belo e pleno.

Talvez esta seja a associação mais complicada de se fazer. Mas olhem para o rosto de João Goulart Filho, este sorriso de quem está muito feliz com a vida que leva, utilizando essa camiseta preta de gola careca. Certamente ele utilizava bermudas enquanto tirou essa foto e estava prestes a fazer uma caminhada pelo leblon, parando para tomar uma água de coco por R$ 12 nas proximidades. Essa foto de João Goulart é típica de um cidadão que escreve crônicas sobre a vida no Rio de Janeiro em um suplemento dominical da imprensa carioca.

Lula, certamente pela experiência acumulada de quem está aí concorrendo à presidência da República desde 1989, fez uma foto que não poderia estar em outro lugar que não fosse a urna eletrônica.

Marina Silva olha para a câmera por cima, em um ângulo completamente diferente do que estamos acostumados. Isso faz com que esta pareça ser uma propaganda de produtos relacionados à saúde e a plenitude, mostrando as pessoas satisfeitas na vida, que superaram desafios e agoram podem olhar por cima da carne assada, porque elas vieram, viram e venceram.

Henrique Meirelles tem o sorriso satisfeito de quem sabe que o melhor investimento é o investimento em qualidade de vida. A cara de Meirelles é a típica de alguém que faz propaganda para o Bradesco Investimento, para o Itaú seguro de vida, para o Santander Cap ou seja lá qual for o negócio do banco. O pior é que, eventualmente, Meirelles poderia ser isso se ele quisesse, mas por enquanto ele é o grande garoto propaganda de banco que quer governar o país a partir da sua imagem de credibilidade e segurança.

Professora Vera: não conheço, mas achei seu sorriso supersimpático e imagino que ela seja daquelas pessoas que contam histórias rindo, com uma simpatia magnetizante. Um grande avanço do PSTU em relação a Zé Maria e seu olhar penetrante de quem queria refundar a sociedade sobre novas bases.

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