Phelpslândia


A cada vez que Michael Phelps caia na piscina e conquista mais uma medalha, os veículos especializados na cobertura esportiva não encontravam palavras para contextualizar os tamanhos do seu feito. Se não mudar de ideia, Phelps encerrará sua carreira olímpica com 23 medalhas de ouro e esse número é muito superior a qualquer outro atleta olímpico em todos os tempos. Não dá para simplesmente comparar com ninguém e assim ele foi elevado a condição de unidade nacional: se Michael Phelps fosse um país, ele seria o 38º maior medalhista de todos os tempos.

Mas, a vida de Phelps não seria fácil caso ele resolvesse se transformar em um país. Ele precisaria montar todo um aparato burocrático para sustentar a Phelpslândia, além de definir fronteiras, estratégias de segurança nacional. Um enorme gasto de energia que dificultaria em muito sua tarefa primordial de nadar e ganhar medalhas.

Talvez Phelps conseguisse juntar um grupo de amigos e fazer com que eles se transformassem na sua guarda nacional, responsável por impedir que ele sofresse ataques e garantissem sua integridade nacional. Definir um idioma seria fácil, era só colocar o inglês. Mas não tão simples seria estabelecer uma moeda, instituir uma casa da moeda e uma instituição financeira para gerir a sua economia. Qual seria a taxa de juros da Phelpslândia?

Phelps ainda perderia muito tempo percorrendo órgãos diplomáticos internacionais para se reconhecer enquanto país, participaria de muitas reuniões intermináveis e inúteis e não conseguiria treinar o suficiente para ganhar todas as medalhas que ele ganhou.

Se Phelps resolvesse que seu país seria uma ditadura, ele teria que criar leis, executá-las e ainda julgar as pessoas, perdendo ainda mais tempo. Se optasse por um sistema democrático, teria que compor um Legislativo, convocar eleições para decidir quem iria administrá-lo. Fazer negociações políticas. Montar um sistema de previdência social, enfim. Não é fácil ser um país.

Por fim, haverá o dia em que Phelps morrerá. Será extremamente estranho que um país passe por uma necropsia, um velório, seja eventualmente cremado e a briga pelo seu espólio será ainda maior do que é de costume. Portanto, podemos concluir que países só podem dar errado.

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