Se a vida fosse como um julgamento no STF

Se a vida fosse como um julgamento no Supremo Tribunal Federal, creio que não haveria tempo para viver. Perderíamos a maior parte do nosso tempo em discussões acaloradas, reminiscências prolongadas e contextualizações históricas inacabáveis. Nenhum ato da vida seria simples e não podemos negar que a vida seria muito pior.

O mais rotineiro e cronísticos dos hábitos: comprar pão. Não seria nada parecido com o que fazemos hoje de pegar uma fila, pedir uma determinada quantidade de pães ou pegar esses pães por conta própria, pesá-los e depois oferecer certa quantia em dinheiro em troca desses pedaços de farinha fermentados.

No mundo dos julgamentos de supremos tribunais, o padeiro em pessoa apareceria no momento em que você pedisse três pães para te lembrar que o primeiro registro do pão, ou de algo parecido com um pão, foi feito pelos sumérios em 1873 a.C. e que os padeiros foram reconhecidos na primeira lista de funções profissionais elaborada pela República Brasileira em 1903.

Em algumas cidades do Brasil – não é o caso de Cuiabá – há uma divisão na venda de pães entres os moreninhos e os branquinhos e poderia ser que alguém entrasse com um embargo declaratório para proibir essa divisão, baseado na constituição brasileira que impede qualquer discriminação por credo ou cor. O padeiro defenderia sua opinião sobre o assunto falando por mais de uma hora sobre a história do pão, novamente, o dono do mercado citaria uma ampla literatura, o menino que pesa o pão explanaria por mais de três horas para argumentar que diante da precisão da balança, todos os pães são iguais e após seis horas de discussão a caixa do mercado iria pedir vistas, fazendo com que o julgamento demorasse alguns meses para ser concluindo, mas ainda iriam conseguir uma liminar que permitisse a segregação racial dos pães até que o julgamento fosse concluído.

Sem contar que seria um saco ter que usar essa roupa ridícula em todos os lugares

Se por algum acaso desse algum problema na hora de passar o seu pão no caixa, seria aberta uma longa discussão com a menina do caixa sobre o código de defesa do consumidor e ela lembraria que a legislação consumerista brasileira foi moldado dentro dos padrões estabelecidos na Noruega, que preza que há liberdade total para que os fornecedores estabeleçam seus próprios padrões de medição, sendo que o cliente por sua vez argumentaria que as jurisprudências do Procon mostram que o cliente em o direito a uma porrada de coisas e antes de se chegar a qualquer conclusão alguém alegaria que precisa pegar um voo, suspendendo o julgamento, que retornaria dentro de 18 dias úteis.

E assim seria na hora de pagar o ticket no estacionamento, na hora de passar por um cruzamento, hora em que os motoristas desceriam de seus carros para discutir a legislação brasileira sobre o assunto, apontando diversos pontos de vistas e lembrando que aquele cruzamento foi inspirado no modelo Congolês, país que preconiza uma série de coisas, relembrando que Martin Baron em sua obra já avaliou outras tantas coisas e que a base de todas as leis de cruzamentos é o código de Hamurabi, que foi influenciado pela escola francesa de artesanato, mostrando que, porra, você vai perder dois dias inteiros até passar por lá.

O sexo, sim, esse momento que dá a origem a vida e é o motivo da vida de tantas pessoas não seria como nós conhecemos. No momento em que um excitado parceiro perguntasse ao seu outro parceiro qual posição ele iria querer praticar, o outro iria responder que com base na constituição algumas posições não encontram jurisprudência e defenderia seu ponto de vista por vários pedidos de vênias, tempo suficiente para evaporar qualquer libido, fazendo com que o mundo caminhasse para um lento processo de extinção, que afinal, vejamos, não seria algo tão ruim para esse mundo igual a um julgamento.

Se a vida fosse um julgamento do STF as pessoas iriam falar por horas e horas e ninguém ia entender nada do dialeto adotado, o que não deixa de ser muito diferente do mundo atual no qual as pessoas não falam por horas e horas, mas mesmo assim não entendem nada do que as outras estão falando. Seria como se os textões de Facebook fossem materializados na vida real. Mas esse processo seria sobrestado de maneira pretoriana, provocando uma batalha verbal e verborrágica que inevitavelmente evoluiria para agressões físicas com objetos contundentes perfurando a caixa torácica de outrem.

Não há dúvidas que nesse eterno julgamento do STF, o mundo iria acabar. Desde que o Gilmar Mendes não aparecesse para nos libertar dessa prisão.

Comentários