Retrospectiva 2016

Em um futuro distante, ou próximo, quando os estudantes de então abrirem seus livros de história, acredito que eles terão um capítulo inteiro dedicado ao ano de 2016. Os garotos vão ler aquilo perplexos e exigirão explicações dos seus professores: o que aconteceu em 2016? Que ano foi esse? Acuados, os professores tergiversarão e arrumarão alguma desculpa. No final, terão que apelar para o bordão imortalizado por Kátia, a Cega: não está sendo fácil. Este não foi um ano fácil.

Vamos começar pelo fato que une todos os anos: mortes. Como morreu gente em 2016, mas muita gente mesmo. Gente que achávamos que já havia morrido, ou que nunca iria morrer, ou que não esperávamos que fosse morrer. Carrie Fisher e sua mãe, Leonard Cohen, Geneton Moraes, Muhammad Ali, Carlos Alberto Torres, Johan Cruyff, George Martin, Umberto Eco, João Havelange, Prince, Dom Paulo Evaristo Arns, George Michael, Ferreira Gullar, Guilherme Karan, Fofão, o David Bowie. Faltou a morte de uma grande personalidade mundial? Não, morreu o Fidel Castro e, goste ou odeie, não discorde que é um dos principais atores da história recente da humanidade. Faltou uma morte trágica? Não, o Domingos Montagner morreu afogado no rio São Francisco. Morreu muita gente que parecia ser legal, cujas ausências serão sentidas no mundo.

A política brasileira consumiu nossas energias ao longo do ano inteiro. Tivemos o longo processo de impeachment da Dilma Rousseff, que acabou por aumentar ainda mais o ódio em nossa sociedade. Ao fim do espetáculo midiático, tivemos a possessão de Michel Temer e o começo de uma nova série de escândalos, envolvendo uma série de ministros, reformas estruturantes que vão ferrar com a vida de muita gente. Assistimos cenas patéticas no Congresso Nacional, com deputados e senadores votando projetos polêmicos na calada da noite, transformando um pacote anticorrupção em medidas pró-corrupção, guerras institucionais, o Eduardo Cunha que finalmente foi cassado e preso, o Renan Calheiros que, quando será? Dezenas de novas fases da Lava Jato e a onipresença de Sérgio Moro. É praticamente impossível lembrar todos os fatos políticos brasileiros deste 2016 e, quer saber? Nem faz bem lembrar, para não dar úlcera.
2016 foi exatamente isso: Dilma pintada por Romero Brito

Se a situação por aqui não foi fácil, não adianta pensar que o mundo passou por dias mais tranquilos. O Donald Trump foi eleito para a presidência dos Estados Unidos. Um maníaco bufão, sem caráter, demagogo, sociopata, insolente, enfim, um lixo de ser humano. Sua escolha foi um longo processo que, como toda boa tragédia anunciada, nos recusamos a acreditar no início e vamos negando a aceitação até o momento em que não há mais como voltar atrás. A postura de Trump desde a eleição é assustadora e a contagem regressiva para sua posse se parece uma espécie de Final Countdown.

Tivemos o Brexit, a prolongada crise dos refugiados, a situação trágica na síria, o terrorismo chegando em lugares que não imaginávamos, assassinatos filmados, enfim. Temos assistido a crescente marcha do retrocesso e da intolerância, marcha que vai ganhando peso e volume e que parece nos tragar para o fundo de um lamaçal, de onde nunca iremos escapar. Vamos lá, se depois desse ano você ainda for um otimista você merece ser tema de matéria no programa da Ana Maria Braga.

Talvez o único momento de tranquilidade para os brasileiros no ano tenha sido as Olimpíadas. Durante duas semanas pudemos ficar absortos nas histórias de superação, assistindo grandes atletas, grandes histórias e pensar que tudo poderia dar certo. Mas foram apenas duas das 52 semanas do ano. O que restou para essas 50 semanas restantes? O caos, exatamente isso.

Para encerrar o ano, quando talvez ainda procurássemos algo de positivo nele, o que aconteceu? O acidente de Chapecoense. Esta tragédia sob tantos aspectos possíveis de categorizar uma tragédia foi a pá de cal, foi a mão que esmagou aquela pontinha de esperança dentro de nós, foi aquele sopro para derrubar o castelo de cartas de nossas vidas. Não há quem não tenha ficado completamente arruinado emocionalmente com esse caso.

Diante deste cenário misericordioso, o que restou a sociedade? Buscar apoio neles, que traduzem os anseios de uma geração, oferecem conforto para as nossas angústias, apontam saídas, mesmo que sem querer: os youtubers. Certamente eles têm o que comemorar em 2016.

Por essas e outras que para mim a grande personalidade do ano de 2016 e Glória Pires. Também não sou capaz de opinar sobre ele.

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