Comissão do Impeachment

Não sei se todos os cidadãos brasileiros já tiveram a oportunidade de assistir a uma sessão do plenário do parlamento nacional em algum dia de suas vidas. Sei que não parece ser um dos programas mais atrativos, mas esta é uma experiência pela qual qualquer ser vivo deveria passar. Assistir as sessões deliberativas, ordens dos dias, reuniões de comissões ou quaisquer outros encontros com nomes diferentes é um mergulho antropológico nas razões que tornam o Brasil o que ele é.

Imagine um grupo de 500 e poucos loucos discutindo assuntos dos quais eles não tem a menor ideia do que se trata, mas sem humildade suficiente para assumir sua ignorância. Muitas brigas, discussões, falas absurdas, abruptamente interrompidas por um cidadão que começa a falar sobre um assunto completamente aleatório. O Legislativo brasileiro é uma reprodução exacerbada do Big Brother Brasil, com uma diferença: aquilo que eles estão fazendo lá vai impactar a sua vida. Muito provavelmente para pior.

Recentemente com o popular processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, muitos brasileiros terão a primeira oportunidade de acompanhar esse bando de loucos em ação. Certo que o fato de o tema ser bem importante e restrito tira muito da graça das imprevisibilidades que acometem as sessões do Parlamento. Vai ser difícil que, depois de um deputado fazer um discurso acalorado que praticamente convoca a população a pegar em armas para combater alguma coisa, outro parlamentar entre em cena e comece a falar da gentileza do povo de Canabrava do Norte que está comemorando aniversário e pedir uma moção de aplausos para a cidade, seguido por um relato de sua última viagem aos confins da Amazônia para conferir a situação da população do vilarejo de Brejo da Cruz.

Mesmo assim, não deixe de tentar assistir este espetáculo pelo menos uma vez. Esses dias, os nobres deputados discutiam o processo de impeachment e o parecer do relator. Mais de 100 deputados pediram a palavra em uma discussão que durou mais de 12 horas, tempo no qual muitas pessoas - incluindo participantes da comissão - dormiram. Foi um grande acúmulo de merda, suficiente para entupir todo o sistema Cantareira. Basicamente ninguém comentava as porras das pedaladas fiscais, se elas significam crime de responsabilidade que é o que, afinal, motiva o pedido do encerramento do mandato da Dilma.

Em um momento, um deputado convidou outro a se converter e encontrar Jesus Cristo, que é a única salvação para o momento em que o Brasil vive. Conforme eu já disse aqui em outro post, acho que Jesus está em dívida com o povo brasileiro, já que temos muitos dizimistas e o que eles nos dá em troca é Eduardo Cunha. Outro deputado ainda comparou os anti-impeachment a Judas e disse que, tal qual o traidor do Senhor, eles irão se suicidar porque não aguentarão o peso da traição contra o povo brasileiro.

Meu momento favorito, no entanto, foi quando uma deputada de Rondônia pediu a palavra para ler um poema. Ela era a favor do impeachment e usou seu precioso tema para ler um poema bem ruim, desses que as pessoas publicam no Facebook sobre fotos de crepúsculos e atribuem sua autoria a coitada da Clarice Lispector. Fiquei sentado em frente a TV, paralisado, admirando o surrealismo da classe política brasileira. Magnetizado pela mediocridade.

Não sei se alguém irá superar esse momento nos próximos dias. Eu torço, sinceramente, para que sim. Espero que algum deputado leia uma receita de miojo e diga que o macarrão é o Governo do PT e a água quente é o povo brasileiro, que vai desmanchar esse governo artificial, enquanto que a oposição é o tempero sabor galinha caipira, responsável por tentar salvar essa porcaria. Certamente alguém vai cantar o hino nacional. Talvez alguém puxe o seu órgão genital para fora e o compare de maneira abstrata a praça dos três poderes que no caso seriam seu pênis e seus dois testículos. Vai rolar bundalelê? Teremos uma grande festa no apê do Latino?

Espero que sim. Espero que os deputados nos entreguem o que eles prometem.

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