Guia CH3: Como fazer comentários entendidos na Copa do Mundo

O futebol, este esporte disputado por 22 atletas e que atraí a atenção de milhares de espectadores ao redor do mundo, chegará ao seu ápice a partir da próxima semana com a Copa do Mundo. Os maiores atletas e os mais tradicionais países dividirão o gramado com ilustres desconhecidos de países que duvidamos que realmente existam.

A Copa do Mundo é um prato cheio para os velhos especialistas de sempre e esse texto é para você juntar a eles. É possível dar opiniões aparentemente abalizadas sobre o que acontece no campo de futebol, mesmo sem entender nada. O que importa é a atitude. Nesse texto, escolhemos o fácil caminho do comentarista de história, aquele que sempre acha que o passado se repete no futuro e ignora qualquer informação nova para formar sua opinião. Alguns comentários funcionam bem se você falar como o Galvão Bueno.

Grupo A
Se morrer, morreu

Rússia: Todos vocês assistiram Rocky IV, correto? Espero que sim. Assim sendo, os russos são preparados por um método científico, são muito fortes e aplicados. São verdadeiras máquinas. “Mas a máquina não copia o talento. Em 1958, o Garrincha entrou em campo, entortou dois russos e acabou com toda a frieza científica deles”.

Arábia Saudita: Seleções árabes sempre serão forte fisicamente. No caso da Arábia Saudita sempre haverá a lembrança das muitas goleadas que sofreram. “É uma seleção que não tem nível para Copa. Mas a eliminatória asiática é muito fraca”. Lembre-se do lendário goleiro Al-Deayea.

Egito: Seleções árabes sempre serão forte fisicamente. Fale que os egípcios retornam à Copa após muito tempo, que nesse período eles dominaram o futebol africano, mas falhavam nas eliminatórias. Voltaram agora que tem o Salah, estrela do Liverpool e ídolo no Egito. “Ele investiu do próprio bolso para construir um sistema de abastecimento de água na cidade em que ele nasceu. É essa consciência que falta ao jogador brasileiro”.
Plano Salah de Crescimento

Uruguai: A velha garra uruguaia. Ressalte isso a cada carrinho, a cada jogada um pouco mais ríspida, a cada vez que um adversário cair em campo ou quando um Uruguaio ressuscitar e voltar ao gramado. Sobre um jogador que fizer uma boa jogada: “Esse daí, ele é muito bom de bola, mas é ruim de cabeça. Para cada gol, é uma besteira que ele faz por não ter a cabeça no lugar”.

Grupo B

Portugal: Cristiano Ronaldo. Toda análise sobre a seleção passará pelo craque português e como sua seleção depende completamente de sua presença. “Portugal tem muita torcida no Brasil, graças a herança da colonização portuguesa, um país irmão que roubou as nossas riquezas e nos condenou a um futuro de miséria, mesmo assim temos que tratá-los com simpatia e reverência”.
Cristiano Ronaldo marca o gol e aponta para o solo: "Satanás fez esse gol".

Espanha: Sempre que os espanhóis acertarem três passes consecutivos, fale que esse é o Tiki Taka, o tradicional toque de bola espanhol. “Mas falta um pouco mais de objetividade, não é mesmo Júnior?” Fale de Sérgio Ramos, grande zagueiro, porém violento, e menospreze algum jogador. “Esse Koke é muito grosso, destoa do resto do time. Seria melhor colocar o Thiago, que é craque e filho do brasileiro Mazinho, saudoso Mazinho, tetracampeão em 94”.

Irã: Seleções árabes sempre serão fortes fisicamente. Na ausência de informações sobre o futebol iraniano, se atente aos fatores geográficos, acordos nucleares, revolução dos xás e alguma coisa sobre o cinema local. “Mas em campo fica para trás. Porque é o futebol e essa é a graça do futebol, ele supera as guerras”.

Marrocos: Seleções árabes sempre serão fortes fisicamente. No caso do Marrocos, fale que a equipe tem um contra-ataque forte, mas que comete muitos erros na defesa. “Eles acabam confundindo disposição para marcar com violência”.
Ponte aérea Rio-Casablanca

Grupo C


França: Esses negros maravilhosos. Fale que a França tem uma geração muito habilidosa, mas que costuma a pipocar nos momentos decisivos, perderam uma Eurocopa em casa para um time de Portugal sem Cristiano Ronaldo. Sempre que a câmera focar o técnico Didier Deschamps diga “esse daí não jogava nada, mas é um bom treinador”.

