Nostalgia do K7

Você pode chamar de revival, saudosismo ou nostalgia. Ciclicamente a humanidade busca resgatar elementos de um passado remoto e idealizado, adicionando um simbolismo irreal para esta época, fato, objeto ou personagem. Acontece quando um cantor brega obscuro passa a ser idolatrado, ou quando um candidato fascista e defensor de um regime de cerceamento das liberdades individuais lidera as pesquisas eleitorais.

O mundo da cultura pop é certamente o mais atingido por essa onda nostálgica. Quantas séries recentes não foram aclamadas apenas por terem uma série de referências aos anos 80? Colocou crianças andando de bicicleta e, nossa, já é genial. A nostalgia se baseia no sentimento de que o passado era muito melhor, o que não deixa de ser verdade porque nós sobrevivemos a ele e não temos essa certeza em relação ao futuro. Enfim.

O novo objeto de culto saudista são as fitas k7. Para quem não conhece uma fita k7, ou cassete, as apresento:

Pode parecer estranho para as novas gerações, mas esta fita magnética enrolada dentro de uma caixinha com dois furos é capaz de reproduzir áudio. Existiam aparelhos específicos para se escutar esses objetos e se você parar para pensar, as fitas k7 eram revolucionárias na sua época.

- Você podia gravar músicas em uma fita k7. Sim, você podia selecionar aquela música que tocava na rádio e você adorava e então copiá-la. E repetir esse processo com várias canções. Você também podia copiar um disco inteiro emprestado de um amigo. Dar essas fitas de presente. Sim, a fita k7 era, de certa forma, a mãe da mp3, das playlists e do CD-R, além de ser a precursora da pirataria.

- As fitas k7 tinham capacidade de armazenamento variada, mas em alguns modelos era possível gravar até 120 minutos. Isso era mais do que o dobro do que cabia em um disco de vinil e 40 minutos a mais do que um CD suporta. Essa fita ainda poderia ser reproduzida em um pequeno aparelho compacto com fones de ouvido, chamado Walkman. Portanto, a fita cassete é a mãe do disc player e avó do iPod.

- Fitas K7 vendidas em rodoviárias tinha imagens de mulheres peladas na capa, totalmente aleatória ao seu conteúdo. O que cria um estranho elo entre este objeto, o XVideos e o Spam de e-mail.

Ok, pudemos perceber que esse dispositivo era genial, mas o mundo mudou e não faz nenhum sentido ter uma fita dessas no mundo atual.

O mesmo processo de ressurgimento de um formato defunto de reprodução de áudio ocorreu recentemente com os discos de vinil. Não parecia uma coisa óbvia, uma vez que os LPs foram suplantados pelos CDs há quase 30 anos, os próprios CDs soterrados pelas MP3s há 15 anos e estas derrotadas pelo streaming de cinco anos para cá, streaming que foi um fracasso quando surgiu no começo dos anos 2000. Mas enfim, o vinil perdeu para o disco de laser porque estes tinham uma série de vantagens:
- fáceis de guardar.
- maior capacidade de reprodução de dados.
- som melhor. Sim, todas as matérias e especialsitas na época em que o CD surgiu se masturbavam diante da qualidade do áudio digital. Hoje, como o mundo mudou, as ereções se voltaram para os graves inigualáveis do LP e aquele chiado charmoso.

Mas, se há algo que não se pode negar sobre os discos de vinil, é que eles são ótimos objetos de decoração. Dá pra pendurar na parede. Fotos grandes, algumas capas eram verdadeiras obras de arte. Sim, note que o termo “verdadeiro” sempre é usado para definir alguma coisa que não é exatamente isso. Então quando eu digo que eram verdadeiras orbas de arte, acabo dizendo que não eram obras de arte porra nenhuma.

Mas isso não acontece com a k7. Não tem mais nem lugar para reproduzir essa porra, não dá pra pendurar na parede, só vai servir para guardar poeira no canto da casa e para o pessoal de agência publicitária descolada ter mais um elemento para citar em seu anúncio de vaga de emprego arrombada.

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