O julgamento de Lula

O mundo parou nesta quarta-feira para acompanhar o julgamento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, condenado em primeira instância por ter recebido um triplex no Guarujá como propina paga pela construtora OAS. Em vários pontos do país, populares exaltados se concentraram para protestar contra ou a favor da prisão do político e disparar textos ensandecidos de raiva nas redes sociais.

Equipes jornalísticas de todo o mundo se concentraram na Sala de Justiça do TRF 4 de Porto Alegre para cobrir cada detalhe deste momento histórico e não foi diferente com o CH3. Nossa reportagem esteve na capital gaúcha para reconstituir todos os passos do julgamento.

O clima estava tenso na Avenida Goethe, onde uma enorme arquibancada foi montada com torcedores dos dois lados. No meio da rua, um enorme octógno foi montado, onde lutadores fantasiados de Lula e Sérgio Moro faziam sexo explícito disfarçado de pancadaria desmensurada. A luta só terminou quando o telão começou a mostrar imagens do julgamento.

O desembargador Ferreira da Rocha iniciou a sessão informando a todos que estávamos no dia 24 de janeiro de 2018 e que naquele exato instante o relógio marcava 10h47. Algumas pessoas que acreditávamos que estávamos em 1876, 1964 ou 1989 se levantaram e foram embora. Quem também desistiu de acompanhar o julgamento foi o senhor Ernesto. De acordo com ele, seu relógio marcava 10h48 e ele atualiza seu equipamento todos os dias de manhã, logo que acorda, no 130. Ele jamais poderia aceitar que um juiz totalmente despreparado conduzisse um momento tão importante. “Eu não vou compactuar com essa palhaçada”.

Após falar por aproximadamente 47 minutos, explicando de maneira pormenorizada tudo o que foi escrito no primeiro parágrafo desse texto, Ferreira da Rocha abriu a palavra para o promotor Fernandes Vidal, do Ministério Público. O acusador falou durante 36 minutos, interrompeu sua acusação ao ser avisado de que sua braguilha estava aberta, e concluiu seus argumentos em mais 14 minutos.

Para o promotor, Lula é a própria encarnação do mal e que, uma vez que ele desconfia que a Justiça Divina talvez tardará para acometer o ex-presidente de um tipo raro e doloroso de câncer que fará com que todos os seus ossos e músculos se rompam lentamente, em um processo longo e agonizante, ele pedia que os homens mesmo fizessem Justiça. Disse não haver dúvidas de que o triplex estava no nome do Lula, conforme comprova uma corrente de Whatsapp que ele havia recebido naquela manhã e que ainda há fortes indícios de que o ex-presidente foi o metalúrgico responsável pela fabricação dos pregos que prenderam Jesus na cruz. Fernandes Vidal pediu então que Lula fosse condenado a prisão perpétua, com doses diárias de tortura física e mental, caso o contrário, ele mesmo iria pegar em tochas e formar grupos paramilitares para incendiar vivo o corpo do ex-presidente.

Terminada a fala da acusação, o desembargador Ferreira da Rocha passou a palavra para o advogado de defesa, excelentíssimo senhor Randolfe Lins e Paiva, sob os protestos do taquígrafo que disse que precisava pegar seu filho no colégio. O advogado chocou os presentes ao dizer que Lula merece sim ser condenado. Após uma pausa dramática ele concluiu “condenado por ser muito lindo”. Lins e Paiva fez uma série de elogios ao aspecto físico do ex-presidente, um homem que exala testosterona e rusticidade, capaz de fazer qualquer outro homem duvidar de sua heterossexualidade. Foi além e disse que nos últimos anos de convivência com o presidente, pode perceber que o mesmo tem um saco escrotal extremamente vigoroso, daqueles que só um chefe de Estado pode ter.

No total, Lins e Paiva falou sobre os órgãos genitais de Lula por 26 minutos, descontando o tempo em que ele precisou parar para esconder uma ereção aparente em suas cuecas. Concluiu sua fala dizendo que “se houver Justiça no mundo e eu como advogado, tenho que acreditar nisso, Lula será inocentado e saíra daqui hoje carregado nos braços do povo, sendo alimentando com espumante, morangos e creme de confeiteiro fabricado pela Rita Lobo”. Terminou por pedir a anulação da condenação e a abertura do processo de canonização de Lula.

Ferreira da Rocha interrompeu a sessão às 12h57 alegando que precisava fazer cocô. Marcou o retorno da mesma para às 13h38. Um repórter do CQC perguntou que cagada era essa que demorava tanto tempo e Ferreira da Rocha respondeu que teve um problema estomacal recente que prejudicou sua flora intestinal, de tal forma que suas fezes estavam saindo petrificadas em um processo longo e doloroso, o qual ele só conseguia concluir de mãos dadas com sua esposa e cantando Toquinho.