Austrália: Nenhuma pessoa com um mínimo de sanidade mental chegou a assistir um jogo do campeonato australiano e isso vale para os próprios moradores da Austrália. Diga que é um time de muita força física, tem uma jogada área perigosíssima, influenciados pelo rúgbi. “E tem esse Tim Cahill, que é experiente. Se movimenta pouco, mas sabe os atalhos para o gol”.
Daqui a pouco eu posto uma foto do meu peru

Peru: De volta a Copa após 36 anos, eles certamente não estarão lá para competir, mas apenas para festejar e lembrar de Cubillas, os técnicos brasileiros Didi e Tim. O resultado não importa, apenas a celebração. “Esse time tem várias figurinhas conhecidas do público brasileiro como Guerrero, Cueva, Trauco, Yotún. Yotún teve passagem apagada pelo Vasco, não é mesmo Lédio?”. Bem, você pode esquecer isso e apenas fazer trocadilhos jocosos com o nome do país.

Dinamarca: Em 1986 a seleção dinamarquesa chocou o mundo ao ganhar do Uruguai por 6x1 e levou o apelido de dinamáquina. Assim sendo, para todo o sempre entrará em campo uma seleção muito habilidosa. “Eles podem não ser a dinamáquina, mas são muito habilidosos. Esse Erikssen é muito bom jogador”.

Grupo D

Argentina: Fale do toco y my voy, da catimba argentina e do lendário técnico César Menotti – não confundir com o cantor – que dizia “hay que achinchar”, por mais que não existam registros dessa expressão eternizada por Galvão Bueno. Em suma, fale da Argentina como se ainda vivêssemos nos anos 70. “Apesar de ter uma equipe muito habilidosa, eles dependem muito do Lionel Messi, que não consegue repetir pela seleção argentina as atuações que tem pelo Barcelona”.
Que drrrrama amigo

Islândia: País minúsculo que chegou até a Copa porque Deus tem dessas loucuras. Tem uma torcida vibrante, que é um espetáculo a parte. “Eles jogam fechadinhos para sair rapidamente para o ataque. É uma equipe limitada, mas que sabe o que quer em campo”.

Croácia: Seleção que não faria feio em um campeonato de W11 com Luka Modric, Ivan Rakitic, Mateo Kovacic, Mario Mandzukic. Note que falar nome e sobrenome adiciona status a qualidade do jogador. “Eles fizeram parte da Iugoslávia, que era conhecida como o Brasil da Europa. Meio de campo muito qualificado”.

Nigéria: Toda seleção da África Negra está presa a um passado imaginado. Será sempre uma equipe que joga um futebol alegre, porém inocente. Tem muita habilidade, mas pouco apreço ao futebol tático. “Mas eles são perigoooooosos”.
Kanu, ele era perigoso

Grupo E

Brasil: A camisa pentacampeã, escola do futebol mundial, é sempre favorita, se reconstruiu após o 7x1, comandada pelo mastro Tite, que recuperou a nossa autoestima. “E tem em campo o menino Neymar, um jogador que faz a diferença. Tem tudo para ser o melhor do mundo se o Brasil ganhar a Copa”.

Suíça: O Ferrolho Suíço®. Mesmo se por acaso a Suíça jogar com 10 atacantes e sem goleiro, não se engane: essa é uma estratégia para se retrancar ao máximo possível. “Eles não tem vergonha de jogar na defesa e 0x0 para eles é uma vitória”.


Costa Rica: Uma seleção latina, que tem um futebol muito alegre. “Eles têm uma grande ligação com o Brasil. Muitos técnicos brasileiros, taí o Celso Borges que é filho do brasileiro Alexandre Guimarães, que é um ídolo local”.

Sérvia: Volte a falar da Iugoslávia, que era o Brasil da Europa. Depois se perca em uma série de comentários sobre a geopolítica local, a Guerra da Bósnia que separou a Iugoslávia em Sérvia, Montenegro, Croácia, Bósnia, Eslovênia, Macedônia e Kosovo. “Muitos conflitos étnicos que enfraqueceram o futebol local”.

