Jornada de Trabalho

Na última semana, o presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), um cidadão chamado Robson Braga de Andrade, chamou a atenção com uma proposta para que o Brasil supere o momento de crise econômica: flexibilizar as leis trabalhistas e ampliar a jornada de trabalho dos brasileiros para até 80 horas semanais. A jornada máxima de trabalho diário seria de 12 horas.

Robsou citou como exemplo a França, cuja queda na produção industrial levou o país pelo mesmo caminho das 80 horas semanais¹. Se você fizer as contas, perceberá que trabalhando 12 horas por dia, conseguiria completar 72 horas de segunda a sábado e ainda sobraria oito horinhas para arrematar no domingo. Realmente um projeto brilhante, que contará com o apoio de toda a classe trabalhadora.

Difícil entender o que Robson pretende provocando essa discussão. Talvez, ele queira que os trabalhadores empregados valorizem a sua sorte em um momento em que o desemprego aumenta. Fique lá no seu trabalho, trabalhando em dobro para compensar o seu benéfico patrão que lhe concede essa oportunidade de trabalhar.

Voltando novamente as contas das 80 horas, até um tempo recente trabalhar de segunda a domingo com jornadas de 12 horas tinha outro nome: trabalho escravo. Não me surpreenderei se nos próximos dias alguém sugerir a volta dos castigos físicos como forma de estimular o trabalhador e aumentar a produção brasileira, fazendo a economia se reerguer.

Sendo que uma semana tem 168 horas, trabalhando 80 horas semanais e dormindo outras 56, o trabalhador ainda teria 32 horas semanais para aproveitar. Contando que ele gaste uma hora por dia com refeições e outra hora diária com necessidades fisiológicas, restariam 16 horas, das quais nas grandes cidades, 14 seriam gastas com deslocamentos no caótico trânsito brasileiro. Sobram pouco mais de 15 minutos diários para realizar tarefas domésticas, ou fazer compras e movimentar o mercado.

No final, as pessoas comprariam cada vez menos coisas por ter pouco tempo para isso e enfim, seria o início da recessão.

O que fazer nessa situação? Para superar a crise as empresas passariam a ter que distribuir sua produção e em breve todos trabalhariam de graça, num sistema conhecido como comunismo. Ou então, poderiam voltar a praticar o bom e velho escambo, que funcionou muito bem na época da idade média.

Sempre soube que esses caras da indústria eram comunistas.

¹Mais tarde, Robson negou ter defendido a mudança na legislação. Ele afirmou que na verdade o que ele disse é que o Brasil precisa abrir sua mente para as mudanças e citou o exemplo francês² de maneira completamente aleatória, sem defender essa ideia.
²Não menos tarde, jornalistas atentos perceberam que Robson citou o exemplo francês de maneira equivocada. Na verdade, o país do Zidane apenas autorizou que as jornadas pudessem alcançar 60 horas, não 80 horas, em casos específicos e previamente autorizados pelo Ministério do Trabalho.

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