Retrospectiva 2017

Sempre que fomos nos lembrar de 2017 no futuro, isso se o futuro realmente existir um dia, teremos a percepção de que este foi ano em que a realidade foi transformada em um roteiro barato de ficção distópica. As próximas gerações olharão os livros de história e pensarão que isso não foi verdade, que os seus antepassados (no caso nós), inventamos tudo isso apenas para promover uma grande pegadinha. Trollagem eles olharão no dicionário de termos históricos.

Como é que nós não fizemos nada com o Michel Temer em 2017? O cara é menos popular do que sopa de uva passa com coentro e fez o que quis nesse ano. Foi gravado negociando compra de silêncio, viu surgir um escândalo de corrupção por dia na administração dele e enquanto isso aprovou medidas que vão foder com a vida da população por anos impopulares. Sério, como é que nós não fizemos nada com o Temer? As próximas gerações vão olhar para a gente tal qual nós olhamos para aqueles que não fizeram nada contra o nazismo?

A passividade popular diante de Temer é a marca da política de 2017. O cara tá lá chafurdando em fezes enquanto aprova uma reforma trabalhista para ajudar o pobre patrão, coitado, que não consegue gerar subempregos em um momento de crise. O cara se mantém no poder enquanto ajuda os coitados dos ruralistas, perdoando suas dívidas para que eles voltem a gerar trabalho escravo empregos no campo, enquanto o resto da população tem que pagar mais imposto.

O que nós fazemos contra isso? Fazemos posts raivosos nas redes sociais, achando que isso vai resolver algum problema. Estaríamos seguindo o exemplo do Donald Trump? O presidente da maior potência do mundo que toma decisões que podem acabar com o planeta baseado em argumentos de bêbado no bar? Que adora provocar e fazer ameaças em uma rede social, quase criando um apocalipse nuclear? Trump seria um roteiro de filme distópico inverídico, faria o Kubric pensar “não fode, isso não faz sentido”. Poderia ser uma comédia com Ben Stiller, mas nós acharíamos caricato demais. É apenas a realidade.

Se você ainda não se convenceu, pense que a grande personalidade de 2017 foi o menino do Acre. Um jovem imbecil de 24 anos que forjou seu próprio sumiço para promover um livro com ideias de merda. Para potencializar o estrume, ele montou uma instalação artística no seu quarto e criptografou a obra baseado em um manual da Disney. Quando foram entender o que ele queria dizer, todos perceberam que o Menino do Acre era o canalha do ano, do insólito ano de 2017.

No mundo pop, a grande personalidade sem dúvida foi a Anitta. A cantora brasileira desencadeou um plano de dominação mundial e não tenho dúvidas de que em poucos anos quando os alienígenas invadirem a Terra e pedirem aos primeiros pobres coitados que encontrarem para que eles, os alienígenas, fossem levados até o nosso líder, que esses alienígenas seriam levados para a Anitta.

Voltando para 2017, foi um ano de rebelião nos presídios e violência nas ruas brasileiras. Ano de atentados terroristas provocados por extremistas pilotando vans. Encontraram vestígios de papelão na carne consumida pela população, mas isso talvez não seja verdade. Boa parte da população começou o ano mesmerizada com um gestor que se vestia de gari para administrar a cidade limpando ruas, mas parece que felizmente perceberam a farsa antes do fim do ano.

Parágrafo especial – as mortes ilustres

Um ministro do STF morreu em um acidente de avião. Quem mais? Chester Bennington, Helmut Kohl, Belchior, Paulo Silvino, Chuck Berry, Russo, Wilson das Neves, Waldir Peres, Charles Manson, Kid Vinil, Zygmunt Bauman, Chris Cornell, Roger Moore, Adam West, Tom Petty, Marcelo Rezende, Sam Shepard, Aracy Cardoso, o fundador da Tramontina e parece que tantas pessoas famosas morrem sempre, não é mesmo? Mas é quase uma questão estatística, em um mundo com 7 bilhões de pessoas, milhões irão morrer e dentre dessas, pelo menos um punhado será de pessoas relativamente famosas.

Fim do parágrafo especial sobre as mortes ilustres
Minorias lutarem por seus direitos e conseguirem avanços e repressões violentas. Hollywood conviveu com a revelação de uma série de escândalos sexuais, que esperamos que contribuam para um futuro melhor, se o MBL deixar. Aliás como será para explicar para os jovens de daqui a 50 anos que Alexandre Frota virou uma das figuras mais influentes da internet? Como vamos explicar o MBL? Aliás, fico pensando se no futuro será difícil explicar o Kim Kataguri para as próximas gerações ou se a próxima geração será formada por uma multidão de kataguris.

Falando nisso, 2017 foi o ano que consolidou as fakes news. É um pouco doentio pensar nisso, mas a verdade é que se bobear metade das notícias que nós vimos nesse ano nas redes sociais não eram verdade. Provável que tenhamos acreditado em boa parte delas e isso é simplesmente terrível. As notícias falsas utilizadas para fins criminosos é talvez o grande mal do mundo atual e não sei o que pode ser feito sobre isso. Talvez precisássemos de um craque Neto gritando nos nossos ouvidos que nós não merecemos comer PÃO para que tomássemos jeito, tal qual o Corinthians campeão brasileiro.

Novo breve parágrafo, dessa vez sobre o esporte em 2017

Corinthians ganhou o campeonato brasileiro, o Grêmio a Libertadores, a seleção do Tite ganhou mais uma série de jogos em sequência no ano em que o jornalismo esportivo virou sinônimo de zoeira.

Fim do novo breve parágrafo

Mas, a grande cena do ano sem dúvida ocorreu durante a cerimônia de entrega do Oscar. No ápice da premiação, na hora da divulgação do melhor filme, Warren Beauty titubeou e Faye Dunaway não hesitou em anunciar La La Land. Todos já estavam no palco, chorando e agradecendo a família quando uma confusão no fim do palco se instalou e alguém surgiu para falar que ocorrera um erro e que o vencedor era na verdade Moonlight.

Uma gafe terrível, mas como seria bom se tudo pudesse ser resolvido dessa forma. Se alguém pudesse aparecer agora e revelar que ocorreu um erro, que 2017 era apenas o teaser de um novo episódio de Black Mirror e que agora tudo vai ficar bem.

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