Grupo F

Alemanha: Eles jogam uma coisa parecida com o futebol, são muito disciplinados. Desde o 7x1, temos que falar do processo de reestruturação do futebol alemão, forte investimento na categoria de base, que alcançou seu ápice naquela fatídica tarde no Mineirão. “Eles vêm fortes de novo, mas dessa vez o Brasil vem ainda mais forte”.

Vai tomar no cu!!
México: Jogamos como nunca, perdemos como sempre. Fale isso a cada derrota do país, mesmo que o México tenha atuado como um grupo de catatônicos em uma peça de teatro contemporânea. “O interminável Rafa Márquez. Taí o técnico Juan Carlos Osorio, escrevendo seus bilhetinhos. Ele é meio maluco, não é Caio? Não deixou saudade no São Paulo”.

Suécia: Seleção muito tradicional. “Mas não sei como é que o técnico abriu mão do Ibrahimovic. O Grande Zlatan. Ele teria vaga em qualquer time, não é mesmo? Você não queria ele no seu time, Casagrande?”.

Coreia do Sul: Um time muito rápido, com muito toque de bola, mas ao qual falta objetividade, além de um pouco de malícia. “Eles tiveram um técnico Gus Hiddink, que influenciou muito o estilo de jogo, daquela Holanda do Carrossel Holandês®. Mas falta a habilidade para fazer a diferença dentro de um esquema muito forte”.

Grupo G

Fellaini é o maior representante da grande
geração belga
Bélgica: A Grande Geração Belga®. Convém tratá-los como aposta certa ao título e inclusive ter ereções ao falar de Hazard, De Bruyne, Lukaku, Mertens do grande Napoli de Sarri. “Mas é a hora de eles se provarem durante essa Copa do Mundo”.

Panamá: Alerta para país centro-americano, que confunde alegria com pancadaria, habilidade com displicência. Na dúvida, fale sobre o grande Canal do Panamá. “Foi uma jogada dos Estados Unidos, para ter um controle total sobre o comércio da América Latina. Mas dessa vez, o Panamá eliminou eles da Copa, ironia do destino”.

Tunísia: Já falamos que seleções árabes ficam presas em um limbo? Que só resta falar da força física e ficar feliz que eles serão eliminados logo na primeira fase.

Inglaterra: O English Team. Sempre fale que o hino se chama God Save The Queen, ou, Deus Salve a Rainha. “Tem grande jogadores, mas é uma geração renovada, que eles estão preparado para a próxima Copa do Mundo. Mas, tem que ver se eles vão parar de amarelar na Hora H amigo”.

Grupo H

Polônia: Robert Lewandowski. Não é preciso saber sobre os outros jogadores da equipe, mas apenas bajular esse centroavante monstruoso, estrela do Bayern de Munique. Se em algum momento a TV focar o Boniek diga “esse daí que o Lewandowski precisava. Jogava muito, não é Casa? Porque se a bola não chega no Lewandowski, o que ele pode fazer?”.
Ele não gosta dessa história de prender a bola

Senegal: Toda seleção da África Negra é presa a um passado imaginado. Dessa forma, não será a seleção atual que entrará em campo, mas o Senegal de 2002, que surpreendeu a França e chegou as quartas-de-final com um futebol alegre, mas de pouca disciplina tática.

Colômbia: Tem uma geração excepcional, de Râmes Rodríguez, Quadrado, Falcão Garcia. Deram trabalho pro Brasil na última Copa e se bobear eles vão longe. “Taí o técnico José Pekerman, que comandou a base argentina por muito tempo, foi responsável por revelar Aimar, Verón, uma geração muito técnica. Ele preza muito o toque de bola”.

Japão: O futebol japonês é umbilicalmente ligado ao Brasil, graças a Zico que em 1990 desembarcou no país levando uma bola de futebol na bagagem e ensinou o povo a jogar futebol ao seu feitio e bater faltas com maestria. “Grande Galinho de Quintino. Membro da fantástica geração de 1982, que não levou a Copa e é uma pena”.
Momento em que o profeta Zico é apunhalado pelo apóstolo Alcindo Careca de Mullets

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