Os reflexos da crise econômica

Os acontecimentos registrados na última sexta-feira no Brasil são a prova cabal de que atravessamos uma grande crise. Não uma crise política, ou uma crise institucional, crise de democracia ou o que quer que possa ter sido provocada pela condução coercitiva de um ex-presidente da república. Falo mesmo é da crise financeira que há tempos dizem que se abate sobre o Brasil. Na última sexta-feira pudemos conferir a materialização desse momento ruim.

Milhares de pessoas foram às ruas em várias das cidades brasileiras para se manifestar sobre a enésima fase da Operação Lava Jato. Era manhã ainda e a televisão já mostrava centenas de pessoas em frente da casa do Lula. Outras tantas no aeroporto onde ele prestava depoimento. Olhei no relógio e conferi que em São Paulo já era mais de nove horas. Horário em que as pessoas já deveriam estar trabalhando.

Não há outra explicação que não seja o desemprego para que pessoas saiam de casa para se manifestar contra ou a favor de um cara que está depondo para a Polícia Federal em um aeroporto. Entendo que as pessoas saiam de casa para se manifestar, entrar em conflito físico ou até mesmo pegar em armas para defender seu lado em um momento crucial para o país. Não é o caso da condução coercitiva do Lula.

Pense em você, cidadão que tem a sorte de ter um emprego fixo. Você conseguiria justificar para o seu chefe que não foi trabalhar de manhã porque estava no aeroporto ostentando faixas pedindo a prisão seguida de esquartejamento de uma pessoa? Ou que você estava lá gritando que o cidadão é um guerreiro, orgulho do povo brasileiro? Certamente não, o chefe só teria a opção de te mandar embora e te substituir por uma pessoa responsável que não deixe de cumprir suas obrigações empregatícias para ficar gritando palavras de ordem na frente da casa de uma pessoa.

Entenda que não há aqui justificativa ou defesa, de dizer que opositores ou apoiadores possam estar mais corretos em sua posição. Ninguém está certo. Os oposicionistas diriam que quem apoia o ex-presidente o faz porque é um vagabundo que sobrevive do bolsa-esmola, bancado pelos cidadãos de bem que trabalham. Mas o que esses cidadãos de bem estariam fazendo lá, clamando pela prisão imediata do Lula? Seria uma vingança, uma decisão por não mais trabalhar e desta forma não mais bancar as pessoas que vivem as custas do governo?

A televisão mostrava pessoas de terno e gravata com os braços estendidos e gritando alguma coisa. Provavelmente apenas uma fantasia que a pessoa usa para cumprir algum papel social. Apenas pessoas obrigadas pelo trabalho utilizam terno e gravata e pessoas que trabalham, certamente não estão no meio da tarde num lugar tão distante quanto São Bernardo para xingar ou elogiar alguém.

A crise pegou. Em breve, seremos todos zumbis vagando pelas ruas em horário comercial para apedrejar as pessoas.

Comentários