Grandes Nomes da História (13)

Baloubet du Rouet

Sereno e decidido, Baloubet du Rouet é dono de um olhar penetrante, capaz de entrar na mente de seus observadores

Na primeira semana de Outubro de 2000, todas as atenções do Brasil estavam voltadas para um cavalo. Quais foram as razões que levaram Baloubet du Rouet a refugar e enterrar definitivamente as chances brasileiras de conseguir uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sidney? Veterinários, fisiologistas, psicólogos, taxistas, comentaristas de bar, todos tentavam em vão compreender os motivos.

O desempenho esportivo brasileiro naquela competição foi trágico. O judô trouxe duas pratas, nossas equipes de vôlei não chegaram na final, o vôlei de praia perdeu as finais e o time de futebol foi derrotado por Camarões. Nossos iatistas enfrentaram diversos problemas e suas medalhas conquistadas não foram douradas. Chegávamos ao último dia das Olimpíadas correndo o risco de não conquistar nenhum ouro pela primeira vez desde os Jogos de Montreal, em 1976.

Mas, ainda havia um esperança, depositada nas patas do cavalo francês Baloubet du Rouet, montado por Rodrigo Pessoa, também francês de nascimento, que formavam o melhor conjunto de saltos em equitação. Tricampeões do mundo, já haviam carregado o país à medalha de bronze na prova por equipes. No último dia de competição, a esperança era esta.

O conjunto franco brasileiro avançou bem pelas fases preliminares e se classificaram no primeiro lugar para a grande final, disputada no dia 1º de outubro, noite de 30 de setembro no Brasil. As famílias brasileiras se reuniram em frente da TV para assistir a prova do hipismo entre um e outro flash das finais do basquete e do vôlei.

Ao lado de outros quatro competidores, o conjunto brasileiro passou zerado pela primeira parte da final e seria o último a entrar na pista, já sabendo o que seria preciso para garantir o ouro. Assim sendo, quando Rodrigo e Baloubet foram anunciados, todos sabiam: se eles zerassem o segundo percurso, o ouro era brasileiro. Se cometessem uma única falta, iriam para um desempate com outros três atletas pelas medalhas.

Baloubet foi saltando os primeiros obstáculos, demonstrando toda a força e resistência de sua genética selecionada por mais de 250 anos. Um cruzamento que originou um alazão da raça sela francesa, nascido para saltar. Baloubet superou um difícil salto triplo e parecia que não haveria obstáculo capaz de interrompê-lo, quando o inesperado aconteceu. Diante de um obstáculo aparentemente simples, o cavalo se recusou a pular. Diante da perplexidade de todos, descobrimos que aquilo se chamava refugar.
Quem nunca passou por um momento desses na vida? Podemos dizer que Baloubet du Rouet teve um gesto humano, mesmo não sendo um.

Pessoa tentou o salto outra vez, mas o cavalo novamente refugou, o que provocou a eliminação do conjunto, ratificando a ausência do ouro olímpico brasileiro. Diante da expectativa nacional, Baloubet du Rouet soltou um “Brasil o caralho, aqui é França porra!”. A decepção de Rodrigo ao lado do seu cavalo, que por razões biológicas evolutivas não era capaz de demonstrar nenhuma emoção facilmente reconhecível, virou o símbolo do fracasso brasileiro, não somente esportivo, mas também enquanto nação.

Rodrigo e Baloubet seguiram vencendo competições, mas viraram motivo de chacota. Eles seriam aqueles que refugavam na Hora H. No entanto, sempre há uma chance de se redimir, geralmente não aproveitada também, mas ela veio para o conjunto brasileiro nas Olimpíadas de Atenas, em 2004.

Não havia tanta expectativa sobre a dupla homem-animal, que chegou a final sem muito brilho e terminou a primeira parte da final atrás de outros 22 adversários, com oito pontos de punição. Zeraram o segundo percurso, o que poderia ser considerado apenas um salto de honra, quando o impensável ocorreu. Um a um, os tais 22 adversários começaram a derrubar obstáculos em sequência e ao final da somatória, o brasileiro estava empatado em segundo lugar. Rodrigo e Baloubet venceram o desempate e conseguiram uma medalha de prata improvável.

Dois meses depois, no entanto, os exames antidoping pegaram o cavalo do medalhista de ouro, o irlandês Cian O’Connor, pelo uso de substâncias ilegais. Após o longo prazo para recursos, no dia 03 de julho de 2015 o irlandês foi desclassificado e Rodrigo e Baloubet foram agraciados com a medalha de ouro que parecia destinada a eles quatro anos antes.

Baloubet du Rouet morreu no início de agosto, com 28 anos de idade, período dentro da expectativa de vida de um equino. Sites internacionais especializados lamentaram a morte e foram enfáticos ao afirmar que Baloubet foi o maior cavalo saltador de todos os tempos. Rodrigo Pessoa também prestou homenagens ao seu parceiro, que apesar da fama e da glória máxima esportiva, sempre será lembrado no Brasil pela eterna refugada da noite de 30 de setembro de 2000.

Comentários