O futuro distópico de Luan Santana

Já faz uns bons dez anos que o cantor Luan Santana está por aí, mexendo com as emoções do povo brasileiro. Enquanto uma parte da população gostaria de enchê-lo de porrada, outros tantos imaginam o dia em que poderiam possuir o corpo nu do rapaz.

Quando Luan surgiu, ele era apenas um jovem estrábico, promessa do sertanejo universitário, cantando sobre sol, mar, raio e meteoro da paixão. Com o tempo, ele foi evoluindo para um estilo romântico e nos tempos atuais é impossível caracterizar o gênero musical dele, que flerta com todos os estilos radiofônicos possíveis.

O que ninguém percebia nesse tempo, e acho que até hoje pouca gente parou para pensar sobre isso, é como as letras do campo-grandense são fortemente influenciadas pela ficção científica e sua imaginação por futuros distópicos. Isso aliado aos seus estranhos fetiches - o principal deles é ser um velho apaixonado - e sua vertente exibicionista, explicita naquela música em que ele deseja gritar muito enquanto faz sexo, a ponto de acordar todos os moradores de um prédio. O que é bastante improvável. No máximo ele conseguiria acordar alguns vizinhos.
Parece muito também com um espermatozoide de fogo fecundando um óvulo de mármore

Sua primeira música, como já lembramos, falava de um meteoro. Eis aqui sua vertente apocalíptica. Meteoros, é bom lembrar, não são legais. Eles são enormes pedregulhos que desabam do espaço a uma velocidade estonteante e são capazes de fazer um estrago danado, até mesmo exterminando a raça humana. “Ah, mas é um meteoro da paixão”. Não importa. Destrói do mesmo jeito. Meteoros não amam ninguém.

Outra canção ficcional de Luan é “Dia, Lugar e Hora”, em que ele fica elucubrando como seria a sua vida caso uma série de pequenas banalidades casuais do dia-a-dia não tivessem acontecido. A demora em um troco, brigas e agressões verbais na rua, enfim. Foi apenas por uma enorme combinação de casualidades que ele conseguiu encontrar o amor da sua vida e, desta forma, teve a estranha oportunidade de se oferecer para fazer um café no meio da rua, em seu primeiro encontro.

Sim, qualquer mínima ação no planeta pode desencadear uma série de outros acontecimentos imprevisíveis. Essa música é uma espécie de Efeito Borboleta do sertanejo, com a diferença de que ele não tenta mostrar nos versos seguintes ele vivendo como um aleijado por ter desistido de pegar o troco. Teoria do caos para principiantes.

Outro dos sucessos românticos do rapaz se chama “Te Vivo”, em que ele se aprofunda ainda mais nas questões da física quântica, imaginando viagens no espaço/tempo para encontrar a pessoa amada. No entanto, esse clipe serve de ponte para chegar naquela que é a grande obsessão do cidadão: ser um velho apaixonado. Se há um objetivo na vida de Luan Domingos Rafael Santana, este é o de envelhecer, mas envelhecer bastante, ficar um velho decrépito mas que continua muitíssimo apaixonado por sua mulher. No clipe de “Te Vivo”, ele usa toneladas de maquiagem para ficar com a aparência de um velho que, como já falamos da letra, ama muito sua esposa.

Foi quando ele cantou “Te Esperando”, que ele se aprofundou mais no tema. A letra fala sobre seu romance por uma mulher qualquer, que iria trocá-lo por um tal de Fernando, casar, ter filhos e tudo mais, mas que quando ela fosse velha, mas muito velha, ela poderia procurar o Luan que ele estaria lá pronto para dar uns pegas no sofá. A mulher pode estar desenvolvendo sintomas do Alzheimer - o que dificultaria que ela se lembrasse do cantor - com 90 anos, não importa: Luan vai estar lá, se utilizando de remédios modernos para manter uma ereção prolongada.

Mas, eis que então Luan chegou novamente ao assunto do amor na velhice e atinge sua distopia completa com “2050”. Nesta canção, ele cita a possibilidade de ser um taxista com ponto no aeroporto no ano de 2050 e que gosta de conversar com os passageiros para falar da paixão por sua esposa, uma senhora idosa, e ficar mostrando fotos dela para o passageiro, o que pode ser algo extremamente perigoso: mostrar fotos enquanto dirige pode causar acidentes no trânsito.

Ok, já falamos do seu desejo por ser um velho apaixonado, mas cabe a pergunta, porque afinal essa é a distopia de Luan Santana? Pois bem, tópicos distópicos geralmente tratam de um futuro improvável de acontecer e ao mesmo tempo assustador. Nada pode ser mais improvável ou assustador do que o ano 2050 previsto nesta canção.

Luan diz que ele pode ser um taxista, mas, sabemos que isso não irá acontecer. As chances de ele virar taxista são remotas e dependeria de, não sei, ele se casar 30 vezes em regime total de comunhão de bens, ter filhos com todas essas mulheres e se separar de maneira litigiosa. Isso claramente impossibilitaria que ele fosse um velho apaixonado. E, mesmo que tudo dê incrivelmente errado na vida do milionário cantor, conseguir um ponto de táxi no aeroporto é extremamente difícil. Assim, mesmo que ele se torne taxista por hobbie, ele terá dificuldade de trabalhar no aeroporto.

Por isso, a maior possibilidade de Luan Santana ser um taxista no futuro é a de que ele tenha um quadro em um programa de televisão, tipo o Táxi do Gugu. E isso, meus amigos, isso é realmente assustador. Totalmente distópico o futuro em que Luan Santana se disfarça de taxista para ficar mostrando fotos da esposa em um quadro de televisão.
Há palavras para descrever isso?

Bem eis outro fato improvável do futuro: alguém andar com uma foto impressa no bolso da camisa. Isso certamente não vai acontecer quando Luan tiver 59 anos. Além do que, é bem provável que não existam mais taxistas em 2050.

Por último, não podemos nos esquecer do que é mais improvável nessa canção: um taxista que goste de falar sobre o amor por uma pessoa ao invés de defender o extermínio sumário da população.

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