Questões sobre o aniversário

Se há um evento frequente em nossas vidas sociais, este evento é o aniversário de alguém. Presenciamos uma gravidez repentina, alguns casamentos e formaturas, um velório aqui e ali, mas aniversários nãos. Eles se repetem todos os anos e ocorrem quase todos os dias. O Facebook está aí para nos lembrar disso, quando nos manda notificações diárias de que alguém que você nem se importa tem um ano a mais de vida.

Assim sendo, deveríamos estar completamente habituados ao processo de parabenizar alguém. Chegar em alguém e desejar sinceros e profundos parabéns por mais essa etapa percorrida, mais essa vitória contra todos os prognósticos de uma morte precoce. No entanto, isso não acontece. Falhamos. Sempre.

O primeiro problema é saber quem parabenizar. Em um mundo perfeito, poderíamos parabenizar impunemente qualquer pessoa no momento em que nós quiséssemos e a justificativa seria ainda mais plausível no caso do aniversário de alguém. Mas as coisas não funcionam assim. Somos mesquinhos, praticantes dos sete pecados capitais e julgamos silenciosamente as pessoas. Escolhemos friamente aquelas que devemos parabenizar.

Fulana não, porque ela é uma destruidora de lares. Esse cara é um babaca desagregador no trabalho. Esse daí eu posso dizer que achava que ia acabar encontrando com ele no trabalho e, portanto não preciso escrever nada no Facebook. Não vejo desde que me formei no colégio. Só acompanho virtualmente desde a formatura na faculdade e naquela época eu já não gostava dele. Vou pensar mais um pouco se merece e antes de perceber o dia já acabou.

Existem as pessoas óbvias como os parentes, amigos próximos e pessoas que você invariavelmente vai encontrar ao longo do dia, não há o que fazer para escapar. Só que essas pessoas deveriam receber um cumprimento real, não? Pelo menos um telefonema? Às vezes até trabalhamos com essa perspectiva, mas antes de percebamos, o dia, novamente ele, já acabou e aí? Vai ligar no dia seguinte pedindo desculpas pelo atraso?

Mas há, sempre elas, as pessoas que vivem no meio termo das nossas relações pessoais. Aquele colega com quem você tinha boa relação no Ensino Médio, mas que o tempo acabou afastando. Seu amigo de infância, que você realmente gostaria que você feliz apesar da depressão pela sexualidade reprimida, mas que enfim, hoje mora em Cataguases e você tem certeza que ele nem lembra mais de você. O que fazer nesses casos?

Geralmente, optamos pelo silêncio, porque imaginamos que a pessoa não vai perceber nossa ausência. Mas, e se ela ficar fortemente magoada porque esperava pela nossa lembrança? Ou se escrevermos e a pessoa pensar que somos falsos que só se lembram dela quando faz aniversário, mas que nos outros 364 (por vezes 365) dias do ano o ignoram?

Você pode desejar um aniversário realmente feliz para uma pessoa, confessar que a considera um exemplo de vida e que ela está presente todos os dias em suas orações e a pessoa nem se lembrar quem você é. Por outro lado, um seco parabéns pode ser uma amarga decepção para alguém que te considerava a única razão para não cometer suicídio de maneira dramática.

Nunca saberemos como parabenizar uma pessoa, da mesma forma que nunca saberemos o que fazer quando as pessoas cantam parabéns para você, ou mesmo te parabenizam no dia a dia. Isso é uma merda.

Na última etapa da problematização aniversariante há as pessoas que não gostam de ser parabenizadas. Comunistas, ateus, cavaleiros templários ou membros de outras seitas que não vem sentido em comemorar mais uma passagem de ano desde o dia em que você nasceu. Essas são as piores pessoas do mundo. Você deseja um parabéns, ela responde com um discurso político de 43 minutos e você ainda sai pedindo desculpas.

Na dúvida, só parabenize a pessoa quando você a encontrar pessoalmente e ela fique te olhando na expectativa de receber os cumprimentos.

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