No entanto, com o tempo aprendemos que mais difícil do que o exato momento em que a tragédia acontece, ou quando sabemos que ela aconteceu, o dia seguinte é o mais difícil de todos. Na hora dos acontecimentos a adrenalina sobe, tudo se embaralha e de certa forma seu cérebro é programado para que você se preserve e não se lembre em detalhes como é que tudo ocorreu.
No dia seguinte não. Depois de colocarmos a cabeça no travesseiro e passarmos uma noite em claro, rememorando tudo o que aconteceu, tentando achar explicações e culpados, eventualmente pegarmos no sono até a hora em que acordamos. Um momento confuso. Fixamos o teto, escutamos o silêncio e todos os barulhos possíveis. Atentos a todos os detalhes, talvez como uma prova de que ainda estamos vivos. Levantar da cama é o momento mais difícil. Para não ter que encarar que sua mulher te deixou, que seu cachorro morreu, seu time perdeu a final do campeonato ou que seu carro explodiu e você não tinha seguro. Poderíamos ficar na cama para sempre e esperar que o mundo se esquecesse da nossa existência. Não saberíamos de mais nada do mundo e nem ele de nós. Sem mais problemas.
The Day After é um desses muitos filmes situados em futuros distópicos, frutos da guerra fria. Lançado em 1983, a película narra o dia seguinte a deflagração do conflito nuclear entre EUA e URSS. O dia seguinte ao apocalipse, um tema perturbador para a população de então retratado em um filme cheio de explosões e efeitos especiais. Fez muito sucesso.
Estamos em 2016 e o mundo, ao que tudo indica, está longe de um conflito nuclear, com potência mundiais investindo cada vez mais na diplomacia. Há a ameaça do terrorismo, ditadores malucos espalhados em pequenos países, mas tudo parece estar na mais perfeita tranquilidade.
Ou não. Estamos no dia 09 de novembro de 2016, o dia seguinte a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América. O dia seguinte àquele em que foi confirmado que um cidadão com sérios distúrbios patológicos irá comandar a maior potência econômica e militar do mundo. Estamos naquele dia em que não queremos sair da cama, em que nosso cérebro se ocupa o tempo todo em tentar achar as causas e os culpados. Isso não devia ter acontecido, isso não podia acontecer. Mas aconteceu. Estamos naquele dia que cansamos de assistir nos filmes da ficção.
Amigos, o futuro distópico chegou.
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