Os melhores sambas-enredo de 2017

Neste fim de semana a Marques de Sapucaí será a passarela do samba e foliões do planeta inteiro se dirigirão até a Avenida para ver carros alegóricos aleatórios, fantasias cheias de pluma, referências bibliográficas duvidosas e muitas genitálias. Cumprindo uma tradição recente, o CH3 faz uma análise dos cinco melhores sambas enredos do sagrado/profano ano de 2017.

1) Mocidade Independente de Padre Miguel
Tradicional escola, apartada das conquistas desde que o seu patrono Castor de Andrade veio a óbito. Para este ano, eles tentarão em vão recomeçar uma era de conquistas com o tema “As mil e uma noites de uma Mocidade pra lá de Marrakesh”. O trocadilho maroto do título já antecipa a qualidade do enredo, explicado da seguinte forma pelo carnavalesco da agremiação: “Fizemos do Saara uma passarela, e no reino do Marrocos, o nosso conto transformou minutos em mil e uma noites de alegria e prosperidade, ao vestirmos a fantasia, tecemos um tapete mágico onde desfilaram os sonhos da Mocidade”. O Melhor trecho do samba: “Põe Alladin no agogô, tantan na mão de Simbad. Meu ouvido é de mercador”, uma união de fábulas infantis com instrumentos musicais, fechada com uma afirmação completamente desconexa da realidade.
Na fantasia criada pela Mocidade, Aladdin conhece o índio Papa Capim e juntos criam uma aliança global pelo planeta

2) Beija Flor de Nilópolis
A eterna campeã do carnaval avançará pela passarela com um enredo sobre Iracema, a virgem dos lábios de mel, aquele livro chato pra cacete do José de Alencar que te obrigaram a ler no Ensino Médio e que até hoje é responsável por uma geração de pessoas que acham que não tem saco para a leitura. A letra é uma espécie de resumo simplificado rimado da obra dos quais dois trechos podem ser destacados: “pega no amerê, areté, anama” e “A jandaia cantou no alto da palmeira, no nome de Iracema, lábio de mel, riso mais doce que o Jati, linda demais cunhã-porã iterei, vou cantar jureme, jureme, jureme, vou cantar jurema, jurema. Uma história de amor, meu amor”. Vai pra cunhã-que-te-porã.
Iracema chega na Avenida dançando até o chão

3) Unidos da Tijuca
Escola responsável pela revolução carnavalesca dos últimos anos, ao misturar Michael Jackson com Ayrton Senna e samba, a Unidos da Tijuca desfilará o enredo “Música na Alma, Inspiração de uma Nação”. O tema aparentemente simples, capaz de ser preenchido por qualquer coisa se torna mais complexo uma vez que, por trás da generalidade do título, a intenção da escola é falar sobre um encontro entre Pixinguinha e Louis Armstrong nos anos 60. A partir deste encontro, eles resolvem encaixar todos os ritmos possíveis na letra, incluindo aqueles que não têm nenhuma origem com nenhum dos dois artistas, como a country music e o rock. Destaque para o refrão “Pura Cadência de bambas juntou guitarra e pandeiro”. Eram dois caras que tocavam instrumentos de sopro, não tinha relação com guitarra e pandeiro e além de tudo a letra evocou a expressão “bambas”, sempre devidamente ridicularizada neste blog.
A beleza da mulher em cima de carros alegóricos encantou estes dois famosos artistas


4) São Clemente
Agora a coisa começa a ficar séria. Esta escola que não é conhecida por nenhum motivo específico, resolveu apelar para o enredo “Onisuáquimalipanse” que é uma expressão em francês, ou algo do tipo. O nome do enredo já é ridículo e ele pretende retratar a vida e obra do rei Luís XIV, o rei sol. A letra, narra a trajetória do monarca como se estivesse sendo escrita por uma criança de 12 anos que acabou de aprender sobre o tema no colégio. “Daí então o ministro do tesouro, ergueu a peso de ouro, um palacete e convidou o soberano que encantou-se nos jardins com a beleza se mirando nas águas do chafariz. Foi assim que descobriu nessa festança que havia comilança em sua pátria mãe gentil”, que merda, não.
Réplica do Palácio de Versalhes

5) União da Ilha
Se há uma escola que se empenhou em construir um samba nonsense, cheio de referências místicas e inteligíveis, essa escola é a União da Ilha do Governador. O enredo “Nzara Ndembu - Glória ao Senhor do Tempo”, fala sobre o orixá do tempo e criou a peça literária mais complexa concebida desde o último livro do James Joyce. O começo já é suficientemente épico “Dos bantos nzambi o criador, giram ampulhetas da magia. Salve rei kitembo, nzara ndembu em poesia”. Imagino a arquibancada cantando isso. Ou então, “Sagrada é a raiz nzumbarandá, Katendê, segredos preserva e avermelhou, kiamboté nos fez caminhar na luta entre o bem e o mal, forjou kiuá, senhores sagrados irão celebrar kukuana é fartura, natureza a festejar, ndandalunda a me banhar”. A única coisa que eu consigo pensar sobre isso é: caralho.

A letra ainda cita Nzazi, Kalunga e Matamba, até explodir no refrão que será cantando a plenos pulmões pelo público enlouquecido:
êh êh no girê, êh no girê
macurá dilê no girá
é o tempo de fé, união
o tambor da ilha a ecoar
Nzazi, Kalunga, Matamba, Katendê, Kiuá, Kukuana, Kiamboté, Ndandalunda, Nzara Ndembu e seus bluecaps

Inesquecível.

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