Pontualmente atrasados em seis minutos, Ferreira da Rocha voltou ao recinte com um sorriso de alívio pós-traumático. Reiniciou a sessão e mandou que o almoço fosse servido para os desembargadores. Durante os 40 minutos seguintes, eles saborearam paleta de cordeiro assada sobre a cama de nozes amanteigadas, com molho de açafrão reduzido no vinho do porto. Acompanhamentos: arroz biro-biro e farofa de bacon. Sobremesa: doce de abóbora com creme de leite.

O presidente do julgamento passou a palavra ao relator do processo, excelentíssimo desembargador Loures Monteiro. Entre uma garfada e outra, Loures elogiou a textura do carneiro e rebateu os argumentos da defesa. Mostrou uma foto de um nude de Lula que ele recebeu no Whatsapp e disse que a bolsa escrotal do mesmo não é nada disso do que foi afirmado pelo advogado, que não se compara, por exemplo, a virilha de Rodrigo Hilbert, esta sim um patrimônio nacional e que poderá ser responsável por pacificar o país.

No mais, ele disse que era um absurdo que um ex-presidente brasileiro estivesse envolvido nesse caso. “Guarujá? Pelamor. Num país que tem um lindo litoral nordestino - aliás, a origem do presidente remete a esse lugar, mas ele parece que só se lembra disso na hora de pedir votos – com as praias de Florianópolis, o litoral fluminense e, convenhamos, mesmo dentro do litoral paulista temos opções melhores. Antes fosse um flat em Ubatuba, Caraguatatuba, Bertioga, Peruíbe, que o fosse. Como o apartamento referido não é em Santos, e deus me livre, no litoral gaúcho, ilícitos ainda mais graves, mantenho a condenação ao ex-presidente Lula Inácio Luís da Silva pelo crime de organização de quadrilha para o mau-gosto na hora de comprar imóveis”.

Os aplausos ao voto acordaram o desembargado Ferreira da Rocha que tirava um leve cochilo após o almoço. “Se eu não tiro essa soneca, eu fico imprestável pro resto do dia e estou terminando de maratonar Stranger Things com meus filhos”. A palavra foi passada então para o revisor do voto, desembargado Guiomar Fonseca Albuquerque.

Fonseca Albuquerque prometeu ser breve na revisão. Começou apontando que na página 17 do voto do relator, ele notou o que pode ter sido um espaçamento duplo entre as palavras. Contestou a utilização de seis crases e percebeu um erro de digitação na página 36. Fora isso, questionou a regência de três frases e criticou o estilo utilizado no 47º parágrafo. Por fim, mas mais grave, ele disse que a formatação está completamente fora do padrão ABNT e, para piorar, o voto foi todo escrito em Comic Sans, o que é inconcebível. Dessa forma, ele só poderia ir contra o voto do relator e declarar que Lula é inocente.

Assim, caberia justamente ao presidente Ferreira da Rocha dar o voto decisivo. Ciente disso, ele começou a sua fala às 17h28, afirmando que faltavam exatamente duas horas e meia para o início do Jornal Nacional e que ele havia se comprometido em dar a decisão final logo depois que William Bonner desse boa noite e chamasse o repórter no link ao vivo, no caso o Régis Rösing, que entraria logo depois da sentença afirmando “e assim foi definido o julgamento”, fazendo um paralelo direto com os gols adivinhados pelo longevo repórter, só que ao invés de Romário, seria ele, Ferreira da Rocha, quem marcaria um gol.

O desembargador passou então a falar sobre seu histórico pessoal e sua ligação com os movimentos alternativos, afirmando que tatuou o nome das bandas Pavement e Guided by Voices em cada um dos antebraços, além de um hideograma japonês que significa Meat Puppets no meio das costas. Ele disse que em breve concluíra outra tatuagem, dessa vez sob o mamilo direito, da banda Modern Lovers - favor não confundir com Modern Talking, bem acima de um dragão de cavanhaque assando um burguer puro angus 200g.

Ferreira da Rocha passou então a analisar as guitarras de Wowee Zowee, que ele considera seu disco favorito dos anos 90, o que causou o primeiro grito de protesto da noite, por parte do advogado Lins e Paiva, que afirmou que tal opinião está completamente desamparada pela realidade, uma vez que todos sabem que o grande disco dos anos 90 é a estreia das Spice Girls. Para provar isso, ele chamou a plateia que cantou em uníssono Wannabe. O desembargador assistiu enfadonhamente a apresentação e disse que o Brasil é uma democracia em que todos são livres para opinar.

Informado que a novela das 19h já estava terminando, o desembargador mandou que Lula fosse chamado para escutar sua sentença. William Bonner chamou Régis Rösing e as câmeras de todo o Brasil focaram Ferreira da Rocha perguntando. “Lula, você se considera inocente ou culpado”. Vestido de macacão laranja Lula respondeu “meu único erro foi amar demais”. Incólume, o desembargado anunciou sua decisão: Lula era culpado e estava condenado a 7 anos de uma dieta de uvas passas.

Encerrada a sessão, os três desembargadores, o promotor de Justiça, o advogado do Lula, o próprio Lula e Régis Rösing foram para uma churrascaria, onde o ex-presidente comeu salpicão a noite inteira.

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